Uma Igreja Apostólica
No artigo anterior, tratamos a dimensão ou o atributo “católica” da nossa Igreja. Vimos que esse termo significa “universal” e possui dois sentidos a saber: “segundo a totalidade” e “segundo a integralidade”. Isso quer dizer, dentre outras coisas, que ela existe para todos nós e possui todos os meios necessários para a nossa santificação. Ela é a única Igreja que possui todos os sacramentos válidos e lícitos. Neste artigo, abordaremos a dimensão Apostólica da nossa Igreja Católica.
Segundo o padre espanhol Salvador Pié-Ninot, na página 86 de sua obra “Introdução à eclesiologia”, a apostolicidade da Igreja tem suas raízes no Novo Testamento e foi elaborada, primeiramente, por Santo Ireneu ainda no século II. Período marcado por perseguições aos cristãos e surgimento das primeiras heresias.
A nossa responsabilidade na perpetuação da obra fundada por Cristo
Essa dimensão está intimamente ligada à missão dos primeiros apóstolos, aqueles homens a quem Jesus escolheu, chamou, instruiu e enviou para que pregassem o Evangelho. Portanto, a Igreja é apostólica, porque foi fundada sobre os apóstolos, ou seja, ela se fundamenta na fé, no testemunho e no ensino desses apóstolos. A palavra apóstolo quer dizer “enviado”.
Pode parecer óbvio, mas, uma vez que a Igreja já foi fundada por Jesus sobre os apóstolos, nós, que seguimos essa doutrina, não precisamos fundar ou refundar mais nada. Não seremos nós que fundaremos a nossa Igreja própria, visto que a Igreja de Cristo já foi fundada e permanece viva e forte até os dias de hoje. A nossa missão, portanto, é a dar continuidade a esta obra fundada por Jesus. Nós podemos e devemos dar a nossa contribuição, pois ela é muito importante.
A esse respeito, o Catecismo da Igreja Católica, a partir do número 898, afirma que todos nós devemos ter uma clara consciência de que não apenas pertencemos à Igreja, mas somos Igreja. Uma vez que somos Igreja, somos encarregados por Deus do apostolado em virtude do Batismo e da Confirmação. Podemos e devemos “trabalhar para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e recebida por todos os homens e por toda a terra”. “Somos o povo de Deus, membros deste corpo, que é a Igreja, cuja cabeça é Nosso Senhor Jesus Cristo.”
Que sentido existe ao dizer que a Igreja foi fundada sobre os apóstolos?
A Tradição da Igreja nos ensina que, embora Pedro tenha sido escolhido por Jesus para ser o primeiro Papa, ele não estava sozinho. Jesus havia escolhido outros homens para exercer sua missão apostólica e a transmissão do Evangelho. Dizer que a Igreja foi fundada sobre os apóstolos comporta um tríplice sentido, conforme nos apresenta o parágrafo 857 do Catecismo da Igreja Católica:
Primeiro: “foi e continua a ser construída sobre o ‘alicerce dos apóstolos’, que são testemunhas escolhidas e enviadas em missão pelo próprio Cristo”; segundo: “continua a ser ensinada, santificada e dirigida pelos apóstolos até ao regresso de Cristo, graças àqueles que lhes sucedem no ofício pastoral: o colégio dos bispos”; terceiro: guarda e transmite, com a ajuda do Espírito Santo que nela habita, a doutrina, o bom depósito, as sãs palavras recebidas dos apóstolos.
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Afinal, quem são esses apóstolos nos dias de hoje?
Sabemos que Pedro, o primeiro Papa, e todos os outros apóstolos morreram. Surge, então, a seguinte pergunta: Se todos eles morreram, quem são esses apóstolos atuais de que fala o Catecismo da Igreja Católica? Ele mesmo responde no parágrafo 861. Para que a missão que lhes fora confiada pudesse ser continuada depois da sua morte, os apóstolos, como que por testamento, deram este encargo a seus cooperadores imediatos para concluírem a tarefa por eles começada. Assim, instituíram homens íntegros e tudo dispuseram para que, após a sua morte, pudessem tomar conta do seu ministério.
Esses homens íntegros e provados são os nossos bispos, portanto, são eles os sucessores dos apóstolos. A Igreja é apostólica, na medida em que permanece em comunhão de fé e de vida com os sucessores de Pedro e dos apóstolos. Portanto, é dever dos bispos, os sucessores dos apóstolos e alicerces da Igreja, seguir os passos de Cristo e pregar a Palavra de Deus, para que ela se difunda e ilumine todos os povos, a fim de que seja instaurado por toda a terra o Reino de Deus. Para completar, o que a Igreja chama de Sagrada Tradição é tudo aquilo que ela recebeu dos apóstolos, e que a eles foi confiado diretamente pelo próprio Jesus Cristo.
Por que a Igreja é chamada de Romana?
É importante dizer que o atributo “Romana” não faz parte da identidade da Igreja, embora possua um importante significado histórico.
O nosso querido professor de história da Igreja Felipe Aquino nos ensina que o Império Romano foi o maior Império que a humanidade já conheceu. Nunca houve outro império que dominasse todo o mundo. Ele tomou toda a volta do Mar Mediterrâneo, que hoje é circundado por muitos países. Tamanha foi a dominação por parte dos romanos, que eles o chamavam de “Mare Nostrum”. Para se ter uma ideia, os navios precisavam ter o alvará do porto romano para navegar no Mediterrâneo.
Roma dominou tudo, desde Portugal, Espanha, França, Itália, Alemanha Ocidental, Grécia, Macedônia, Turquia, Síria, Líbano, Palestina, Egito, Cartago e todo o Norte da África. Quem não era cidadão romano era chamado de “bárbaro”. No entanto, esse maior Império que o mundo conheceu não conseguiu destruir o Cristianismo, e acabou se tornando cristão.
Por volta do ano 311, o imperador Constantino o Grande se converteu ao cristianismo, e, pelo Decreto de Milão, proibiu a perseguição aos cristãos. Mais tarde, em 385, Teodósio o Grande, pelo Decreto de Tessalônica, oficializou o cristianismo como a religião do Império. Cristo e os cristãos finalmente venceram o grande Império, cuja capital era Roma. Assim, a Igreja estabeleceu sua sede em Roma. O professor Felipe Aquino nos lembra que, no mesmo jardim onde Nero martirizava os cristãos, incendiando-os com piche para iluminar o ambiente, Cristo colocou a sua Sede, a Santa Sé, o Vaticano; exatamente sobre o túmulo de São Pedro. Este é um grande sinal para o mundo de que a Igreja é invencível. Nem mesmo o mais poderoso Império de que a história teve notícia conseguiu eliminar o cristianismo.
Assim, nós concluímos esta série de artigos sobre os atributos de nossa amada Igreja Católica. Não deixe de conhecer sua Tradição, sua Doutrina, seu Magistério, seus ensinamentos. Esse é o nosso papel enquanto membros desta linda e valorosa Igreja, que é Uma, Santa, Católica e Apostólica, cuja sede se encontra em Roma.
(O conteúdo deste último subtítulo é uma síntese de um artigo escrito pelo professor Felipe Aquino, intitulado “Por que a igreja católica é chamada romana?”. O artigo pode ser lido na íntegra pelo site da Editora Cleofas).
Deus abençoe você, e até a próxima!