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São Bento e sua regra estão ultrapassados?

O fundador da Ordem Beneditina, tão conhecido pela vida de radicalidade, orações de exorcismo e regra monástica, é um daqueles santos mais populares da história da Igreja. São Bento nasceu em Núrsia no ano de 480. Veja: século V. Por que sua vida e história continuam a despertar a atenção de homens e mulheres de todos os tempos? Seu testemunho e legado estão ultrapassados? Certamente não. Ainda se vê a quantidade de pessoas que rezam a Oração de São Bento ou usam a sua medalha.

Podemos apontar alguns aspectos que formariam a “tríade” do santo, entre tantos outros desse abade que marcou a história, e, desta maneira, compreender por que sua vida é atualíssima:

São Bento e sua regra estão ultrapassados?

Imagem ilustrativa.

Tríade de São Bento

  • Silêncio e oração: ao perceber a deterioração da moralidade em sua região, Bento resolveu se recolher em uma gruta no monte Subiaco a fim de levar uma vida austera de oração, silêncio e sacrifício. Com o tempo, passou a receber muitas pessoas que pediam conselhos e orações. Na atualidade em que o mundo parece estar enlouquecendo com tantas informações e correndo em grandes velocidades, parar, silenciar e rezar pode ser mais exigente. Contudo, há uma parcela em toda pessoa que pede esse silêncio. Nunca parar e olhar para dentro de si e para Deus pode levar a um adoecimento da alma e do espírito. O silêncio nos provoca, não conseguimos nos concentrar inicialmente, mas a serenidade e o abandono ao Espírito conduzem a frutos maravilhosos.
  • Regra de São Bento e sua radicalidade: a vida de eremita do santo despertou o chamado de muitos outros. Foi assim que começou a organizar a vida monástica com as regras que viriam a ficar conhecidas como a “Regra de São Bento”. São 73 capítulos curtos que privilegiam o silêncio, oração, trabalho, recolhimento, caridade fraterna e obediência, e norteiam os mosteiros beneditinos até os dias de hoje. Com tantos valores abalados no mundo atual, falar de radicalidade, da forma como viveu São Bento, é tido como anacrônico. As formas não são as mesmas do século V, entretanto a essência permanece. É momento de pessoas, famílias, nações voltarem ao que significa “radicalidade”, ou seja, estar ligado à raiz, ao essencial, à base do que são os valores cristãos e familiares. Isto é ser plenamente humano e não fugir de sua origem, ainda mais numa, contemporaneidade, que urge por pessoas comprometidas com Deus, com o outro –  sobretudo os mais pobres – e com o meio ambiente. Isto é, com a “casa comum”, como tanto ressalta o Papa Francisco.
  • Ora et labora (“ora e trabalha”), que assemelha-se muito à espiritualidade do trabalho santificado da Canção Nova. Enquanto trabalha, reza, pois a vida é oração, é deixar Deus no centro de tudo o que fazemos e somos. Já para os tempos de hoje, o apelo é para que tenhamos homens e mulheres trabalhadores, que se esforçam para ter o pão de cada dia, numa luta não apenas de sobrevivência e de pagar as contas, contudo de ter o seu trabalho como campo de missão e de louvor a Deus. No dia a dia, querem viver a radicalidade do Evangelho de modo a construir uma sociedade nova. Nesta óptica, a profissão e o ambiente de trabalho – onde muitos passam a maior parte do dia e presenciam grandes desafios – recebem um sentido novo.

Medalha de São Bento

Este é um dos sacramentais da Igreja mais conhecidos e utilizados. Pelo formato e desenhos, identificamos logo qual é a medalha de São Bento. Contudo, é interessante saber o que significam cada um de seus elementos para, assim, não usarmos de qualquer forma e ainda cada detalhe nos levar à meditação do que ali é indicado. Tens alguma com você? Pegue a medalha e observe cada um de seus detalhes:

  • A parte da frente da medalha apresenta uma cruz e, entre seus braços, há as letras C S P B, iniciais em latim de Cruz Sancti Patris Benedicti (“Cruz do Santo Pai Bento”);
  • Já na haste vertical da cruz, iniciais C S S M L: Crux Sacra Sit Mihi Lux (“A cruz sagrada seja minha luz”);
  • Na haste horizontal, temos as iniciais N D S M D: Non Draco Sit Mihi Dux (“Não seja o dragão meu guia”);
  • No alto da cruz, lemos a palavra PAX (“Paz”), lema da Ordem de São Bento. Pode-se ver, em algumas medalhas, o monograma de Cristo – I H S – no lugar de PAX;
  • Seguindo à direita de PAX estão as iniciais V R S N S M V: Vade Retro Sátana Nunquam Suade Mihi Vana (“Retira-te, satanás, nunca me aconselhes coisas vãs!”) e ainda S M Q L I V B: Sunt Mala Quae Libas Ipse Venena Bibas (“É mau o que me ofereces, bebe tu mesmo os teus venenos!”);
  • Na parte de trás, está São Bento segurando, na mão esquerda, o livro da Regra e, na outra, a cruz. No entorno do santo, há a seguinte jaculatória ou prece: EIUS – IN – OBITU – NRO – PRAESENTIA – MUNIAMUR (“Sejamos confortados pela presença de São Bento na hora de nossa morte”;
  • É representada também a imagem de um cálice do qual sai uma serpente e um corvo com um pedaço de pão no bico. Imagens que recordam as duas tentativas de envenenamento, mas das quais São Bento saiu ileso.

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Aspectos que estão interligados entre si e muitos outros poderiam ser apontados, porém já indicam fortemente a sempre nova vida em Deus, como o santo vivenciou. São Bento morreu no ano de 547, com 67 anos. No mesmo ano, faleceu também a sua irmã, Santa Escolástica, fundadora do ramo feminino da Ordem de São Bento. A devoção a São Bento se espalhou solidamente pelo mundo todo, fazendo dele um dos padroeiros da Europa.

Que São Bento nos proteja de todo mal e nos conduza a uma vida constante e intensa de oração, silêncio, radicalidade e trabalho santificado!

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