O livro do Cântico dos Cânticos tem uma descrição muito bonita que um jovem faz de uma moça.
“Tu és bela, minha querida, tu és formosa!
Por detrás do teu véu os teus olhos são como pombas, teus cabelos são como um rebanho de cabras descendo impetuosas pela montanha de Galaad.” ( Ct 4,1 )
Nosso Deus é um Deus enamorado, representado naquele jovem, que ama uma “moça”: a nossa humanidade.
O autor descreve os olhos e os cabelos. Os olhos, sem dúvida, evocam aquilo que temos de mais íntimo: nossa alma. Por isso, dizemos que os olhos são a “janela da alma”, através dos quais podemos conhecer as virtudes neles existentes.
Ele ama também os cabelos: nossa humanidade! Deus não fica maravilhado somente com o olhar, com as virtudes que possuímos, mas se maravilha também com os cabelos, com aquilo de mais comum que eu e você temos. Isso significa que Ele não se apaixona somente pelos grandes santos, mas ama gente como a gente, pessoas imperfeitas e necessitadas como nós.
Deus ama muito nossas virtudes, mas se interessa de modo especial pela nossa “dimensão humana”, isto é, cada ato paciente que sofremos, as lutas do nosso cotidiano, dores físicas, emocionais e psíquicas, renúncias que fazemos para que outros possam ser felizes, humilhações, fracassos, perdas… tudo isso interessa muito a Deus, pois podem significar riquezas espirituais que nos fazem crescer.
Obtive esta descoberta a partir de uma forte experiência com Deus.
Eu morava em Queluz em nossa casa de missão, e num dia, após um retiro da Comunidade Canção Nova, um amigo, Roberto Tannus, rezou por mim. Enquanto ele rezava por mim, trazia algo que Deus colocava no seu coração. Ele me dizia: Simoni, Jesus gosta muito dos seus cabelos! Confesso que fiquei constrangida, sem saber o que dizer e sem entender muito bem aquela palavra de ciência. Pensava comigo: “existem tantas coisas que Jesus poderia gostar mais que meus cabelos…!”.
Aos poucos, ao meditar o livro dos Cânticos dos Cânticos, fui entendendo o efeito daquelas palavras, ditas durante aquela oração, na minha vida. Deus ama minha humanidade! Ele se admira dos meus cabelos, que é tudo aquilo que de mais comum existe em mim, se enamora da minha pobreza, de tudo o que é ordinário em mim!
Quanta cura experimentei com esta palavra!
Sei que as minhas ações imperfeitas não são desprezadas por Deus, ao contrário, são possibilidades de se tornarem virtudes da minha alma.