Círio de Nazaré

Aprendemos a viver do jeito de Nazaré

Viver segundo o Espírito! Espiritualidade! Vida cristã! Espiritualidade! São expressões usuais na Igreja que nos atraem, suscitando o desejo profundo de uma vida cristã autêntica. Há pessoas que se espelham nos santos, outras se encantam com a belíssima influência da vida religiosa. Todos devemos acolher como norma de vida o Evangelho de Jesus Cristo. E os passos percorridos por Jesus são fecundos de graça para vivermos integralmente segundo a vontade de Deus. O que almejamos é que todos nos nossos pensamentos, palavras e obras expressem o seguimento de Jesus Cristo, deixando-nos evangelizar sempre mais e de modo profundo.

Queremos visitar um espaço privilegiado do Evangelho, chamado Nazaré, para aprender ali, conduzidos justamente pelas mãos de Nossa Senhora de Nazaré, aquela que no Círio de 2016 chamamos “Mãe de Misericórdia”, a Espiritualidade de Nazaré. Nosso sonho é que todas as pessoas que acorrem a Belém ou nos acompanham no Círio abracem esta forma de vida, carregada de grandes alegrias, ainda que exigente e comprometedora. Fomos buscar a palavra de um sábio de nosso tempo, o Beato Papa Paulo VI, na visita a Nazaré da Galileia, em janeiro de 1964: “Nazaré é a escola onde se começa a compreender a vida de Jesus: a escola do Evangelho.

Aqui se aprende a olhar, a escutar, a meditar e penetrar o significado, tão profundo e tão misterioso, dessa manifestação tão simples, tão humilde e tão bela, do Filho de Deus. Talvez se aprenda até, insensivelmente, a imitá-lo. Aqui se aprende o método que nos permitirá compreender quem é o Cristo. Aqui se descobre a necessidade de observar o quadro de sua permanência entre nós: os lugares, os tempos, os costumes, a linguagem, as práticas religiosas, tudo de que Jesus se serviu para revelar-se ao mundo. Aqui tudo fala, tudo tem um sentido. Aqui, nesta escola, compreende-se a necessidade de uma disciplina espiritual para quem quer seguir o ensinamento do Evangelho e ser discípulo do Cristo. Ó como gostaríamos de voltar à infância e seguir essa humilde e sublime escola de Nazaré! Como gostaríamos, junto a Maria, de recomeçar a adquirir a verdadeira ciência e a elevada sabedoria das verdades divinas”. Agora podemos conversar com Maria de Nazaré!

Aprendemos a viver do jeito de NazaréFoto: Arquivo CN/cancaonova.com

Entre na Casa de Nazaré

Maria de Nazaré, Mãe de Deus e nossa Mãe, Mãe de Misericórdia. Pedimos licença para entrar em tua Casa de Nazaré, onde te dedicaste, junto com São José, a cuidar de Jesus, o Verbo de Deus feito Carne. Sabemos que a vida espiritual envolve tudo o que fazemos, não somente as orações. Queremos aprender contigo a viver!

Nazaré é uma cidade, dentre tantas outras pela Galileia afora. Ouvimos o burburinho do povo que passa pelas ruas e vielas. Queremos ir contigo à fonte, aquele chafariz tantas vezes frequentado por ti. Obrigado porque te vimos conversar com todo mundo. Vemos que tu não tens preconceitos e nem julgas ninguém. Tua lição, que desejamos guardar, fala de abertura a todas as pessoas. Nazaré é cidade de conflitos, um lugar de gente briguenta, muito parecida com ambientes em que vivemos hoje. Pelo visto, as revoltas contra os ocupantes romanos pipocavam nesta cidade. Ali moravam, corajosos e audaciosos, muitas pessoas prontas a entrar numa briga e dispostos a levá-la até o fim. Em Nazaré, tu ouvias tudo, para guardar o que existe de melhor, mais ainda as coisas positivas de cada pessoa.

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Nunca se viu uma palavra tua para espalhar intrigas e fofocas! Dá para imaginar as discussões que se dissolviam quando passavas com o cântaro cheio d’água pelas ruas de Nazaré, tantas vezes acompanhada de teu Filho Jesus. Virgem de Nazaré! “Que renasça em nós a estima pelo silêncio, essa admirável e indispensável condição do espírito; em nós, assediados por tantos clamores, ruídos e gritos em nossa vida moderna barulhenta e hipersensibilizada. O silêncio de Nazaré ensina-nos o recolhimento, a interioridade, a disposição para escutar as boas inspirações e as palavras dos verdadeiros mestres. Ensina-nos a necessidade e o valor das preparações, do estudo, da meditação, da vida pessoal e interior, da oração que só Deus vê no segredo” (Paulo VI).

Nazaré é uma casa! Casa de família, muito simples! José era carpinteiro, mas dizem que sabia fazer de tudo na construção de uma casa. Maria de Nazaré, tu eras dona de casa, mulher do lar! Contigo aprendemos a valorizar as coisas simples de cada dia, a cuidar da harmonia de nossas casas, para que as pessoas se sintam bem. Parece que muitas vezes os próprios filhos, em nossos dias, acabam gostando mais de rua do que do lar! Ajuda-nos a olhar para dentro de nossa casa, a arrumá-la sem luxo, ostentação nem relaxamento. Nós queremos aprender contigo o valor da casa e da família! “Que Nazaré nos ensine o que é a família, sua comunhão de amor, sua beleza simples e austera, seu caráter sagrado e inviolável; aprendamos de Nazaré o quanto a formação que recebemos é doce e insubstituível: aprendamos qual é sua função primária no plano social” (Beato Paulo VI).

“Nazaré, ó casa do “filho do carpinteiro”! Perto de ti, Maria, queremos compreender e celebrar a lei, severa e redentora, do trabalho humano; aqui, restabelecer a consciência da nobreza do trabalho; aqui, lembrar que o trabalho não pode ser um fim em si mesmo, mas que sua liberdade e nobreza resultam, mais que de seu valor econômico, dos valores que constituem o seu fim. Em Nazaré queremos saudar aqui todos os trabalhadores do mundo inteiro e mostrar-lhes seu grande modelo, seu divino irmão, o profeta de todas as causas justas, o Cristo nosso Senhor” (Cf. Beato Paulo VI).

Nazaré da Galileia se tornou conhecida por todas as latitudes do mundo. Hoje desejamos a tua companhia, ó Mãe de Nazaré, para olhar o mundo inteiro, que o Papa Francisco nos convidou a chamar de Casa Comum. Passando pelas ruas de nossa Belém de hoje, aqui no Pará, ajuda-nos a cuidar melhor desta terra e de todas as terras. É hora de pedir-te a oração pelos lugares mais pobres, quem sabe, descuidados, de nossa cidade e de nossa Amazônia. Nossas mangueiras, visitadas de perto pela multidão que acorre ao Círio de Nazaré, tornem-se hoje símbolos do verde das florestas. Ao olhar para nossas águas barrentas, na saída do Círio, ou percorrê-las com tua Imagem Peregrina, nasça um novo pacto de cuidado com a “casa comum”, mais ainda com seus povos!

Nazaré é para nós semente de Igreja! As multidões que querem te ver, levar um pedaço de tuas cordas de amor para casa, banhar-se de água ou de suor ou sentir a força das mãos que se unem, votos e promessas, sonho de chegar ao final do Círio, tudo seja sinal de que queremos edificar a Igreja, Casa de Deus na história de nosso tempo.

Tu, Mãe de Misericórdia, escuta nosso clamor: “Salve, Rainha, Mãe de Misericórdia, vida, doçura e esperança nossa, Salve! A vós bradamos, os degredados filhos de Eva, a vós suspiramos, gemendo e chorando neste vale de lágrimas. Eia, pois, advogada nossa, esses vossos olhos misericordiosos a nós volvei! E depois deste desterro, mostrai-nos Jesus, bendito fruto do vosso ventre. Ó clemente, ó piedosa, ó doce sempre Virgem Maria”.

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