Estima sincera

Sem conhecimento não existe amor

Não basta dizer a uma pessoa que você a ama. É necessário também que ela o perceba através dos atos

Amadeo Cencini, no seu livro ‘Amarás o Senhor teu Deus’, fala-nos do amor ao próximo. Hoje, quero apresentar um resumo do que ele nos fala, por acreditar que pode ser muito rico para nós.

A primeira coisa que precisamos entender é que o centro de todo ser humano é positivo, mas, no seu todo, o ser é limitado. Essa é a condição humana. Ou seja, existem, em todo homem e em toda mulher, virtudes e defeitos, riquezas notáveis e impulsos incoerentes com a estrutura pessoal, mas que são partes dela. É importante sabermos separar a fraqueza do irmão e o seu valor como pessoa, para assumirmos a responsabilidade de que temos por ele e pelo seu crescimento.

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O verdadeiro amor não está fundamentado nas qualidades e defeitos, mas sim no valor radicado em seu próprio ser. Isso significa dizer que não basta pensar bem, não se trata de fechar os olhos para os aspectos negativos dos outros, nem é um simples gesto de cortesia. O amor verdadeiro leva a uma percepção profunda do outro, a um olhar agudo e límpido para descobrir o valor interior e a verdade deste. Com isso, dizemos que todo ser humano é digno de ser amado, independente de sua conduta ou de seus merecimentos e qualidades. O amor aos nossos irmãos deve estar ligado aos valores fundamentais da sua existência, e como tal é incancelável, apesar da aparente indignidade deles.

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Não é possível sermos santos e agradar a Deus sem tomar conhecimento de quem está ao nosso lado. Muitas vezes, ignoramos “onde estava” nosso irmão, como Caim, que não quis se sentir responsável pelo irmão (cf. Gn 4,9). Quem estima sinceramente seu irmão sente-se responsável por ele, pela sua salvação, fará de tudo para estimulá-lo, dia a dia, ao bem, a Deus. É sinal de estima sincera e de amor verdadeiro estimular o outro ao seu bem, estimulá-lo ao centro da vontade de Deus. O verdadeiro amigo não adula nem rejeita o outro, mas o estimula a amar.

Mesmo que o irmão se desvie do verdadeiro bem com o seu comportamento, não podemos perder a esperança de que ele pode, um dia, descobrir e crer na sua capacidade positiva de melhorar e perceber que é muito melhor do que parece, e poderá ser fiel àquele projeto que Deus tem para ele.

Confiança, uma força estimuladora

Essa confiança no outro é uma força estimuladora, é maior do que o pecado e gera a força de vencer o mal, porque é capaz de redescobrir o bem ou de salvar a intenção, de dar novamente esperança ou convidar o outro, de novo, a caminhar para Deus, nem que seja juntos, quando o outro não está muito interessado. Além disso, pode ser o estímulo necessário para mudar o irmão, ainda que a longo prazo, com muita paciência e discrição, sem paternalismo, mas com desejo sincero de levá-lo a crescer na amizade com Deus.

Não amamos para transformar ninguém, mas para levá-lo à experiência com Deus, para levá-lo ao amor do Pai, à Sua verdade; e isso não se realiza pela força das nossas palavras nem pelas nossas críticas.

Amar é pôr-se diante do outro numa atitude de grande respeito por suas opções e tomadas de decisão, suas demoras, seus ritmos de crescimento, para que sua autonomia amadureça sempre mais e a relação vá progredindo em direção à profundidade.

Não basta dizer a uma pessoa que você a ama

O amor tem que se traduzir em atos que exprimam aquilo que se vive, traduzir-se em gestos que gerem outro amor. Não basta dizer a uma pessoa que você a ama. É necessário também que ela o perceba através dos atos. Por isso, faça o que for necessário para que, de sua parte, floresça a confiança, a familiaridade e a intimidade.

Como traduzir o amor em atos? Que expressão escolher? Dando o melhor de si mesmo ao outro. Exemplos: uma saudação, uma carta, um encontro, o tratar-se com familiaridade e intimidade, um aperto de mãos, um gesto de carinho, uma ajuda esperada, a lembrança de uma data particular, uma palavra de estima, de conforto e estímulo.

Sem conhecimento não existe amor. O conhecimento da pessoa que se quer amar não se detém na periferia, mas chega ao fundo de sua vida e de seu ser. Amar é conhecer o núcleo desta vida e deste ser escondido nela. Toda pessoa é muito mais do que aquilo que aparenta aos olhos dos outros.