Maternidade

Os ipês amarelos e a sensação que eles me trazem

ALERTA DE SPOILER! Você que lerá a este texto, abaixo não verá nada além do desabafo de uma pessoa comum, cheia de erros e acertos, pois essa foi a minha forma de lidar com tudo o que aconteceu. Talvez, tenha sido mais difícil ou mais fácil para você, mas o que eu desejo, do fundo do meu coração, é que estas palavras possam, de alguma forma, ajudar você. Acredito que, quando ouvimos a experiência de alguém que passou por uma determinada situação e “sobreviveu” a ela, isso nos ajuda a entendermos que não estamos sozinhos. Neste texto, segue o relato de quem primeiro, é fã de Deus; e, segundo, buscou terapia. Ah! Além disso, você verá que não tem nada falando sobre os ipês amarelos no texto, mas para mim, eles sempre trazem sentimentos bons e, é isso que desejo para você!

“Quando o céu se cobriu de vermelho, comecei a te esperar
Quando o céu se cobriu de azul, pude ouvir seu respirar.”

--Os-ipês-amarelos-e-a-sensação-que-eles-me-trazem

Foto Ilustrativa: Adailton Batista /cancaonova.com

A primeira vez que eu ouvi essa música da Sandy, nem imaginava passar pela ansiedade de ter um filho. Nem de longe imaginava que, quando finalmente conseguisse, esse “pequeno grande ser” teria uma missão breve e seria chamado por Deus Pai, antes mesmo de ouvir o seu respirar.

No consultório, o calafrio daquele dia ficou comigo por um bom tempo. O olhar de compaixão do meu esposo voltado para mim e cada palavra do médico dizendo: “Essa gravidez não vai para frente”, parecia um eco sem fim. Depois, vieram duas curetagens e parecia que o pesadelo não acabava. É, literalmente, uma queda livre do “céu ao inferno”, e não teria como explicar de forma mais leve.

Ipês amarelos é o que eu desejo para você!

Você faz planos, cria 1555 expectativas e, do nada, precisa entender que todas essas expectativas precisarão ser guardadas. Mas reforço: elas precisam ser guardadas e não descartadas. Demorou para que entendesse que não era o fim; que essa experiência por mais dolorosa que fosse, faria parte da minha história, da minha evolução como alma, como ‘‘filha do céu” que, assim como tantos outros seres humanos, está sujeita às adversidades da vida.

O problema é que a dor da perda nos fazem guardar as expectativas no lugar errado. A dor nos cega. Não demora muito e todas as coisas de bebês começam a machucar, foi assim comigo por um tempo. Não, você não quer que o mundo pare para te consolar; não quer deixar de se alegrar pelas outras gestantes; não quer faltar aos chás de bebês das amigas. Porém, ver todo mundo seguindo em frente, às vezes, para mim soava como: “Saía da frente com sua tristeza que eu quero passar com a minha felicidade”. Não sabemos se queremos que ninguém perceba ou se simplesmente queremos que alguém nos abrace e fale: “Caramba, está difícil, não é!”; “Eu entendo, vejo a sua dor e sou solidário a ela”.

A boa notícia é que: com o tempo você consegue resgatar aquelas imagens positivas, as retira da caixinha da decepção e as coloca no lugar de onde nunca deveriam ter saído, o lugar da esperança e da confiança no tempo de Deus.

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Ajuda profissional

A minha terapeuta (sim, eu busquei ajuda e, se puder te dar um conselho, terapia e fé são os melhores remédios) falou-me duas coisas em momentos muito importantes. O primeiro foi quando eu perdi, ela me disse: “Entrega para Deus o que é de Deus e segue em frente”. O segundo foi quando a espera parecia não ter fim, ela disse: “Quando você tiver abandonado seus medos (de perder de novo, de não dar conta, de vergonha das pessoas ou sejam eles quais forem) seu coração se abrirá para que Deus deixe o filho(a) d’Ele vir para este mundo por meio de você.

Finalmente quando entendemos isso, algo maravilhoso acontece. Não, ainda não é a gravidez! Mas simplesmente nos libertamos das mágoas, da frustração, conseguimos fazer uma respiração completa, nos alegramos genuinamente com a alegria das outras gestantes. Confiamos e seguimos adiante, decidimos ser feliz e, ao entender que a vinda de um ser humano à terra é algo que não está em nossas mãos, começamos a compreender melhor o tal “tempo de Deus”. Então, aquele “desencanar” para mim foi um “entenda de uma vez por todas que você não está no controle, confia e vai”.

Quando menos esperamos, a graça acontece. Deus deixa que o filho d’Ele venha a este mundo por você. É maior do que os nossos medos e aplicativos de fertilidade. É algo grande que só acontece quando n’Ele confiamos e somos sinceros para com Ele; quando precisamos dizer que não está fácil, mas que ainda confiamos.

Obrigada a você que por ter lido a esse texto. Você é o motivo para que eu tenha conseguido expressar, em palavras, esses sentimentos. Acredito que eu precisava mais dele do que as pessoas que fizeram e ainda farão a leitura do mesmo.

Um abraço fraterno.

Autora: V.E.M

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