Santidade

A resposta cristã aos desafios

Abraçar o caminho do Evangelho, mesmo que nos acarrete problemas, é santidade!

Com frequência, a sociedade se pergunta e também pergunta à Igreja sobre as soluções para a violência que se espalha. As forças de segurança desejam encontrar caminhos adequados à situação crítica em que nos encontramos. Há poucos dias, uma pessoa se apresentou para formalizar um boletim de ocorrência e encontrou uma resposta de acomodação: você pode fazer o boletim, mas o fato se tornará apenas mais um número acrescentado nas estatísticas. Muitos grupos se manifestam, e não é raro que a exaustão em que se acham as pessoas provoque passeatas, cartazes, protestos diante dos órgãos governamentais. E não há um dia sequer sem manchetes com os crimes de grupos ou facções rivais de criminosos, milícias que se multiplicam e a respectiva resposta violenta da parte dos poderes responsáveis pelo controle de nossas cidades.

Créditos: Wesley Almeida / cancaonova.com

Se voltamos as perguntas para a prática da Igreja, não só o que nos diz respeito como Igreja Católica, mas também os demais grupos de cristãos que confessam, como nós, o senhorio de Jesus Cristo Salvador, podemos dizer que há muito a fazer. Basta recordar o que o Papa Francisco propôs na recente Exortação Apostólica sobre a santidade (Cf. Gaudete et Exsultate, 65-94), quando remeteu a Igreja e os cristãos à prática das bem-aventuranças (Mt 5,1-12), que são como que o bilhete de identidade do cristão. São as respostas e o caminho de felicidade que os cristãos podem oferecer.

A prática das bem-aventuranças

“Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino do Céu”. Jesus chama felizes os pobres em espírito, que têm o coração pobre, onde pode entrar o Senhor com a sua incessante novidade. Jesus nos chama a compartilhar a vida dos mais necessitados, a vida que levaram os Apóstolos e, em última análise, a configurar-nos a ele, que, “sendo rico, se fez pobre” (2 Cor 8, 9). Ser pobre no coração: isso é santidade!

“Felizes os mansos, porque possuirão a terra”. Embora pareça impossível, diante da violência reinante, Jesus propõe outro estilo, a mansidão. Disse ele: “Aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração e eu vos darei descanso” (Mt 11,29). Se vivemos tensos, arrogantes diante dos outros, acabamos cansados e exaustos. Mas quando olhamos os seus limites e defeitos com ternura e mansidão, podemos dar-lhes a mão e evitamos gastar energias em lamentações inúteis. Reagir com humilde mansidão: isso é santidade! “Felizes os que choram, porque serão consolados”. O mundano ignora, olha para o lado, quando há problemas de doença ou aflição na família ou ao seu redor, prefere ignorar as situações dolorosas, cobri-las, escondê-las. A pessoa que, se deixa tocar pela aflição e chora no seu coração, é capaz de alcançar as profundezas da vida e ser feliz. Ela é consolada com a consolação de Jesus. Saber chorar com os outros: isto é santidade!

“Felizes os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados”. Há pessoas que aspiram com intensidade pela justiça e buscam-na como quem tem fome e sede. Jesus diz que serão saciadas, porque a justiça, mais cedo ou mais tarde, chega, e podemos colaborar para torná-la possível, embora nem sempre vejamos os resultados deste compromisso. Buscar a justiça com fome e sede: isto é santidade, e é resposta a ser oferecida em nosso tempo!

“Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia”. Misericórdia: dar, ajudar, servir os outros, perdoar, compreender. O Evangelho propõe uma regra de ouro: “Tudo quanto quereis que os outros vos façam, fazei-o, vós também, a eles” (Mt 7, 12). Tentar reproduzir na nossa vida um pequeno reflexo da perfeição de Deus. Olhar e agir com misericórdia: isto é santidade!

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“Felizes os puros de coração, porque verão a Deus”. O coração indica as nossas intenções, o que buscamos e desejamos, para além do que aparentamos. Deus quer dar-nos um coração novo (Cf. Ez 36, 26). E Jesus promete que os corações puros “verão a Deus”. Manter o coração limpo de tudo o que mancha o amor: isto é santidade!

“Felizes os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus”. Pensamos nas numerosas situações de guerra que perduram e na onda de violência que nos assusta. Mas também é comum sermos causa de conflitos e incompreensões. Procurar, juntamente “com todos”, a paz é o caminho (Cf. 2 Tm 2,22), “Procuremos aquilo que leva à paz” (Rm 14,19), porque a unidade é superior ao conflito. Trata-se de ser artesãos da paz, porque construí-la é arte que requer serenidade, criatividade, sensibilidade e destreza. Semear a paz ao nosso redor: isso é santidade!

“Felizes os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus”. Jesus quer nos transformar em pessoas que questionam a sociedade com a vida. Ele lembra as pessoas perseguidas por terem lutado pela justiça, vivendo seus compromissos com Deus e os outros. Se não quisermos nos afundar na obscura mediocridade, não pretendamos uma vida cômoda, porque, “Quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la” (Mt 16,25). A cruz, as fadigas e sofrimentos que suportamos para viver o mandamento do amor e o caminho da justiça, tudo será fonte de amadurecimento e santificação. As perseguições não são uma realidade do passado, pois, hoje, também sofremos, quer de forma cruenta, como os mártires contemporâneos, ou de maneira mais sutil, por meio de calúnias e falsidades. Para Jesus, haverá felicidade, quando, “mentindo, disserem todo o gênero de calúnias por sua causa” (Mt 5,11). Abraçar o caminho do Evangelho, mesmo que nos acarrete problemas: isso é santidade! Essa é a resposta da fé cristã. Quem se arriscar nessa estrada verá os frutos!


Dom Alberto Taveira Corrêa

Dom Alberto Taveira foi Reitor do Seminário Provincial Coração Eucarístico de Jesus em Belo Horizonte. Na Arquidiocese de Belo Horizonte foi ainda vigário Episcopal para a Pastoral e Professor de Liturgia na PUC-MG. Em Brasília, assumiu a coordenação do Vicariato Sul da Arquidiocese, além das diversas atividades de Bispo Auxiliar, entre outras. No dia 30 de dezembro de 2009, foi nomeado Arcebispo da Arquidiocese de Belém – PA.