Família

Da oração conjugal à oração familiar

No artigo anterior, refletimos sobre o valor da oração conjugal e como ela pode auxiliar o casal a buscar a graça santificante do Sacramento do Matrimônio. Hoje, iremos trabalhar o tema da oração familiar, tendo como referência a obra “Espiritualidade conjugal – uma palavra suspeita”, cujo autor é o padre Henri Cafarrel, fundador do Movimentos das Equipes de Nossa Senhora.

Em seu livro, padre Henri Cafarrel nos diz que muito rapidamente o casal se torna família. E a oração conjugal, de um modo natural, evolui para a oração familiar. Isso não significa que a oração conjugal deixe de existir, mas ocorre um desenvolvimento gradativo.

A oração familiar nasce da maturidade espiritual do casal que, por saberem os benefícios de orarem em comum, desejam ampliar essa realidade orante também aos filhos. Muitos casais realizam a oração familiar apenas por tradição ou como um dever. Outros colocam os filhos no contexto orante apenas como meros expectadores. Há casos em que os pais obrigam seus filhos a recitar o Terço ou outras orações da Igreja. Todos esses caminhos que muitos casais utilizam para o momento da oração familiar gera dispersão dos filhos e abandono da rotina orante na família.

Da oração conjugal a oração familiar

Foto ilustrativa: FatCamera by Getty Images

Como deve caminhar a oração conjugal para a familiar?

A oração conjugal deve caminhar para a oração familiar. Isso não significa que o casal deva abandonar a oração conjugal, pois a oração familiar é uma extensão da oração conjugal. Ambas estão entrelaçadas e se complementam gerando frutos de santidade também nos filhos.

A oração familiar deve dar um grande espaço à Palavra de Deus, acompanhada de um momento de silêncio e meditação e, em seguida, uma partilha espontânea sobre o que Deus falou e como todos respondem ao Senhor. Essa metodologia é a mesma praticada na oração conjugal; contudo, na oração familiar também estão presentes os filhos, que podem ainda ser crianças, adolescentes, jovens ou adultos.

É de fundamental importância que o casal tenha sensibilidade para respeitar as etapas de amadurecimento espiritual de cada filho em seus níveis de desenvolvimento humano, psicológico e espiritual dentro da atividade orante. Uma metodologia mais elaborada acerca da reflexão da Palavra de Deus pode tornar monótono o momento para uma criança de cinco anos, no entanto, se for para um jovem, utilizar desse recurso pode ser excelente. Tudo irá depender de como cada filho encontra-se na caminha cristã. Bom senso sempre será fundamental.

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Oração familiar

O tempo também é essencial, pois crianças se cansam com bastante facilidade. Assim sendo, realizar uma oração familiar que ultrapasse os dez minutos pode ser um verdadeiro tormento para uma criança ainda pequena. O gosto pela oração será desenvolvido no coração de cada filho pela atração e não pela imposição exagerada de certas normas e regras, que apenas os adultos compreendem.

Os pais devem ensinar seus filhos que a oração é um diálogo de amor com Deus. E essa conversa se desenvolve na espontaneidade. Por isso, o casal deve incentivar os filhos a se expressarem diante de Deus com palavras simples que brotam da alma e da compreensão que a idade lhes permite ter de Deus. E esse ensino se dará, em primeiro lugar, pelo exemplo dos próprios pais, evitando, na oração familiar, junto aos filhos ainda pequenos, usarem palavras difíceis ou até mesmo incompreensíveis para a idade das crianças.

A oração familiar é um fator de unidade no lar; ela promove a comunhão de todos os membros. Reunidos em comunidade, formando um “Santuário de Amor”, uma “Igreja Doméstica”, o casal ajudará a desenvolver na alma dos filhos um imenso amor a Deus e pelas Sagradas Escrituras.

Segundo padre Henri Cafarrel, o que forma a alma religiosa dos filhos é o espetáculo de um pai e de uma mãe em adoração diante de Deus. Mas é preciso cuidado para que os gestos e palavras dos pais revelem uma adoração a Deus em espírito e verdade.

Reafirmamos, ao final deste artigo, o que já alertávamos no início: a oração conjugal é indispensável. Se a oração conjugal for verdadeira, a familiar também será. Ambos os momentos se complementam, e um não dispensa o outro.

 

 

 

 


Padre Flávio Sobreiro

Bacharel em Filosofia pela PUCCAMP e Teólogo pela Faculdade Católica de Pouso Alegre (MG), padre Flávio Sobreiro é pároco da Paróquia São José, em Toledo (MG), e padre da Arquidiocese de Pouso Alegre (MG). É autor de livros publicados pela Editora Canção Nova, além disso, desde 2011,  é colunista do Portal Canção Nova. Para saber mais sobre o sacerdote e acompanhar outras reflexões, acesse: @peflaviosobreirodacosta.