3 pulinhos

Quem foi São Longuinho?

Dia de São Longuinho

Há uma tradição popular de recorrer a São Longuinho (ou Longino) quando se perde alguma coisa, dizendo: “São Longuinho, São Longuinho, se eu achar tal coisa, dou três pulinhos”.

No Brasil e na Espanha, a antiga festa de São Longuinho acontece no dia 15 de março. Mas quem foi esse santo que o povo diz que nos ajuda a encontrar coisas perdidas?

Quem foi São Longuinho?

Foto ilustrativa: Andréia Britta/cancaonova.com

Uma certa tradição da “Legenda Aurea” (do Beato Tiago de Voragine) nos ensina que Longuinho – cujo nome deriva da expressão grega “longus” (“lança”) – teria sido o centurião romano que estava aos pés da cruz de Jesus com outros soldados. Teria sido Longuinho que atravessou o peito de Jesus com uma lança, em vez de quebrar as pernas dele, como acontecia com outros crucificados. A passagem está narrada no Evangelho de São João:

“Como o vissem já morto, não lhe quebraram as pernas, mas um dos soldados abriu-lhe o lado com uma lança e, imediatamente, saiu sangue e água” (Jo 19,33-34).

São João fala de um soldado, enquanto São Marcos fala de um centurião (Mc 15,29). Pode ser a mesma pessoa ou não. Na Biblioteca Laurenciana de Florença há um manuscrito siríaco, escrito em 586, por um monge de nome Rábulo, contendo uma miniatura da Crucificação de Jesus, e que traz o nome de Longino como o soldado que perfurou o coração de Jesus.

Há também uma tradição que diz que ele tinha sérios problemas de visão e estava ficando cego. Entretanto, após perfurar o Senhor, uma gota de sangue teria caído nos seus olhos e ele passou a enxergar perfeitamente. Essa e outras manifestações da natureza que aconteceram depois da crucificação o fizeram reconhecer:

“Verdadeiramente, este Homem era Filho de Deus.”

A tradição diz que ele se converteu, abandonou o exército romano e refugiou-se na Capadócia, onde se tornou monge. Ali, ele teria sido perseguido como cristão, mas como não quis abandonar sua , foi torturado até a morte, tendo a língua e os olhos arrancados. Ele teria destruído as imagens dos deuses pagãos, dos quais saíram muitos demônios. Quando Longuinho perguntou aos demônios por que eles foram habitar nos ídolos, estes teriam respondido: “Onde não se escuta o nome de Cristo nem se faz o sinal da Cruz aí está a nossa habitação”.

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Não há nenhuma prova documental desses fatos no primeiro século. No entanto, em frente ao grande altar mor da Basílica de São Pedro, em Roma, há uma gigantesca imagem de São Longuinho. Há uma notícia de que mil anos depois, em 999, Longuinho foi canonizado pelo Papa Silvestre II (999-1003), no tempo em que o processo de canonização não era tão rigoroso como hoje, o que só começou no século XI. Conta-se, no entanto, que houve um processo de canonização, e que, quando este estava bastante avançado, os documentos ficaram perdidos por muitos anos. Então, o Papa Silvestre, teria pedido a intercessão de Longuinho para ajudá-lo a encontrar esses papéis. Pouco tempo depois, os documentos foram achados e aconteceu a canonização.

De onde vem a tradição dos três pulinhos em agradecimento por se encontrar algo perdido, invocando o santo?

Outra tradição diz que ele era um homem baixinho e que, servindo na corte de Roma, vivia nas festas. Por sua pequena estatura, conseguia ver o que se passava por baixo das mesas, e sempre encontrava pertences de pessoas, e os objetos achados eram devolvidos aos seus donos. Assim, teria surgido o costume de pedir-lhe ajuda para encontrar o que se perdeu. Em agradecimento, segundo a tradição, são oferecidos três pulinhos e uma oração. Diz-se também que essa forma de agradecimento seria pelo fato de o soldado ser manco. Outra explicação afirma que os pulinhos remetem à Santíssima Trindade.

O que sabemos de certo é que o centurião que chefiava a Crucificação de Jesus ficou convencido de que Jesus era o Filho de Deus, e poderia sim, com a sua conversão, tornar-se, de fato, até um mártir. Por isso, o antigo Martirológio Romano trazia sua festa no dia 15 de março. A tradição popular dos três pulinhos não é ensinada pela Igreja, embora a devoção ao santo seja de livre uso da fé.


Felipe Aquino

Professor Felipe Aquino é viuvo, pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova. Página do professor: www.cleofas.com.br e Twitter: @pfelipeaquino