parte I

Da oração conjugal à oração familiar

Padre Henri Cafarrel, fundador do Movimento das Equipes de Nossa Senhora, em seu livro: “Espiritualidade Conjugal – uma palavra suspeita”; reflete sobre a oração conjugal que deve evoluir para a oração familiar. Neste artigo, refletiremos sobre o tema que ele trabalhou com tanta sabedoria e profundidade.

O casal dispõe de um tempo privilegiado diariamente: a oração conjugal. Contudo, para que esse tempo não seja submergido pelas muitas demandas domésticas e pessoais, o casal precisa se organizar dentro da rotina diária. Talvez, não consigam fazer a oração conjugal todos os dias no mesmo horário. Muitas vezes, será necessário adaptar o momento de oração com as realidades conjugais e domésticas. Contudo, a oração conjugal deve ser diária e, se necessário, adaptada à rotina do casal. A fidelidade para esse momento é fundamental. Se o casal teve uma sólida formação cristã no tempo do namoro, será mais fácil inserir na vida conjugal esse momento diário de oração. Mas, mesmo para aqueles casais cuja formação cristã, enquanto eram solteiros, não foi suficientemente profunda, esses poderão, com esforço e disciplina, incorporá-la ao seu novo estado de vida.

Da oração conjugal à oração familiar

Foto ilustrativa: jjneff by Getty Images

O valor da oração conjugal

Para compreendermos o valor da oração conjugal é necessário, antes, entender o valor do matrimônio cristão. O matrimônio não é apenas o dom recíproco do homem e da mulher um ao outro, mas também o dom da  consagração do casal a Jesus Cristo. O Senhor está presente na vida deste casal que se deu a Ele. Na vida matrimonial, há uma aliança entre Cristo e o casal. Não é unicamente na oração conjugal que o casal louva o Pai, mas a oração conjugal constitui-se um “tempo forte” onde os cônjuges louvam a Deus.

Quando Jesus une sacramentalmente o casal Ele deseja estabelecer na vida conjugal um “santuário”, uma Igreja Doméstica, que é o lar cristão. Na vida do casal, para que a oração conjugal gere frutos é necessário, em primeiro lugar, que os cônjuges estejam unidos espiritualmente. Todas as divergências que possam estar enraizadas na alma de cada um deverão se dissipar para que a paz seja restabelecida. Perdoar-se mutuamente é essencial para que o momento da oração conjugal seja uma ação interior de unidade do casal com Deus, e não apenas um rito formal para cumprir uma obrigação diária.

Uma segunda disposição é a renovação da fé na presença de Cristo na vida do casal. Foi Cristo quem os uniu, e o Senhor se faz presente junto deles na vida matrimonial. Unidos a Cristo, o casal é chamado a escutar o Senhor. Isto significa que, toda oração conjugal deve iniciar-se com a leitura das Sagradas Escrituras, acompanhada de um tempo de silêncio e meditação. Após ouvir o Senhor, o casal é chamado a falar com Ele, exprimindo suas necessidades, súplicas e louvores. Nada impede que o casal use orações litúrgicas da Igreja. Contudo, essas não devem impedir que os cônjuges expressem abertamente, ao Senhor, os anseios e louvores de sua vida conjugal.

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Ser fiel ao exercício da oração conjugal

Embora a metodologia da oração conjugal seja extremamente simples, muitos casais encontram dificuldades em realizá-la juntos ou, com o passar do tempo, até mesmo a abandonam. Outros casais alegam que haja bloqueios em se expressar a nível espiritual diante de seu cônjuge. Outros ainda apontam a formação espiritual como dificuldade de conciliação no momento de orarem juntos. A chave para essas questões será sempre a fidelidade a esse tempo forte na vida a dois.

Com o tempo e a prática, o casal irá descobrir que a comunhão de vida que ambos vivenciam diariamente será o caminho para a quebra da timidez e a unidade das diferentes formações espirituais que receberam ao longo da vida. A oração conjugal é um tempo forte de intimidade do casal com o Senhor e é um prolongamento do Sacramento do Matrimônio, o que auxilia a manter sempre viva a chama da graça dessa união. À medida que o casal avançar no exercício da oração conjugal, irá colher os frutos desses tempos fortes em sua vida conjugal e familiar.

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Padre Flávio Sobreiro

Bacharel em Filosofia pela PUCCAMP e Teólogo pela Faculdade Católica de Pouso Alegre (MG), padre Flávio Sobreiro é pároco da Paróquia São José, em Toledo (MG), e padre da Arquidiocese de Pouso Alegre (MG). É autor de livros publicados pela Editora Canção Nova, além disso, desde 2011,  é colunista do Portal Canção Nova. Para saber mais sobre o sacerdote e acompanhar outras reflexões, acesse: @peflaviosobreirodacosta.