Reflita

Um pecador apresenta-se ao julgamento de Deus

Sei, meu Senhor Jesus, que vireis como justo Juiz, e do vosso julgamento ninguém escapará. Não sei quando estarei diante de Vós, mas “se penso no amanhã, temo minha inconstância”, por isso, como cantou Santa Teresinha, “tenho o dia de hoje tão somente”. Vou aproveitar o hoje então, Jesus, para, diante de Vós, pronunciar-me sobre o meu julgamento. Como sei que haverá diante de mim um acusador vil e cruel, apresso-me a acusar-me eu mesmo:

Eu não Vos amo como deveria, Jesus. Nunca Vos amei assim. Como Santa Faustina, eu quero amar-Vos como nenhuma alma humana Vos amou, mas nunca cheguei nem perto disso. Minha alma nunca suspirou por Vós, nunca tive tanta confiança em vós a ponto de não me inquietar pelos problemas do mundo.

Um pecador apresenta-se ao julgamento de Deus

Foto Ilustrativa: by Getty images / tepic

Que infiel tenho sido, Jesus, pois não Vos tenho amado sobre todas as coisas! Pelo contrário, inúmeras vezes tenho preferido prazeres, distrações, paixões e males a Vós, meu Senhor tão bondoso e misericordioso. Com que displicência algumas vezes participo da Santa Eucaristia! Por quantas distrações me deixo levar durante a leitura do salmo ou na homilia… Olhando para trás, Senhor, várias vezes Vos ofendi conferindo mensagens no celular e até olhando resultado de jogos de futebol, mesmo sabendo o valor da Santa Missa.

Qual é o seu prejulgamento?

Ó, Senhor, não são poucas as minhas culpas. Fosse eu enumerá-las e esse texto não teria fim. Para cada mandamento haveria um sem número de transgressões, para cada virtude, vícios sem conta, porque sou miserável e me tenho em mais alta conta do que deveria. Sou míope, cego até para meus erros e tremendamente perspicaz quando se trata de olhar o erro dos outros.

Minha vaidade me envergonha, Senhor, e meu orgulho me humilha. Como me sinto acariciado pelos elogios, que nem a mim se dirigem de fato, mas aos dons que Vós me destes. Gosto de ser estimado, de ter minha opinião valorizada, de me ver em destaque, quando deveria buscar esconder-me no Vosso Sagrado Coração, como o fizeram Vossa Mãe Santíssima e Vosso pai adotivo, meu querido São José. Quero parecer humilde, mas sinto-me ofendido quando discordam de mim, quando me tratam de maneira diferente da que eu esperava. Quero ser respeitado, quero que me ouçam com atenção, quero que me considerem sábio. E se assim não o fazem, que coração lento para perdoar! Quanta murmuração em meu interior!

Sou injusto, Senhor: julgo as intenções das pessoas, condeno-as sem sequer saber dos fatos. Se alguém age de maneira que não me agrada, se nutro antipatia por causa de sua posição política ou por qualquer outra razão, com que má vontade a ouço, com que má vontade considero suas ações!

Sem razão digo que sou paciente, Senhor, porque pelos motivos mais torpes sou dominado facilmente por rompantes injustificados de ira. Vejo-me dizendo palavrões apenas por causa de um mau resultado num jogo! Ainda que eu deseje ser casto, Senhor, meus olhos e meus pensamentos não são puros e são muitas as derrotas nesse campo. A gula também me vence, Senhor, porque me vejo comendo mais do que a fome me pede, me vejo desejando com ardor este ou aquele prato, como se comer ou beber pudessem me trazer a verdadeira satisfação. Não me alegro tanto como deveria com a vitória de alguns, escolho aqueles por quem me compadeço, falta-me amor, falta-me doçura.

Quanta falta de esmero no meu trabalho, quanta negligência para administrar minha vida, quanta moleza para cuidar da minha casa. Sou preguiçoso, Senhor, essa é a verdade. Diligente quando me convém, procrastinador, desleixado e moroso quando é minha obrigação.

Encerro prematuramente minha acusação, ainda que haja muito a dizer. Vós, que conheceis meu coração mais do que eu mesmo, sabeis o quanto ocultei por covardia e o quanto ocultei por ignorância. Imploro desde já a Vossa Misericórdia pelas minhas omissões.

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Quanto à minha defesa, Senhor, nada tenho a dizer, porque por minha conta só fiz o mal e se em algum momento da minha vida fiz algo de bom, não foi por mérito meu, mas fui movido somente pela Vossa Graça. Mesmo as poucas vezes em que não pus obstáculo à Vossa Graça, Senhor, mesmo então foi a Vossa Graça que me moveu.

Não ter o que apresentar em minha defesa não me entristece, Senhor, porque me enche de esperança saber que Vós sois o meu Juiz é também meu defensor: a Vossa Misericórdia não me faltará.

Apelo, portanto, ao Vosso Sagrado Coração, Senhor Jesus.

Apelo ao Vosso sangue derramado na Cruz.

Apelo às Vossas chagas, esconderijo para um pecador como eu.

Apelo ao Vosso lado, ferido pela lança, de onde escorreu sangue e água.

Apelo ao peso do madeiro, que sentistes sobre Vossos ombros.

Apelo à Vossa doçura, meu Jesus, que nunca afastastes quem a Vós recorreu.

Apelo às lágrimas da Vossa Mãe, que regaram o madeiro da cruz no vosso calvário.

Apelo, por fim, Senhor, à Vossa Misericórdia, na esperança de que no último momento da minha vida Vós ignoreis toda uma vida de infidelidade e me acolhais no Paraíso, como fizestes como aquele ladrão que morreu ao Vosso lado.

Certo da minha indignidade e do Vosso amor, Jesus, subscrevo esta declaração, que vale até o fim do dia de hoje.

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