Pare e pense

Qual é a realidade da juventude e da vocação na sociedade?

Vamos refletir e se aprofundar na realidade da juventude e da vocação

Neste ano de 2018, a Igreja assistirá a mais uma Assembleia Ordinária do Sínodo dos Bispos, aprofundando a realidade da juventude e da vocação. Na Arquidiocese de Belém, escolhemos o tema do Círio de Nazaré do presente ano, “Uma jovem chamada Maria“, para oferecer a todos, especialmente à juventude, o modelo e a intercessão Daquela que é companheira em nossa aventura de fé, a Virgem Maria. O Documento Preparatório do Sínodo oferece elementos preciosos de reflexão e pistas de ação, para ajudar nossos adolescentes e jovens na descoberta da própria vocação e a necessária resposta aos apelos de Deus.

A provocante pergunta sobre a vocação, precisa ser amplamente apresentada na Igreja e nas famílias, sob pena de boicotar um direito inerente à dignidade cristã das novas gerações, como também, das pessoas mais maduras. Mesmo as pessoas com estado de vida e lugar definidos na Igreja e na Sociedade, terão imenso proveito se forem capazes de rever a própria história a partir da ótica da vocação. Valerá a pena descobrir o fio de ouro com o qual Deus foi tecendo acontecimentos diversos, sucessos e insucessos, defeitos e virtudes; em vista do bem daqueles que descobriram e se empenharam em responder ao amor, e com esse foram criados.

Qual é a realidade da juventude e da vocação na sociedade?

Foto Ilustrativa: Anastasia_Aleksieieva by Getty Images

Vocação

Do Documento Preparatório do Sínodo, recolhemos algumas pistas orientadoras para tratarmos do tema “Vocação”. A certa altura, esse texto nota que: vir ao mundo significa encontrar a promessa de uma vida boa e que, ser recebido e protegido, é a experiência originária que inscreve em cada um a confiança de não ser abandonado à falta de sentido, nem à obscuridade da morte, e a esperança de poder manifestar a própria originalidade num percurso rumo à plenitude da vida. A sabedoria da Igreja oriental ajuda-nos a descobrir como essa confiança está radicada na experiência de “três nascimentos”: o nascimento natural, como mulher ou como homem, num mundo capaz de receber e promover a vida; o nascimento do batismo, “quando alguém torna-se filho de Deus pela graça”; e depois um terceiro nascimento, quando se verifica a passagem “da forma de vida corporal para aquela espiritual”, que abre ao exercício maduro da liberdade (Cf. Discursos de Filoxeno de Mabug, bispo sírio do século V, n. 9).

Cabe à família e à Igreja oferecer os meios necessários para que, adolescentes e jovens, se abram para essa vida espiritual, da qual o chamado de Deus, a vocação, é um dos elementos fundamentais, e assim, não passem a vida apenas perguntando o que querem fazer neste mundo, mas entrem num relacionamento dialogal, plantado pelo Espírito Santo no coração das pessoas, e perguntem-se sobre a vontade de Deus em suas vidas.

A fé é a fonte do discernimento vocacional, porque oferece os seus conteúdos fundamentais, as suas articulações específicas, o seu estilo singular e a pedagogia que lhe é própria. Receber esse dom da graça com alegria e disponibilidade, requer que ele se torne fecundo através de escolhas de vida concretas e coerentes. A fé não é um refúgio para gente sem coragem, mas a dilatação da vida: faz descobrir um grande chamado — a vocação ao amor — e assegura que esse amor é fiável, que vale a pena entregar-se a ele, porque o seu fundamento encontra-se na fidelidade de Deus, que é mais forte do que toda a nossa fragilidade. Essa fé torna-se luz para iluminar todas as relações sociais, contribuindo para construir a fraternidade universal, entre os homens e as mulheres de todos os tempos. (Cf. Lumen fidei, 53-54).

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Acreditar significa colocar-se à escuta do Espírito e em diálogo com a Palavra, que é caminho, verdade e vida (Cf. Jo 14, 6), com toda a própria inteligência e afetividade, aprender a dar-lhe confiança, encarnando-a na realidade cotidiana, nos momentos em que a Cruz se faz próxima, e naqueles em que se experimenta a alegria perante os sinais de ressurreição, precisamente como fez João, o discípulo amado. O espaço desse diálogo é a consciência, o centro mais secreto e o santuário do homem, no qual ele se encontra a sós com Deus, cuja voz se faz ouvir na intimidade do seu ser (Cf. Gaudium et spes, 16), um espaço inviolável onde se manifesta o convite a aceitar uma promessa. Distinguir a voz do Espírito dos outros apelos, e decidir a resposta a dar é uma tarefa que compete a cada um.

Como discernir?

Os outros podem acompanhar e confirmar, mas jamais substituir esta decisão pessoal. No discernimento vocacional, ou seja, no processo em que a pessoa, em diálogo com o Senhor e à escuta da voz do Espírito, aparecem as perguntas: como viver a Boa Notícia do Evangelho e responder ao chamamento que o Senhor dirige a todos aqueles dos quais vai ao encontro, através do casamento, do ministério ordenado, da vida consagrada?

E qual é o campo em que se pode fazer frutificar os talentos pessoais, como a vida profissional, o voluntariado, o serviço aos últimos, o compromisso na política? A Palavra de Deus nos apresenta algumas figuras que se envolveram com Deus e seus apelos. Na Liturgia do Segundo Domingo do Tempo Comum, Samuel teve que aprender a reconhecer a voz de Deus para chegar a dizer “Fala. Senhor, que teu servo escuta!” André, João e Simão Pedro fizeram também sua estrada de discernimento. Foi João Batista, dizendo “Eis o Cordeiro de Deus” que desencadeou o processo que viveram, para se transformarem em discípulos e apóstolos do Senhor. Faz-se necessário aprender a escutar, acolher as pessoas que nos ajudam, dedicar-se à oração, fazer uma verificação corajosa quando se identificam os sinais do chamado de Deus. E é no espaço da comunidade cristã que se processa o discernimento vocacional. Um sonho grande, mas não impossível, nos indica o desejo de que se organize em cada Paróquia o “Serviço de Animação Vocacional”, a fim de que, o assunto vocação entre na pauta cotidiana da vida de Igreja. Deus nos conceda esta graça!


Dom Alberto Taveira Corrêa

Dom Alberto Taveira foi Reitor do Seminário Provincial Coração Eucarístico de Jesus em Belo Horizonte. Na Arquidiocese de Belo Horizonte foi ainda vigário Episcopal para a Pastoral e Professor de Liturgia na PUC-MG. Em Brasília, assumiu a coordenação do Vicariato Sul da Arquidiocese, além das diversas atividades de Bispo Auxiliar, entre outras. No dia 30 de dezembro de 2009, foi nomeado Arcebispo da Arquidiocese de Belém – PA.