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Diferença entre Jesus de Nazaré e Jesus Cristo: quem foi Jesus Cristo?

Jesus Cristo: o homem da fé

Caro internauta, no artigo anterior, iniciamos nossa discussão acerca do Jesus de Nazaré e do Jesus Cristo. Oras, tem diferença? A rigor, sim. Embora sejam duas maneiras diferentes de classificação, a pessoa é a mesma: Jesus. Contudo, essa diferenciação se torna importante e, até necessária, quando se quer indicar as características mais específicas da vida de Jesus.

No artigo anterior, tratamos do Jesus de Nazaré, o homem histórico que nasceu de uma mãe, cresceu e desenvolveu-se, neste mundo, em uma cultura específica, esteve sujeito às leis, entrou nos conflitos políticos, partilhou das esperanças de Seu povo, sorriu, chorou e morreu como qualquer outro homem. Neste artigo, trataremos do Jesus Cristo, o homem da .

Diferença entre Jesus de Nazaré e Jesus Cristo: quem foi Jesus Cristo?

Foto ilustrativa: Wesley Almeida/cancaonova.com

Jesus tinha consciência de quem ele era?

Sim. Embora essa consciência tenha se formado gradativamente como todos os outros homens, o Evangelho nos mostra que Jesus tinha consciência de quem ele era: o Messias, o Filho de Deus feito Homem. Não obstante, o Catecismo da Igreja Católica, no parágrafo 124, afirma que ele aceitou o título de Messias (ao qual tinha direito) com certa reserva. Isso se deu pelo fato de o termo “Messias” ser entendido por uma parte de seus contemporâneos segundo uma concepção demasiadamente humana, ou seja, essencialmente política.

De qualquer forma, no momento supremo, quando Jesus se encontrava diante do grande sacerdote que o interrogava, se Ele era realmente o Cristo (Messias), o filho de Deus Bendito, Ele não titubeou e disse: “Eu sou. E vereis o Filho do Homem sentado à direita do Todo-poderoso e vindo com as nuvens do céu” (cf. Mc 14,61-63). Quando Jesus se reconheceu “Filho do Homem”, Ele estava reconhecendo essa condição num duplo sentido: o glorioso e doloroso da palavra. Doloroso, porque, ao responder “Eu sou”, estava se constituindo, ali, Seu veredito mortal.

Ao reconhecer-se filho de Deus por natureza, Jesus estava dando a cada homem a possibilidade de, por meio de Sua filiação, ser também reconhecido como filho de Deus, por adoção. Nesse sentido, “ao Pai é atribuída a autoridade sobre a pessoa do Filho” e, por conseguinte, sobre toda a humanidade (AQUINO, 2002, p. 480).

Convergência entre o rei Davi e Jesus

Davi nasceu em Belém e escolheu Jerusalém para nela constituir a sede do seu reino e edificar o templo de Deus. Ora, Jesus também nasceu em Belém e escolheu Jerusalém como local da Sua Paixão. Desse modo, Jesus estava desprezando a glória humana, pois, como diz Tomás de Aquino, os homens se gloriam de ter nascido em cidades famosas, nas quais querem, principalmente, ser honrados. “Cristo, pelo contrário, quis nascer numa cidade sem nome e padecer opróbrios numa cidade famosa.” (AQUINO, 2002, p. 520).

Assim, Cristo quis fazer-se conhecido pela Sua vida virtuosa, e não pelo nascimento segundo a carne. Por isso, quis ser educado e criado em Nazaré; “e em Belém quis nascer como estrangeiro. Pois, como diz Gregório: Pela humanidade que tinha assumido, nasceu como em terra estranha; não segundo o poder, mas segundo a natureza. E Beda acrescenta: Por estar necessitado de um lugar na hospedaria, estava a nos preparar muitas moradas na casa de seu Pai.” (AQUINO, 2002, p.520).

Um olhar teológico do nascimento de Jesus – cumprimento de uma profecia

A grande maioria dos habitantes de Jerusalém conhecia muito bem uma profecia em torno de um misterioso homem da Judeia, que um dia seria Senhor do mundo inteiro. Alguns forasteiros vindos do Oriente e guiados por uma estrela que lhes havia aparecido no céu, chegaram a Jerusalém. Os referidos forasteiros seguiam a tradição de Balaão, que disse: “A estrela nascerá de Jacó”. Por isso, vendo eles uma estrela extraordinária, entenderam ser essa a que Balaão profetizara e que haveria de anunciar a vinda do Rei dos Judeus.

Os forasteiros se prestaram a fazer uma longa viagem em busca daquele Rei Todo-poderoso, e encontram-no em uma gruta paupérrima. Como diz Crisóstomo, se os Magos tivessem saído à procura de um rei terreno, ao ver o lugar do nascimento do Menino Rei, ficariam confusos. “Mas, porque procuravam o rei do céu, mesmo não vendo nele nada da majestade real, o adoram satisfeitos unicamente com o testemunho da estrela” (AQUINO, 2002, p. 541).

Os sábios que reconheceram Deus

O cardeal Ratzinger faz uma leitura muito interessante desse fato ao afirmar que, nesse acontecimento, deu-se um entrelaçamento entre o saber e a ignorância, uma vez que os chefes dos sacerdotes e os escribas sabiam precisamente onde deveria nascer o Messias, mas não O reconheceram. Sábios que permaneceram cegos (RATZINGER, 2011, p. 189).

Deus, portanto, não se revelou aos escribas nem aos fariseus, ao contrário, revelou-se aos pobres pastores. Tomás de Aquino acrescenta ainda que eles – os pastores – significavam os Doutores da Igreja, a quem Cristo revelou os seus mistérios, os quais permaneceram ocultos aos Judeus (AQUINO, 2002, p. 529).

Assim, por intermédio de Jesus Cristo, inteiramente homem e Deus, o ser humano pode, juntamente com Ele, falar, verdadeiramente, com Deus. Ele é, portanto, o Sumo Pontífice, aquele que liga.

Deus abençoe você e até a próxima!

Referências:

AQUINO, Tomás de. Suma Teológica. Tradução Aldo Vannucchi et al. v. 8, parte III: questões 1 – 59. São Paulo: Loyola, 2002.
RATZINGER, Joseph. Jesus de Nazaré: Da entrada em Jerusalém até a Ressurreição. Tradução Bruno Bastos Lins. São Paulo: Planeta, 2011.