Lectio Divina

A riqueza da leitura meditada e orante da Palavra de Deus

Descrevemos, com curiosa naturalidade, nosso cotidiano como “corrido”, em uma rotina na qual não nos sobra muito tempo. Mas há uma preocupação em especial à qual devemos nos atentar: será que nossas orações diárias fazem parte da nossa rotina como qualquer outra tarefa?

Sabemos, com certeza, que a oração é importante para nos fortalecer diante dos desafios do dia a dia. É preciso entregar-se à Providência Divina, confortar o coração com as palavras de clamor e afastar as preocupações, entregando o futuro nas mãos de Deus. Mas não somos apenas nós quem falamos com Deus, dirigindo a Ele nossas orações, também Ele fala conosco nas Sagradas Escrituras. A leitura meditada e orante da Palavra nos ajuda a nos entregarmos, de coração manso e humilde, a ouvir Deus falar conosco.

Jesus Cristo nos ensina: “Maria escolheu a melhor parte, e esta não lhe será tirada” (Lc 10,42). Essas palavras foram dirigidas a Marta, que acolheu Jesus Cristo em sua casa e pôs-se a providenciar todo o tipo de afazer doméstico; enquanto sua irmã, Maria, estava sentada aos pés de Jesus e ouvia Suas Palavras.

A riqueza da leitura meditada e orante da Palavra de Deus

Foto Ilustrativa: Tutye by Getty Images / cancaonova.com

Ora, devemos pensar no quanto nós mesmos nos deixamos ocupar por diversos afazeres, deixando de sentar, ouvir e meditar o Evangelho. Nossas orações e nossas leituras das Sagradas Escrituras não podem se tornar mais um dos afazeres diários que realizamos sem a devida espiritualização. E uma forma de entrega à Palavra de Deus, por meio de uma leitura atenta e profunda, é chamada de Lectio Divina.

Deus fala conosco por meio da Bíblia

Nas palavras do Santo Papa João Paulo II: “Elemento essencial da formação espiritual é a leitura meditada e orante da Palavra de Deus (lectio divina), é a escuta humilde e cheia de amor d’Aquele que fala”. A Lectio Divina é uma leitura que se faz da Bíblia, de uma passagem um pouco mais longa, que se acolhe de coração como a Palavra de Deus dirigida a nós. Se, na oração, falamos com Deus, na leitura da bíblia, Deus fala conosco.

Pode ser realizada de uma forma pessoal, tomando a Palavra como um encontro particular com Deus, que escutamos enquanto lemos e respondemos em oração. Em grupo, a leitura orante deve trazer consigo a inspiração das práticas da comunidade, como exercícios espirituais, retiros, devoções e experiências religiosas.

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É bem verdade que exige uma catequização adequada para que se possa compreender bem do que se trata a lectio divina, e que contribua para esclarecer seu sentido litúrgico. Mas, de forma nenhuma, isso deve afastar o cristão de sua prática.

As vantagens da lectio divina

O ideal seria que cada comunidade organizasse um grupo de leitura orante da Palavra, que pudesse levar a prática de lectio divina a um número cada vez maior de cristãos. Para que haja uma correta orientação, o Sínodo dos Bispos, em sua XII Assembleia Geral Ordinária, tratou da “Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja”, dedicando um capítulo para abordar a lectio divina. Também podemos facilmente encontrar, no site da Santa Sé, as meditações da prática da leitura orante pelo Papa Bento XVI, que servirão de inspiração àqueles que desejam aderir à prática.

Nas mensagens do Papa Francisco, também podemos descobrir que “A lectio divina introduz a conversação direta com o Senhor e desvela os tesouros da sabedoria. A amizade íntima com Aquele que nos ama torna-nos capazes de ver com os olhos de Deus, de falar com Sua Palavra no coração, conservar a beleza dessa experiência e partilhá-la com quantos têm fome de eternidade”.

Ao realizarmos a leitura da Palavra de Deus com o coração calmo e entregue a ouvir o que Deus tem a nos dizer diretamente, estamos nos fortalecendo em uma fé consistente, que nenhum desafio cotidiano possa abalar, nem por um minuto. Desejo que nossas comunidades e cada um de nós tenha a clareza e ocasião de “escolher a melhor parte”.

REFERÊNCIAS

A BÍBLIA SAGRADA. Edição Pastoral. 86 ed. São Paulo: Paulus. 2012.

SÍNODO DOS BISPOS. XII Assembleia geral ordinária. A Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja. Instrumentum Laboris. 2008. Disponível em:  <http://www.vatican.va/roman_curia/synod/documents/rc_synod_doc_20080511_instrlabor-xii- assembly_po.html>

JOÃO PAULO II. Exortação Apostólica pós-sinodal pastores Dabo Vobis ao episcopado ao clero e aos fiéis sobre a formação dos sacerdotes nas circunstâncias actuais. 25 mar. 1991. Disponível em: <http://w2.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/apost_exhortations/documents/hf_jp-ii_exh_25031992_pastores- dabo-vobis.html>

FRANCISCO. Mensagem ao Prior-geral dos irmãos da Bem-aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo por ocasião do capítulo geral. 2013. Disponível em: <http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/messages/pont-messages/2013/documents/papa-francesco_20130822_ordine- carmelitano.html>

Luís Gustavo Conde – Catequista na Catedral Metropolitana de São Sebastião, na Arquidiocese de Ribeirão Preto/SP, atuando na evangelização da turma de adultos. Autor de artigos para formação na doutrina cristã. Advogado e professor de cursos técnicos profissionalizantes. Marido da Patrícia e pai do Oliver.

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