Virtude

Quem vive a caridade aproxima-se do eterno

A Palavra de Deus usa as palavras caridade e amor com o mesmo sentido. São João diz: “Deus é amor”. Do latim, “Deus caritas est” (1 João 4,8). Se Deus é caridade, então, não há nada mais importante do que ela.

Quando São Paulo explica a profundidade do que seja a caridade, ele nos oferece uma visão ampla do seu sentido. Todo o capítulo 13 de sua primeira Carta é para explicar o seu vasto significado: o Apóstolo revela que nada tem sentido, nem as boas obras, se não houver a caridade:

“Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver caridade, sou como o bronze que soa, ou como o címbalo que retine. Mesmo que eu tivesse o dom da profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência; mesmo que tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas, se não tiver caridade, não sou nada. Ainda que distribuísse todos os meus bens em sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, se não tiver caridade, de nada valeria!” (1 Cor 13,1-3).

Quem vive a caridade aproxima-se do eterno

Créditos: Foto reprodução/ cancaonova.com

A caridade é a essência da santidade

Vemos assim que o conceito de caridade é muito mais amplo do que apenas dar esmolas, empregar os dons carismáticos ou fazer filantropia. A caridade, o amor, envolvem toda a vida da pessoa, seu comportamento em relação aos outros e as virtudes mais importantes como São Paulo explica:

“A caridade é paciente, a caridade é bondosa. Não tem inveja. A caridade não é orgulhosa. Não é arrogante. Nem escandalosa. Não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se rejubila com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (1 Cor 13,4-7).

Podemos dizer que a caridade é a essência da santidade, já que Deus é Santo, e é Amor. É o grande fruto do Espírito Santo: “O fruto do Espírito é caridade, alegria, paz, paciência, afabilidade, bondade, fidelidade” (Gal 5,22). “Pela prática sincera da caridade, cresçamos em todos os sentidos, naquele que é a cabeça, Cristo” (Ef 4,15).

São Paulo deixa claro que o amor é a única virtude que permanecerá na eternidade:

“A caridade jamais acabará. As profecias desaparecerão, o dom das línguas cessará, o dom da ciência findará. A nossa ciência é parcial, a nossa profecia é imperfeita. Quando chegar o que é perfeito, o imperfeito desaparecerá… Por ora, subsistem a fé, a esperança e a caridade – as três. Porém, a maior delas é a caridade” (1 Cor 13,8-13).

Portanto, quem a vive se aproxima do eterno, daquilo que jamais acabará.

Como aplicar na vida cristã

Para a vida cristã, a caridade perfeita é “amar a Deus sobre todas as coisas e amar o próximo como a nós mesmos”. A caridade para com os outros é consequência do amor a Deus. É por amor a Deus, nosso Bem absoluto, nosso Criador e Redentor, que somos caridosos com os outros. O livro dos provérbios diz: “Quem se apieda do pobre, empresta ao Senhor, que lhe restituirá o benefício” (Prov. 19,17). Jesus se identifica com a pessoa que precisa de nossa caridade; sejam pelas obras de misericórdia material ou espiritual.

“Em verdade eu vos declaro: todas as vezes que fizestes isso a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a Mim mesmo que o fizestes” (Mt 25,40).

Quando São Paulo perseguia os cristãos, Jesus não lhe perguntou o porquê dele os perseguir, e sim o porquê de O perseguir: “Saulo, Saulo, por que me persegues?” (At 9,4). É o próprio Jesus que está preso, doente, nu, faminto, desabrigado, deprimido, angustiado, sofrendo como ovelha sem pastor… Esperando a nossa caridade. É isso que diferencia a caridade da filantropia, que pode ser praticada mesmo por quem é ateu.

Bens materiais

Não podemos deixar de dizer que a Bíblia enfatiza a caridade material. São muitas as citações:

“Dá esmola de teus bens, e não te desvies de nenhum pobre, pois, assim fazendo, Deus tampouco se desviará de ti” (Tob 6,8).

“A esmola será para todos os que a praticam um motivo de grande confiança diante do Deus altíssimo” (Tob 4,12).

“Encerra a esmola no coração do pobre, e ela rogará por ti a fim de te preservar de todo mal. Para combater o teu inimigo, ela será uma arma mais poderosa do que o escudo e a lança de um homem valente” (Eclo 29,15-16). O mais importante para Deus, é dar com alegria, não só para o pobre, mas para Deus.

“Dê cada um conforme o impulso do seu coração sem tristeza, nem constrangimento. Deus ama a quem dá com alegria” (2 Cor 9,7). E todo o bem que se faz, Jesus ensina que seja feito sem propaganda, para não se perder a “recompensa do Pai”.

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Benefício para a alma

“Quando, pois, dás esmolas, não toques a trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas… Já receberam a sua recompensa” (Mt 6,2-4).

São Leão Magno (400-461) valorizava muito a esmola: “A mão do pobre é o banco de Deus. Deposita no céu o seu tesouro quem alimenta o Cristo no pobre. Elas apagam qualquer culpa contraída nesta morada terrena, já que a “caridade encobre uma multidão de pecados” (1 Pe 4,8). Sem dúvida, beneficiamos a nossa própria alma cada vez que socorremos por misericórdia a indigência alheia.

Compadecem-se dos pobres os que pretendem ser poupados por Cristo. Não duvidemos ser dado a Deus aquilo que se gasta com o indigente. Nada é mais proveitoso do que unir aos jejuns razoáveis e santos as obras caritativas”.

Santo Agostinho disse: “Se dás a esmola com tristeza, a esmola e o amor perdes. O que fizeres ao mendigo, isso Deus fará contigo”.

As nossas esmolas também sufragam as almas do purgatório. São João Crisóstomo, doutor da Igreja (†406), disse: “Oh! Se soubéssemos o bem que aos nossos mortos fazem a esmola que damos ao mendigo e a oração que a este pedimos!”.

É uma forma de dar glória a Deus

São Paulo recomenda: “Tudo o que fazeis, fazei-o na caridade” (1 Cor 16,14), para que se tenha mérito diante de Deus. E a caridade é uma forma de dar glória e graças a Deus:

“Realmente, o serviço desta obra de caridade não só provê as necessidades dos irmãos, mas é também uma abundante fonte de ações de graças a Deus” (1 Cor 9,12).

Um aspecto muito importante da caridade é “suportar” os erros e defeitos dos outros. “Fazei-vos servos uns dos outros pela caridade” (Gal 5,13).

“Com toda a humildade e amabilidade, com grandeza de alma, suportando-vos mutuamente com caridade” (Ef 4,2).

Cristo é o modelo da caridade: “Progredi na caridade, segundo o exemplo de Cristo, que nos amou e por nós se entregou a Deus como oferenda e sacrifício de agradável odor” (Ef 5,2).

Por tudo isso, a Igreja é a Instituição que mais caridade fez e faz em todos os tempos. O “Anuário Estatístico da Igreja”, publicado pela Agência Fides, afirma que a Igreja administra 115.352 Institutos sanitários, de assistência e beneficência em todo o mundo.

“A caridade encobre uma multidão de pecados” (1 Pe 4,8).

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Felipe Aquino

Professor Felipe Aquino é viuvo, pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova. Página do professor: www.cleofas.com.br e Twitter: @pfelipeaquino