Natal

Como é a presença e os ensinamentos de Maria no Tempo do Advento?

O sacerdote e Bacharel em Filosofia pela PUCCAMP e Teólogo pela Faculdade Católica de Pouso Alegre (MG), padre Flávio Sobreiro, ensina-nos sobre a importância e o significado de Maria nesse Tempo do Advento. Padre Flávio ainda faz uma reflexão de como nós cristãos podemos nos preparar para o Natal.

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Aprendamos com Maria a nos prepararmos para o nascimento de Jesus Cristo

cancaonova.com: Quais os ensinamentos de Maria para este tempo do advento?

Pe. Flávio Sobreiro: O Advento é o tempo litúrgico no qual coloca-se em destaque a relação e cooperação de Maria no mistério da redenção. Esse tempo ainda nos recorda a divina maternidade de Maria. A Santíssima Virgem Maria nos ensina a gerar Jesus Cristo em nosso coração. Antes de acolher Jesus no próprio ventre, Ela O acolheu em seu coração. Vivemos em tempos em que somos convidados a gerar Jesus para o mundo. Grande é a multidão de pessoas batizadas que ainda não foram evangelizadas. Jesus deseja nascer e ser acolhido em cada coração. Nossa Senhora nos convida, nesse tempo do Advento, a levarmos Jesus para todos aqueles que encontramos no dia a dia, seja na família, no trabalho, no grupo de amigos, na comunidade, nas redes sociais e nos aplicativos de comunicação. Quando Maria visita Izabel, ela leva Jesus no ventre d’Ele! Nós também precisamos levar Jesus em nosso coração! Esse tempo de alegre espera pela vinda do Salvador é um momento privilegiado, para que Cristo se desenvolva em nossos sentimentos, em nossas palavras e ações.

Maria é presença na Igreja

cancaonova.com: Maria “é o tipo e a figura da Igreja, na ordem da fé, da caridade e da perfeita união com Cristo” (“Lumen Gentium” 63). Qual o papel de Maria na História da Salvação?

Pe. Flávio Sobreiro: Constantemente, na história da salvação, Deus manifesta seu amor de Pai junto a seu povo. O amor é revelado por meio de uma eleição: uma jovem é ”separada” para que, por meio dela, o Filho de Deus pudesse assumir a humanidade decaída com o pecado. Assim como, por meio de uma mulher (Eva), o pecado “entrou” no mundo, Deus separa uma mulher para que, através dela, chegue a Salvação: dá-se uma nova criação. Há um novo Adão e, do seu lado, a mulher é tirada, a nova Eva; um novo povo é constituído. Maria é parte integrante e essencial na História da Salvação. Em 24 de abril de 1970, o Papa Paulo VI afirmava que Maria “não é uma circunstância ocasional, secundária, insignificante: ela é parte essencial do mistério da salvação. Cristo, para nós, veio de Maria. É d’Ela que O recebemos, na sua primeiríssima relação conosco. Ele é Homem como nós, é nosso irmão pelo mistério maternal de Maria. Se almejamos ser cristãos, devemos ser marianos, isto é, devemos reconhecer a relação essencial, vital e providencial que une a Virgem com Jesus, abrindo-nos o caminho que Ele conduz”. Jesus Cristo é o centro da história da Salvação, e junto d’Ele Maria cooperou e continua a cooperar no Seu projeto de salvação na história.

Advento

cancaonova.com: Sobre o Advento, podemos falar na dupla vinda de Jesus: no plano escatológico (segunda vinda) e no plano físico (encarnação)?

Pe. Flávio Sobreiro: Sim! O Advento nos recorda a dimensão escatológica da salvação. Ele possui um rico e original conteúdo teológico, pois considera todo o mistério da vinda do Senhor na história, até a sua conclusão. Deus é Aquele que age dentro de preciosos acontecimentos em sentido salvífico. Ele se deixa encontrar como Salvador da história. O tempo torna-se como sacramento do agir de Deus. Com Jesus, o tempo chega à sua plenitude, e o Reino torna-se próximo. Aquele que veio e se encarnou virá uma segunda vez.

O primeiro domingo orienta para a parusia final, o segundo e o terceiro chamam nossa atenção para a vinda cotidiana do Senhor; o quarto domingo prepara-nos para a natividade de Cristo. No prefácio do Advento I lemos: “Revestido de nossa fragilidade, ele veio a primeira vez para realizar seu eterno plano de amor e abrir-nos o caminho da salvação. Revestido de sua glória, Ele virá uma segunda vez para conceder-nos em plenitude os bens prometidos que hoje vigilantes esperamos”. A liturgia do Advento contempla ambas vindas de Cristo, em íntima relação entre si. Assim sendo, estamos diante do mistério de uma única vinda, no sentido de que a primeira já inicia aquilo que será levado ao cumprimento na segunda.

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“Já e ainda não”

cancaonova.com: A partir disso, podemos falar que: ao celebrar o advento vivemos a tensão do “já e ainda não”?

Pe. Flávio Sobreiro: Essa é uma tensão que precisa ser vivenciada com serenidade, pois o Reino messiânico já está presente pela justificação, pela graça que faz os cristãos santos. Entretanto, não está presente em sua plenitude nos corações dos que creem em Jesus. Por isso, a Igreja reza nesse Advento: ‘Vem, Senhor Jesus!’. Aquele que veio uma primeira vez, virá novamente. Nesse tempo litúrgico do Advento, preparamo-nos para celebrar a primeira vinda de Cristo. Mas Ele continua vindo ao nosso encontro todos os dias. Cristo se revela nos irmãos e irmãs sofredores, nos enfermos, na Palavra que nos é proclamada, no pão e no vinho que consagrados, tornam-se o seu Corpo e Sangue. Precisamos nos colocar na presença de Cristo a cada instante, e viver conscientemente o momento presente. Vivê-lo como oportunidade de conversão e de encontro verdadeiro com Jesus Cristo.

Por meio de uma vida de oração enraizada no cotidiano, conciliamos o “já e o ainda não”. Ele já se encontra no nosso meio, mas ainda virá uma segunda vez para que se instaure o Reino de justiça e de paz, da reconciliação, onde todos se acolham como irmãos. A celebração do Advento é uma rica pedagogia espiritual para compreendermos profundamente o mistério da salvação.

Preparação para o Natal

cancaonova.com: Estamos no tempo litúrgico do Advento, que é um tempo de vigilância e de espera. Com quais gestos concretos, os fiéis podem se preparar para o Natal?

Pe. Flávio Sobreiro: No Advento, preparamo-nos para acolher a vinda de Cristo. E para receber o Senhor, é necessário que nos preparemos espiritualmente. A liturgia do Tempo do Advento é um convite a vivermos alguns comportamentos essenciais do cristão: a expectativa alegre e vigilante, a oração pessoal e comunitária, a esperança, a conversão e a pobreza. Nossa sociedade tornou-se imediatista. É raro encontrarmos pessoas que vivem a paciência, como fonte de sabedoria na vida. O Advento nos propõe uma expectativa alegre, que não é a ansiedade que nos atormenta. Embora o comércio nos diga que o Natal já chegou, a liturgia nos indica que há um caminho espiritual a ser percorrido. Cristo virá! Este é um tempo de sobriedade serena e alegre. É preciso estarmos vigilantes sobre nossa conduta humana e espiritual. Estamos à espera do Senhor que vem, e para recebê-Lo, é preciso cuidar do nosso coração que, simbolicamente, é a manjedoura que irá acolhê-Lo. É chegado o tempo de fazermos uma faxina interior. Limparmos os “cômodos” de nossa alma que foram acumulando sentimentos negativos, pecados. Por isso mesmo, a vigilância é um convite a olharmos para dentro de nós e buscarmos a conversão que é um processo diário. Nossa vida de oração pessoal deve se revestir da espiritualidade desse tempo. A Leitura Orante da Bíblia abre nosso coração para acolhermos o Cristo que vem ao nosso encontro. É um caminho progressivo de preparação para o Natal. Nossa oração em comunidade, celebrando a Novena do Natal, nos insere na alegria da unidade entre os irmãos e nos estimula no dom da partilha. Este tempo é também marcado pela esperança que somos convidados a renovar em nossa alma.

Sobriedade

Em um mundo com tantos sinais de trevas, necessitamos renovar a esperança de uma vida nova que Cristo nos traz. A sobriedade também é um ponto essencial do Advento. Um comportamento que caracteriza a espiritualidade do Advento é o do pobre, não tanto em sentido econômico, mas sim a partir de um sentido bíblico daquele que confia em Deus e apoia-se totalmente n’Ele. É um tempo marcado pelo desapego, tempo de aprender a viver com o essencial, e o essencial é Jesus Cristo nosso Salvador. No Advento, somos convidados a olhar para aquilo que acumulamos ao longo do ano e fazer um processo de desapego: roupas, sapatos e objetos que não usamos e ainda ocupam espaços em nossa casa. Tempo de partilha, tempo de liberdade exterior e interior para acolher nossa maior riqueza: Jesus!

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Padre Flávio Sobreiro

Bacharel em Filosofia pela PUCCAMP e Teólogo pela Faculdade Católica de Pouso Alegre (MG), padre Flávio Sobreiro é pároco da Paróquia São José, em Toledo (MG), e padre da Arquidiocese de Pouso Alegre (MG). É autor de livros publicados pela Editora Canção Nova, além disso, desde 2011,  é colunista do Portal Canção Nova. Para saber mais sobre o sacerdote e acompanhar outras reflexões, acesse: @peflaviosobreirodacosta.