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Como entender a penitência como virtude?

A virtude da penitência inclina a pessoa a reparar os próprios pecados, é uma dor interior por conta do pecado cometido, uma forma de penitência interior que nos faz crescer na interioridade.

“A penitência interior é uma reorientação radical de toda a vida, um regresso, uma conversão a Deus de todo o nosso coração, uma ruptura com o pecado, uma aversão ao mal, com repugnância pelas más ações que cometemos. Ao mesmo tempo, implica o desejo e o propósito de mudar de vida, com a esperança da misericórdia divina e a confiança na ajuda da sua graça” (Catecismo da Igreja Católica, n. 1431).

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Foto Ilustrativa: PeopleImages by Getty Images

A importância da vivência da penitência para a vida de um cristão

A penitência como virtude nos leva ao sacramento da penitência. A experiência da conversão dos atos, expressas na Confissão, está diretamente ligado à sinceridade na vivência da Penitência interior, fruto da graça de Deus. “A conversão é, antes de mais, obra da graça de Deus, a qual faz com que os nossos corações se voltem para Ele: ‘Convertei-nos, Senhor, e seremos convertidos’ (Lm 5,21). Deus é quem nos dá a coragem de começar de novo.” (Catecismo da Igreja Católica, 1432).

Da penitência interior à penitência exterior

A conversão do coração frutifica em obras que trabalham em nós a desordem causada pelo pecado. Dessas obras, destacam-se a oração, o jejum e a esmola. É curioso perceber que, também, a atitude de rezar é um ato de penitência. Em suma, a oração é fruto do empenho de nossas faculdades espirituais, tanto a inteligência, quanto a vontade e a memória, para nos aproximarmos de Deus de forma íntima.

Hugo de São Vitor, em sua definição, ajuda-nos a compreender um pouco melhor essas faculdades que entram em ação na oração: “À memória atribuímos tudo aquilo que sabemos, ainda que nelas não pensemos. À inteligência atribuímos tudo aquilo que encontramos cogitando, o que também confiamos à memória; à vontade, tudo aquilo que é conhecido e inteligido e que, intensamente, desejamos por ser bom e verdadeiro” (Textos notáveis sobre a memória, n. 20).

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Outra forma de penitência, não restrito aos dias de Quaresma, é o jejum e a abstinência de carne (cf. Código de Direito Canônico, cân. 1251). Uma nota, no mesmo cânon, explica que o episcopado brasileiro comuta a abstinência, nas sextas-feiras do ano, exceto na Sexta-feira Santa, em outras formas de penitência. Seja tirando algo que você gosta muito, seja acrescentando algo que você não goste ou tenha dificuldade de realizar. Isso o ajudará a fugir da tendência que o leva a escolher apenas coisas prazerosas, e não permitirá que você esqueça o dia penitencial.

A outra forma é a esmola. Essa resulta da boa vivência da oração e do jejum, porque é a manifestação concreta do que as duas primeiras formas de penitência realizaram em nós. Por exemplo, se eu tirei algo, esse algo eu devo dar a alguém que necessite.

As penitências e os tempos litúrgicos

A penitência é ressaltada mais no tempo do Advento e Quaresma, mas ela não se reduz a esses tempos litúrgicos. A penitência interior abrange todos os tempos, sempre é tempo de se rever, sempre é tempo de viver a penitência.

A penitência exterior não é necessária nos domingos e solenidades, bem como nas oitavas de Natal e Páscoa. Esses são tempos fortes de experiências com o Ressuscitado. A não penitência externa, nesses períodos, faz com que todo nosso ser acompanhe as alegrias dessas celebrações.

Assim, não deixe para viver a penitência apenas na Quaresma. Nossa conversão passa pela capacidade de impor limites aos nossos apetites e tendências. Nós precisamos de limites, e a penitência nos ajuda e ajudará a crescer nessa realidade.

Para que viver a penitência?

Vivemos a penitência para termos mais liberdade. Quem impõe limites a si mesmo cresce em liberdade. Liberdade é você saber até onde pode ir, é saber que tem limites, e a penitência nos recorda essa realidade. Penitenciar-se é crescer em liberdade e amor a Deus.

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