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Jesus é a plenitude da nossa missão

A Igreja compreende-se como imagem viva da Trindade santa, povo de Deus, corpo de Cristo, templo do Espírito Santo. Nela, todos agem coordenadamente para o objetivo comum da evangelização e da missão. Inserida na história e atenta à realidade, mantendo sua identidade e vocação missionária, ela procura discernir nos desafios os sinais dos tempos.

A missão é uma resposta ao plano do Pai que determinou a forma de realizar a salvação. É a continuação da missão do Filho que chama todos os homens para participarem das novas promessas e da nova herança. É a colaboração com o Espírito Santo, com cuja luz e força o povo de Deus pode realizar a sua missão. Somente nessa perspectiva trinitária, podemos conhecer como a Igreja é por sua natureza missionária, pois, toma sua origem na missão do Filho e do Espírito Santo, segundo o propósito de Deus Pai (Ad Gentes, 2).

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Foto Ilustrativa: Wesley Almeida/cancaonova.com

“Deus amou tanto o mundo que deu Seu Filho único para que todo aquele que n’Ele crer não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus não enviou seu filho para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele” (Jo 3,16-17). Deus enviou Seu Filho na nossa carne para restabelecer a paz na humanidade e formar comunhão com Ele. Deus mesmo realiza pessoalmente sua missão de Pai dentro da história humana. É uma missão nova e superior a do Antigo Testamento. Por isso, fala-se de plenitude dos tempos: o tempo em que Deus envia o seu Filho missionário.

Em Jesus encontramos a origem da missão

No Filho Jesus há a plenitude da missão. Aos discípulos Jesus deu outro mandato: que esperassem ser revestidos da força do Alto: “recebereis a força do Espírito Santo e sereis minhas testemunhas até os confins do mundo” (At 1 ,8). Somente depois da descida do Espírito Santo, em Pentecostes, os apóstolos saem para todas as partes do mundo (Evangelii Nustiandi, 75).

Sem o Espírito Santo, a colaboração do homem na obra missionária nada vale. “As técnicas de evangelização são boas. Porém, nem as mais aperfeiçoadas poderiam substituir a ação discreta do Espírito Santo. Sem Ele, a dialética mais convincente nada consegue sobre o espírito dos homens. Sem Ele, os esquemas mais bem estruturados sobre bases sociológicas ou psicológicas revelam-se depressa desprovido de todo valor”. Assim, o Espírito Santo impõe um dinamismo à missão em todos os tempos no mundo. Os missionários nada podem fazer sem a sua assistência e inspiração. E o Espírito Santo suscita comunidades que se põem à disposição da Igreja para realizar-lhe a obra missionária.

Todos nós, religiosos, missionários e leigos comprometidos com a mesma missão do Verbo sentimos a necessidade de algo mais profundo que nos dê força para manter viva a missão no dia a dia. Essa força interior é a espiritualidade que configura nosso estilo de vida, que marca a qualidade nos nossos relacionamentos e que dá alegria e criatividade aos nossos compromissos missionários. A raiz da nossa espiritualidade missionária é a comunhão na Trindade que nos faz pessoas que sabem construir comunidades e viver na comunhão. A vida em comunidade é o nosso testemunho eloquente do mistério da Trindade como comunidade, origem, modelo e consumação de cada comunidade humana.

O Espírito Santo nos conduz

Com a convicção de que o Espírito Santo é o dinamizador da missão, há um desafio urgente para todos nós: de cultivar pessoalmente e como comunidade uma atitude de discernimento permanente. Nesse processo de escuta do Espírito, redescobrimos a necessidade de um discernimento permanente na missão. Cremos que a comunidade é o contexto ideal para o discernimento. Essa atitude implica uma abertura crítica à realidade e uma contemplação em oração à luz da Palavra para poder discernir os passos de Deus na história.

A prática construtiva da missão da Igreja se expressa hoje como diálogo profético. Entrar em diálogo implica uma capacidade de relacionar-se com os outros, de ir ao encontro dos demais e de escutar ativamente. A prática missionária de Jesus nos ensina como Ele foi uma pessoa de diálogo com todos, rompendo quaisquer preconceitos e barreiras sociais, religiosas e culturais.

Hoje somos chamados a nos dirigir, em espírito de diálogo, às pessoas que procuram a fé, às pessoas que vivem na situação de pobreza e exclusão, às pessoas de outras culturas, de diferentes tradições e de ideologias seculares.

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Reconheça a presença de Cristo

Esse espírito de diálogo se faz a partir da nossa fé, que nos capacita a reconhecer sinais da presença de Cristo e a ação do Espírito em tudo. Ele nos desafia a empenhar-nos em conversão continua, tornando-nos cada vez mais, pessoas abertas aos outros e comprometidas com a causa do Reino. O diálogo é uma atitude de solidariedade, respeito e amor que deve permear todas as nossas atividades. Sua prática se concretiza pelo diálogo da vida, pelo diálogo da ação comum por justiça e paz, pelo diálogo da experiência religiosa e pelo diálogo de intercâmbio intelectual.

Cada missionário é chamado a unir a ação à contemplação, o encontro com Deus ao encontro com os irmãos e irmãs. Compreender que quem sabe ver o necessitado com os olhos de Jesus está sempre contemplando a Deus. “Cada vez que o fizestes a um desses, meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes” (Mt 25,40).

Abrir para o amor de Deus, dentro de sua realidade de criatura limitada e frágil. Essa capacidade de amar é dom de Deus. Recusar a se fechar no próprio egoísmo e confiar em Deus que nos acolhe e nos ama, apesar dos nossos pecados. Sentir amado e acolhido por Deus e se abrir para o amor aos irmãos e irmãs de diferentes rostos. Numa sociedade que divide e exclui, compreender que o missionário deve incluir e construir comunidades onde haja o diálogo.

Os valores espirituais

Dentro desse campo, estamos sempre em formação: de início, recebemos os valores espirituais de nossos pais ou pessoas próximas, mas, com o decorrer do tempo, buscamos descobrir os novos valores, o que o Espírito tem a nos dizer. E, para que isso possa acontecer, precisamos, cada vez mais, de uma atitude e de uma prática de diálogo em que não interessa a verdade que cada um possa ter alcançado ou descoberto, mas a Verdade que buscamos. O diálogo parte, pois, do respeito pelo nosso interlocutor; no diálogo, o primeiro passo não é falar, mas ouvir e com respeito. Mais ainda, no diálogo estamos sempre dispostos a crescer porque sabemos de antemão que não temos a Verdade.

Com isso, temos, ao mesmo tempo, em nossas comunidades, uma tarefa missionária. Não vamos simplesmente ao encontro de uma religião, mas ao encontro do que o Espírito nos fala; e isso acontece também na comunidade. E o cristão de hoje sabe que a missão não é somente uma mensagem para um outro, mas também para ele; é uma chuva que deve fazer seu efeito também em sua terra. Todos estamos recebendo a cada momento os desafios do evangelho. A terra é terra de missão. Por outro lado, essa descoberta da Boa Nova lança uma luz para o mundo em que vivemos.

Os lugares que precisam dela podem estar entre povos distantes, num bairro da cidade, no quarteirão ao lado de nossa casa e até pode ser o colega que está junto a mim. Onde quer que um ser humano se pergunte pelo sentido da vida, ali está um lugar de anúncio; ali está falando o Espírito.

Como dizíamos acima, as pessoas estão carentes de espiritualidade, e nem todas as expressões de espiritualidades nos levam ao Deus da vida; muitas são simples ilusões e soluções passageiras para as circunstâncias da vida.

Por isso, uma comunidade terá como princípio, uma espiritualidade sólida que brota de uma reflexão sobre a Palavra e de uma escuta do Espírito. Será que, não está aqui o centro de nossa missão? Sermos portadores da Palavra, não de uma palavra qualquer, mas daquela que decide a existência. E, até mais, daquela que faz com a que a existência passe a ser no Plano de Deus como num paraíso. É uma missão que traz dentro de si um sonho, o Reino.

Eduardo Rocha Quintella
Fraternidade S.J. Da Cruz – O.C.D.S – BH.
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