QUARESMA

No Getsêmani, Jesus em seu coração consola toda a dor

A oração de Jesus no Getsêmani

No Getsêmani Jesus “não reza só para exortar a nós que façamos”, mas porque, “sendo verdadeiro homem, em tudo semelhante a nós, menos no pecado, experimenta nossa mesma luta frente ao que repugna à natureza humana”, declarou o padre Cantalamessa. Daí que a oração passe a ser “luta com Deus”: ‘ocorre quando Deus te pede algo que tua natureza não está pronta para dar-lhe’, e quando a ação de Deus se faz incompreensível e desconcertante”, explicou. “Parecemos com Jesus se, ainda entre os gemidos, e a carne a suar sangue, buscamos nos abandonar à vontade do Pai”, afirmou o pregador do Papa.

“Às vezes, perseverando neste tipo de oração as partes se invertem: Deus converte-se em quem roga e tu naquele a quem se roga”. Ainda recorda: “O caso mais sublime desta inversão das partes é precisamente a oração de Jesus no Getsêmani. Ele roga que o Pai lhe afaste o cálice, e o Pai lhe pede que o beba para a salvação do mundo”; “recompensa a Ele constituindo-O, também como homem, Senhor”. Muitas pequenas noites de Getsêmani dão-se na vida humana por causas muito diversas, observou o pregador do Papa, entre as mais profundas: “a perda do sentido de Deus, a consciência do próprio pecado e indignidade, a impressão de ter perdido a fé“, em resumo, o que os santos chamaram “a noite escura do espírito”. Jesus ensina-nos o que, de primeiro, tem-se de fazer nestes casos: “Recorrer a Deus com a oração”; Ele mesmo inicia sua oração no Getsêmani reconhecendo: “Abba, Pai! tudo é possível para ti”.

“E se já se orou sem êxito?”, há que orar mais, com maior insistência, exortou o padre Cantalamessa. De fato, Jesus, no Getsêmani, foi escutado por sua piedade, apareceu a Ele um anjo vindo do Céu que o confortava, mas “a verdadeira grande escuta do Pai foi a Ressurreição“. De todas as formas, o pregador da Casa Pontifícia recordou que, Jesus está “em agonia até o fim do mundo”: no Espírito “Jesus está também agora no Getsêmani, no pretório, na Cruz”, “de uma forma que não podemos explicar, também em sua pessoa”, “por causa da Ressurreição que fez o Crucificado vivo nos séculos”. O “lugar privilegiado” onde podemos encontrar este Jesus é a Eucaristia, enfatizou o padre Cantalamessa, pedindo que não se esqueça “o outro modo em que Cristo está em agonia até o fim do mundo”: “nos membros de seu corpo místico”.

O sofrimento de Deus foi necessário

“A palavra Getsemani converteu-se em símbolo de toda dor moral”. É que ali, sem haver sofrido ainda na carne, a dor de Jesus “é de todo interior”, e chega a suar sangue “quando é seu coração, não ainda sua carne, o que é afetado”. “O mundo é muito sensível às dores corporais, comove-se facilmente por elas; muito menos ante as dores morais, das que, às vezes, até se brinca tomando-as por hipersensibilidade, auto-sugestão, capricho”, ele denuncia. Mas, Deus toma muito a sério a dor do coração e assim deveríamos fazer também nós.

“Penso em quem vê quebrado o laço mais forte que tinha na vida e se encontra só (mais frequentemente só); penso em quem é traído nos afetos, está angustiado ante algo que ameace sua vida ou a de um ser querido; penso em quem (…) se vê assinalado, de um dia para outro, no escárnio público”. Quantos Getsêmani escondidos no mundo, talvez sob nosso mesmo teto, na porta ao lado, ou na mesa de trabalho ao lado! É tarefa nossa identificar alguém nessa Quaresma e fazer-nos próximos a quem se encontra ali.

“Que Jesus não tenha de dizer entre estes seus membros: ‘Espero compaixão, e não há; consoladores, e não encontro nenhum’, mas que possa, ao contrário, fazer-nos sentir no coração a palavra que recompensa tudo: ‘Fizeste a mim'”.

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Fonte: zenit.org
(Resumo da primeira pregação de Padre Cantalamessa da Quaresma ao Papa e à Cúria Romana em 17/03/06)