Reflexão de Bento XVI

O futuro do cristão é a vida eterna

“ É na esperança que fomos salvos” (Rm 8,24).

É preciso tomar partido de que a base central da esperança está em uma pessoa. Claro que não é qualquer pessoa, mas na pessoa divina de Cristo encarnada. Essa revelação demonstra Deus e, na verdade, evidencia uma continuidade que antes era somente proposta. Agora, a morte já não põe fim às coisas, pois Deus existe e se ocupa de nós. Jesus revela a continuidade da vida após a morte, Ele demonstra a transfiguração e ressurreição. Dessa maneira, o fundo mais sólido da esperança é a pessoa de Cristo.

Ele veio trazer um encontro pessoal com Deus, não somente informativo, mas sim performativo, o que leva a uma transformação interior desencadeando na exterior. Encontrar-se com Deus é descobrir uma esperança mais forte e para além dos sofrimentos deste mundo. Mesmo que as estruturas externas não sejam modificadas, as pessoas ainda assim tem um sentido para além desses sofrimentos que esbarram na fraqueza humana e na liberdade.

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Cristo como esperança e futuro

O cristão diferencia-se dos demais homens porque possui um futuro. A vida cristã não acaba, existe um futuro mesmo que esse não seja rico de detalhes, porém sem ele não há como viver o presente (cf. n.2). Isso coloca em vigor a tese da Encíclica expressa no n.1: “o presente, ainda que custoso, pode ser vivido e aceito se levar a uma meta e se pudermos estar seguros desta meta, se esta meta for tão grande que justifique a canseira do caminho”. As Sagradas Escrituras afirmam essa meta pondo Cristo como caminho, mas também como chegada ( cf. Jo 14,6).

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Contudo, essa mentalidade não impede nem estimula o homem a findar-se em vista da vida futura. Pelo contrário, ele se torna chamado a viver bem o presente assumindo os limites da sociedade atual e fazendo de sua vida o princípio da vida futura. Aqui, ele já deve viver o reino como antecipação da sua vida eterna. A vocação é do presente em diante e não a negação do presente nem da sociedade como imprópria. É um moldar-se para moldar a sociedade, mesmo sabendo que nela, aqui nesta vida, não haverá a plenitude.

A fé para Bento XVI

Assim, a fé de Hebreus (11,1) é assumida como um entrelaçar-se com a virtude e dom divino da esperança. Para o Papa Emérito Bento XVI, essa fé é objetiva, e prova das coisas esperadas. Por isso, apresenta-se o conceito tomista de uma experiência que já nos habita:

“a fé é um « habitus », ou seja, uma predisposição constante do espírito em virtude do qual a vida eterna tem início em nós, e a razão é levada a consentir naquilo que não vê. Deste modo, o conceito de « substância » é modificado para significar que, pela , de forma incoativa – poderíamos dizer « em gérmen » e portanto segundo a « substância » – já estão presentes em nós as coisas que se esperam: a totalidade, a vida verdadeira. E precisamente porque a coisa em si já está presente, esta presença daquilo que há-de vir cria também certeza: esta « coisa » que deve vir ainda não é visível no mundo externo (não « aparece »), mas pelo fato de a trazermos, como realidade incoativa e dinâmica dentro de nós, surge já agora uma certa percepção dela” (BENTO XVI, SS, n. 7).

Como apontado acima, a vida eterna tem início em nós, habita-nos. Por isso, ela já é objeto de posse hoje e torna-se performativa, habitual. Essa presença e habitação cria a certeza racional que nos impele a buscar e esperar aquilo que não se vê, a vida eterna com Deus Senhor e Redentor. Toda essa percepção é confirmada na pessoa de Cristo encarnado, então ele é o fundamento essencial da esperança, é a demonstração da existência futura.

Continuaremos a falar deste tema na próxima publicação.


Rafael Vitto

Rafael Vitto, seminarista CN. Graduado em Filosofia e estudante de Teologia. Atuante na paróquia São Sebastião em Cachoeira Paulista.