Entenda

O que a Bíblia e o Catecismo da Igreja Católica dizem sobre purgatório?

Na Bíblia Sagrada, uma das passagens mais conhecidas ocorre quando um rico e um mendigo morrem. Lázaro, o mendigo, foi levado pelos anjos para junto de Abraão. O rico foi atormentado no fogo, onde pede a Abraão que permita que Lázaro molhe a ponta do dedo na água e refresque sua língua. Em resposta, Abraão diz ao rico:

“Lembre-se, filho, você recebeu seus bens durante a vida, enquanto Lázaro recebeu males. Agora, porém, ele encontra consolo aqui, e você é atormentado” (Lc 16,25). É que com a morte, o caminho seguido em vida se conclui e suas virtudes e seus pecados se tornam definitivos. Algumas pessoas guiam a vida em plena comunhão com Jesus Cristo, e sua chegada ao céu é o cumprimento da verdade sobre aquilo que são. Outras pessoas morrem na amizade de Deus, mas, embora seguros da sua salvação eterna, precisam ainda de purificação para entrar no Reino dos Céus.

Marcados pelo pecado

Na primeira Carta aos Coríntios, São Paulo trata sobre as obras que fez e as obras de Apolo, ensina-nos que o alicerce fundamental de nossas obras é Jesus Cristo. De tal forma, que cabe a cada um construir sobre esse alicerce, para que a sua obra seja mostrada no dia do julgamento e provada pelo fogo. Com efeito: “Se a obra construída sobre o alicerce resistir, o operário receberá uma recompensa. Aquele, porém, que tiver sua obra queimada, perderá a recompensa. Entretanto, o operário se salvará, mas como alguém que escapa de incêndio” (1 Cor 3,14-15).

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Arte: Wesley Almeida/cancaonova.com

Vejamos que todos os construtores que tem por fundamento o Cristo serão salvos, ainda que alguns precisem ser provados no fogo. Esse é o purgatório, a prova de fogo de nossas obras no dia do julgamento final. Também São Pedro nos ensina que “Desse modo, a fé que vocês têm será aprovada como ouro que passa pelo fogo. O ouro vai desaparecer, mas a fé que vocês têm, e que vale muito mais, não se perderá, até o dia da revelação de Jesus Cristo. Então, por essa fé, vocês receberão louvor, glória e honra” (1Pe 1,7).

É pelas Sagradas Escrituras que entendemos que o purgatório é a provação das almas que viveram em Cristo, mas estão marcadas pelo pecado e precisam ser purificadas para entrar no Reino de Deus. Aqui é importante usar esses exemplos para tratar de uma diferenciação importante, o purgatório é a purificação final dos eleitos, diferente do castigo dos condenados. No purgatório, as obras foram construídas em Jesus Cristo, mas têm falhas humanas que passam pela purificação. Já no castigo dos condenados, as obras foram vãs, sem a presença de Jesus Cristo.

O que o CIC diz sobre o purgatório?

De fato, é assim que o CIC (Catecismo da Igreja Católica) nos apresenta o purgatório, como a “purificação final dos eleitos, que é absolutamente distinta do castigo dos condenados”. Para bem entender, lemos no § 1030 do CIC que “os que morrem na graça e na amizade de Deus, mas não de todo purificados, embora seguros da sua salvação eterna, sofrem depois da morte uma purificação, a fim de obterem a santidade necessária para entrar na alegria do céu”. Quando ocorre o julgamento final do cristão, que ainda não está em completa comunhão com Jesus Cristo, sua alma se oferece ainda com os desejos e as culpas do pecado, o que torna impossível colocar-se na presença de Deus.

Na história do pecado original, lê-se que, após o pecado, ao ouvir os passos de Deus, Adão e Eva esconderam-se da presença d’Ele entre as árvores do jardim e Deus não os encontrou, perguntando por eles. Ora, tal passagem pode nos trazer o questionamento: “Como Deus, criador do céu e da terra, não sabia onde estavam Adão e Eva?”. Na verdade, a passagem nos ensina que Deus já não encontrou a sua imagem e semelhança como lhes havia criado, mas no jardim estavam os pecadores. Assim também é conosco, marcados pelos pecados de nossa caminhada da vida, para nos apresentarmos a Deus, precisamos retornar a Sua criação original, puros e dignos de Sua presença.

Orai e vigiai

Estejamos preparados para que, no dia em que sejamos levados ao encontro de Deus, possamos estar certos de que nossas obras tiveram Jesus Cristo como alicerce e, ainda que os pecados nos corrompam pelo caminho, no coração carregamos o amor e a certeza de que nossa vida não foi egoísta, mas repleta de serviço para com o próximo. Busquemos, com a fé cristã, o amor do Pai e a intercessão da Virgem Maria – serva por excelência – ser imagem e semelhança de Deus, para que, quando o dia do julgamento chegar, estejamos na Sua graça e amizade.

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REFERÊNCIAS

A BÍBLIA SAGRADA. Edição Pastoral. 86 ed. São Paulo: Paulus. 2012.
CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. In textos fundamentais. Arquivo do Vaticano.
SPE SALVI. Carta Encíclica de Bento XVI, Papa. Roma, 30 nov. 2007.

Luís Gustavo Conde – Catequista na Catedral Metropolitana de São Sebastião, na Arquidiocese de Ribeirão Preto/SP, atuando na evangelização da turma de adultos. Autor de artigos para formação na doutrina cristã. Advogado e professor de cursos técnicos profissionalizantes. Marido da Patrícia e pai do Oliver.