O livro da vida, escrito por Deus com mente, coração e mãos de artista, é a história do bem que o Senhor quer para todos
Deus quer o bem de todos. Fomos feitos à Sua imagem e semelhança com o precioso dom da liberdade, assim como o bem da comunhão, já que a humanidade pode experimentar o mesmo relacionamento existente na vida da Santíssima Trindade – Pai e Filho e Espírito Santo –, quando o amor recíproco circula entre as pessoas. Fomos todos feitos para a felicidade e a plena realização, não para a tristeza ou o pecado! “Deus não fez a morte nem se alegra com a perdição dos vivos. Ele criou todas as coisas para existirem, e as criaturas do orbe terrestre são saudáveis: nelas não há nenhum veneno mortal, e não é o mundo dos mortos que reina sobre a terra, pois a justiça é imortal. Mas os ímpios chamam a morte com gestos e palavras: considerando-a amiga, perderam-se e fizeram aliança com ela: de fato, são dignos de pertencer ao seu partido” (Sb 1,13-16).
O livro da vida, escrito por Deus com mente, coração e mãos de artista, é a história do bem que o Senhor quer para todos. E o livro da Escritura, Palavra de Deus que ilumina a existência humana, é caminho de felicidade e realização, pois “a lei do Senhor é perfeita, conforto para a alma; o testemunho do Senhor é verdadeiro, torna sábios os pequenos. As ordens do Senhor são justas, alegram o coração; os mandamentos do Senhor são retos, iluminam os olhos” (Sl 18, 8-9). Todas as palavras da Bíblia são portadoras de vida, geram vida e realizam as pessoas.
Quando Jesus conta as parábolas, palavras de Deus e palavras da vida, revela-se o Deus verdadeiro, que entende de humanidade, e o homem verdadeiro, com apurada sensibilidade para as realidades e os sentimentos humanos. Casamento, plantas, sal, luz, dinheiro, terras, administração, herança, peixes, ovelhas e tantas outras realidades humanas entram na lista dos assuntos de Jesus. São luzes acesas para entender a vida e viver a Palavra.
Uma das mais preciosas parábolas é a do semeador (Mt 13,1-23), inclusive explicada pelo próprio Senhor. Dá para ver que os discípulos de Jesus e o ministério do Senhor passaram por dificuldades no anúncio da Boa Nova do Reino de Deus. A parábola é realista e positivamente provocativa, quando boa semente é lançada em todos os terrenos existentes. Chama à atenção o fato de que o Semeador não desanima em seu trabalho, mas continua lançando a semente, e o faz até o fim dos tempos, quando acontecerá a grande colheita. Acredita na qualidade da boa semente, com a certeza de que os frutos virão!
À Igreja cabe a bonita tarefa de espalhar a boa semente em todos os quadrantes da terra, sem se cansar. Os confins da terra são os limites a serem alcançados até a volta do Senhor. Mais ainda, não há limites, pois as pessoas de todas as línguas e culturas, geração após geração, todas são destinatárias do anúncio do Reino de Deus. Caiam todas as barreiras a partir da certeza de que não temos um produto humano ou ideias a serem oferecidas. O que temos a oferecer é a vida de Deus Trindade! É suficiente para um sadio otimismo na evangelização.
Ora, o que então dificulta o anúncio dos valores do Reino de Deus? Por que tanta gente recusa a Boa Nova? Qual a explicação para o devassador fenômeno do indiferentismo? Como entender o fato de as pessoas preferirem o caminho do egoísmo e da maldade, se foram feitas para o bem e não para o pecado? Ainda que não tenhamos uma explicação completa para tais fatos, é bom saber que Jesus alertou, com a sabedoria que sobeja em suas afirmações, que “a todo aquele que ouve a palavra do Reino e não a compreende, vem o Maligno e rouba o que foi semeado em seu coração” (Mt 13,19). Misteriosamente, sim, mas convivemos com a realidade da tentação, e ela tem nome! Só que o outro polo, o da liberdade, é decisivo. Deus é fiel e não permite que sejamos provados acima de nossas forças. Pelo contrário, junto com a provação ele providencia o bom êxito, para que possamos suportá-la (Cf. I Cor 10,13). Infelizmente, podemos cair por falta de vigilância, relaxamento ou insensibilidade, cegueira moral e daí por diante. Outra causa pode ser a falta de ardor no anúncio do Evangelho. Valha a provocação aos agentes da evangelização, a fim de que amadureçam outras respostas.
Apenas para avançar um pouco mais na árdua e gratificante tarefa do anúncio do Evangelho, é possível crescer na descoberta do bem existente em todas as pessoas e ambientes. Também para identificar o que está errado e onde é possível consertar, é sinal de inteligência e de fidelidade às inspirações do Espírito Santo identificar as sementes do Verbo de Deus presentes ao nosso redor e continuar a plantar o bem, pois o remédio é a própria boa semente!
Depois, se o que assusta é a beira do caminho, onde as sementes se dispersam, vale parar um pouco, com atenção àqueles que caíram e se deixaram envolver pela tentação, pois pode ter chegado a hora de Deus para eles. Evangelização corpo a corpo, porta a porta, presença amiga, misericórdia.
Terreno pedregoso, superficialidade, pouca raiz? Isso exige tempo e dedicação, paciência com as idas e vindas, instabilidades e indecisões das pessoas a serem amadas e acompanhadas. É de São Paulo a proposta: “Proclama a Palavra, insiste oportuna ou inoportunamente, convence, repreende, exorta, com toda a paciência e com a preocupação de ensinar” (2 Tm 4, 2).
Preocupações do mundo e ilusão das riquezas? Situações tão comuns que podem levar a descartar os que as têm em abundância, de carteiras ou cofres cheios ou vazios. Insistir, suscitar partilha, enfrentar os espinhos, pois atrás deles podem existir rosas!
Como sempre acontece, a cada tempo florescem também os frutos de cem, sessenta e trinta da boa semente (Cf. Mt 13,23). Esses realimentam o otimismo incorrigível de quem anuncia o Evangelho, pois a Palavra produz sempre seus efeitos.
:: Amizade e felicidade
:: A felicidade mora no lar