Vida Espiritual

Como podemos aumentar a nossa fé e espiritualidade?

Como vimos no último artigo desta série Virtudes Teologais, pode-se acabar com a própria fé assumindo-se posturas ou pecados diretamente contrárias a essa virtude. De forma inversa, se é possível matar a virtude da fé, também deve ser possível poder promovê-la, fazê-la crescer cada vez mais.

Este é um dos primeiros objetivos da vida espiritual: aumentar a virtude da fé, fazendo-a gerar a esperança e a caridade. Jesus, nos Evangelhos, cita com frequência a quantidade de fé que encontra nos homens. Essa fé ora é grande (Mt 8,10), ora é pequena (Mt 8,26) e, por sua própria condição de poder ser “maior” ou “menor”, entende-se que ela possa crescer ou diminuir.

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Foto Ilustrativa: Wesley Almeida/cancaonova.com

O objetivo da nossa espiritualidade é aumentar a nossa fé

O primeiro modo que o ser humano tem de fazer crescer a fé é pedindo. Como o pai do menino que estava possesso, deve-se dizer: “Senhor, eu creio, mas aumenta a minha fé!” (Mc 9,24). Este é um pedido que deve permear a oração do cristão. Santo Tomás de Aquino diz que a oração feita de acordo com a vontade de Deus, e que seja própria para nossa salvação, é sempre atendida (Mt 7, 7-8). Como a virtude da fé é um dom que Deus quer dar a todos e fundamental para a salvação do homem, ela nunca é negada.

Por que, então, se pedimos a fé, não a recebemos em abundância de uma vez? Primeiro, porque o ser humano, despreparado para o espiritual, precisa fazer com que sua natureza espiritual cresça constantemente, mas aos poucos. Como, no crescimento físico, não existem órgãos maduros e do tamanho de adultos num corpo de criança. O organismo deve crescer em conjunto. Depois, porque cabe ao homem se preparar para receber, manter e promover a virtude da fé em si mesmo.

Crescer na espiritualidade

Em uma chuva torrencial, recolhe mais água aquele que está melhor preparado. A água é a mesma, mas quem tem uma xícara de café enche 10 ml. Quem tem uma jarra de meio litro enche 500 ml, e assim por diante. Semelhantemente ao que ocorre com a Eucaristia, aquele que está aberto e preparado para receber mais, mais receberá. Isso explica o porquê não se deve restringir o crescimento da própria fé ao pedido de que Deus a aumente, mas preparar-se para recebê-la, para poder receber em abundância.

Como, segundo São João da Cruz, a fé atua sobre a inteligência ou entendimento humano (Subida-II, VI), precisa-se promover essa inteligência para que se possa estar preparado para uma fé cada vez maior. Assim, estudar as Sagradas Escrituras, o Catecismo da Igreja Católica, os documentos do magistério da Igreja não só aumenta o conhecimento das coisas de Deus como também aprimora a inteligência espiritual. Essa inteligência quanto mais se desenvolve mais fé adquire e maior capacidade de ter a virtude da fé é desenvolvida.

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Realize atos de fé

Isso é simples de se entender quando percebe-se o que faz um homem de . Não é aquele que consegue ver o que ninguém mais vê? Não é aquele que consegue responder às questões difíceis de se entender ou resolver? A virtude da fé faz ver com os olhos da inteligência espiritual aquilo que está escondido aos que não têm essa inteligência. Quanto mais essa inteligência é alimentada, mais aumenta a virtude da fé e mais preparada está para receber novas infusões de fé enviadas por Deus.

Por último, quase passa desapercebido na frase do pai do menino, citada acima, uma outra maneira de se aumentar a fé: realizar atos de fé! O ato de fé é uma afirmação sobre as verdades da revelação acreditadas livremente pelo homem. Ao afirmar que crê, o ser humano faz com que a sua vontade livre, se junte à sua inteligência. Como as verdades da revelação não são provadas por métodos empíricos como das ciências científicas, a adesão da vontade é essencial para um verdadeiro ato de fé.

Mas como realizar essa adesão sem provas?

Quando se crê na ressurreição de Cristo, não se crê porque se viu a ressurreição pessoalmente ou porque existem documentos incontestáveis sobre o assunto. Crê-se por ter uma certeza que provém do próprio Deus. Essa é a fé que Deus infunde, dando certeza sobre o quê, a princípio, não se pode provar.

Ao realizar um ato consciente de fé, como, por exemplo, o Símbolo dos Apóstolos (ou oração do Credo) na Missa, estamos sendo apoiados pelo próprio Deus. É impossível realizar um ato de fé sem a assistência de Deus. Se Deus está presente, se estamos em estado de graça, Ele está aumentando em nós as virtudes e os dons. Assim, ao dizer: “eu creio”, possibilita-se que a própria fé também cresça.

No próximo artigo, veremos que: à medida que a virtude da fé cresce, ela provoca o desenvolvimento da virtude da esperança.