Duas coisas marcam fortemente a vida destes irmãos gêmeos, santos do século III: Eram médicos e atendiam aos pobres gratuitamente, cumprindo a ordem de Jesus: O que de graça recebestes, de graça daí (Mt 10,8). Juntamente com São Lucas, eles são os padroeiros de todos os médicos. Nasceram na Arábia e além de atenderem aos pobres, faziam questão de anunciar Jesus Cristo aos seus pacientes. Eles sempre repetiam: “Nós curamos as doenças em nome de Jesus Cristo e pelo seu poder”.
Com este gesto singelo acabaram se tornando muito queridos pelo povo. Vemos aqui que é possível ser santo em sua própria profissão. Imagino como não seriam os santos padeiros, mecânicos e dentistas de nossos dias. A santidade de um leigo e de uma leiga passa pelo seu trabalho.
Mas nem todos estavam contentes com a atitude dos irmãos médicos. Conta-se que Lísias, o governador do local, advertiu-os que deveriam parar de pregar o Evangelho. Como eles continuaram a fazê-lo, ordenou que fossem jogados no mar. Mas eles acabaram se salvando milagrosamente. O governador não se deu por vencido. Mandou queimá-los vivos. Novamente o milagre: as chamas queimavam os algozes e não queimavam os médicos santos. Tentaram apedrejá-los, mas as pedras voltavam para trás. Talvez essas sejam histórias que o povo conta. Mas o certo é que, finalmente, o governador mandou que fossem decapitados. Assim eles se tornaram mártires e santos pela causa do Evangelho.
Porém, nem a morte pode calar o poder da fé. Junto à sepultura dos médicos Cosme e Damião começaram a acontecer uma série de curas de muitas doenças. Até mesmo Justiniano, o então Imperador de Constantinopla, gravemente enfermo, pediu a intercessão dos santos e foi curado. Com isso, mandou erguer duas grandes igrejas em honra deles.
Em Roma também foi construída uma Basílica em sua homenagem, por ordem do Papa Felix IV (526-530). Várias vezes, tive a oportunidade de rezar neste lugar, que fica exatamente no local onde era um Pantheon romano dedicado a deuses pagãos. É uma igreja pequena, mas muito bonita e com um dos mosaicos mais lindos que já vi em toda a minha vida. Fica no Forum romano.
A memória dos santos médicos sempre foi misturada com um pouco de fantasia e superstição. Já no século V eram santos famosos e populares. Alguns chegam a afirmar que eles de fato não existiram e que seriam uma versão cristã para a lenda grega dos filhos de Zeus: Castor e Pólux. No Brasil, já em 1535, tínhamos uma igreja dedicada a estes santos em Igarassu, Pernambuco. O Candomblé os assumiu associando-os aos ibejis, que são divindades amigas das crianças de acordo com eles.
Mesmo que Cosme e Damião sejam utilizados na Umbanda e no Candomblé, a origem deles é católica. Devemos seguir seu exemplo e abrir nosso coração para os pobres. Foi assim que eles alcançaram a santidade. Pense em sua profissão, seu salário, tudo você recebeu de Deus. Quanto você reparte com algum irmão que passa necessidade? Não espere o pobre bater à sua porta. Vá em busca dele. E não leve apenas uma cesta básica. Leve também Jesus e a sua Palavra Viva. Que São Cosme e São Damião inspirem a nossa solidariedade!