Comecei a ler um livro muito interessante, de um novo teólogo brasileiro, cujo nome, por enquanto, não quero declinar (pois ainda não terminei de ler a nova produção teológica). Fiquei satisfeito em ver sua erudição, sua fé firme, sua reta intenção. Tenho certeza de que vai trazer benefícios para o crescimento da Igreja no Brasil. Ainda mais nesses novos tempos, que o Documento de Aparecida vai abrir, visando uma melhor adesão dos católicos à pessoa de Cristo. “O bom escriba é aquele que tira de seu tesouro coisas novas e velhas” (Mt 13, 52). Pretendo ler a fundo os seus arrazoados, com os quais, seguramente, o meu arcabouço teológico vai evoluir.
Mas quero partilhar um pequeno susto, quando o aludido autor, contrariando toda a tradição católica, chamou, enigmaticamente, os maiores desvios teológicos das grandes denominações cristãs, apenas de “heresias”. Isto é, emprestando aspas a essa palavra consagrada, insinua que são nuances de expressão apenas verbal, sem significado de conteúdo. Sabemos que muitas diferenças teológicas entre católicos e evangélicos são substanciais, e que tais dissonâncias estão bem distantes ainda de uma harmonia. Isso provocará durante muitos anos (séculos?) muitos sofrimentos para ambos os lados. Um sadio ecumenismo não pode fugir da verdade. Jesus mesmo avisou que “a verdade vos libertará” (Jo 8, 32).
No entanto, o que mais suscitou dúvidas em mim, foi o comentário subjacente e tranqüilo, sobre o diálogo, tão recomendado pelo Concílio Vaticano II, entre o mundo moderno e a Igreja. De fato, nós temos muito a aprender da modernidade sobre direitos humanos, sobre democracia, liberdade religiosa… Mas eu não vejo essa mesma abertura de mente, por parte dos próceres da civilização contemporânea, a respeito de verdades irrenunciáveis da Igreja. Tenho visto muita gente comentando tais assuntos com extrema agressividade. Ou, o que é pior, fechando-se para qualquer diálogo, ou para a mais mínima troca de idéias (como está acontecendo na Europa).
Nós temos propostas sobre família, vida, sexualidade, sentido da existência, divindade e escatologia, para as quais a modernidade não possui boas luzes. Pois bem, o pressuposto (não explícito) do meu autor, está dizendo que o mundo sempre tem razão. O que nos resta como Igreja, é correr atrás do nosso atraso, e nos ajustarmos a toda a mentalidade moderna. Sob pena de sermos varridos da história. Neste sentido o evangelho não teria nada a ensinar. Com isso não concorda São Paulo: “Não vos conformeis com este mundo” (Rom 12, 2).