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São José: um exemplo de discípulo para os cristãos

São José é colocado como exemplo de discípulo fidedigno, modelo de verdadeiro discípulo cristão

Muitos cristãos são devotos de São José, apreciam-no como exemplo de homem santo, defensor da Sagrada Família, mas será que esse amor a São José não é superficial?

Esse pequeno texto quer mostrar um pouco da relevância de São José para o evangelista Mateus, ou seja, entender o projeto teológico-catequético no qual o pai de Jesus está inserido.

O Evangelho de Mateus foi escrito por volta do ano 85, onde a comunidade cristã mateana estava vivendo uma crise de fé. Muitos cristãos provinham do judaísmo, e estes estavam receosos de abandonar a fé tradicional e aderir ao seguimento de Jesus. Com o intuito de ajudá-los, Mateus escreve seu Evangelho, uma espécie de resumo da proposta cristã para quem deseja se tornar um autêntico discípulo de Jesus. Para ele, o discipulado cristão resume-se em ouvir a Palavra de Deus e colocá-la em prática (Mt 5-7). Deve-se superar a centralidade da letra, não viver uma prática exterior e exibicionista como alguns fariseus, mas atingir o espírito da Lei, a vontade do Pai.

São José: um exemplo de discípulo para os cristãos

Foto ilustrativa: Andréia Britta/cancaonova.com

Dentro desse horizonte de Mateus, José é colocado como exemplo de discípulo fidedigno, modelo de verdadeiro discípulo cristão. Em Mateus 1,18-25, a figura de José, além de estar no contexto da tradição da concepção virginal, como quem faz o elo entre Jesus e a linhagem davídica, José se reveste de todas as virtudes, tornando-se um discípulo do Reino por antecipação.

Discípulo exemplar

José é referido como “justo” (Mt 1,19). No sentido mais amplo no contexto de Mateus, justo é quem se pauta pela vontade divina e encontra nela o rumo de sua existência. O querer e o agir do justo estão sempre voltados para Deus. Tudo quanto faz é expressão de sua fidelidade (justiça) a Deus. José descobre a vontade de Deus mesmo em meio às dúvidas e incertezas, porém, sem abrir mão da disposição de, em tudo, ser fiel a Ele. Assim, ser justo, no caso de José, significa ser discípulo exemplar, todo centrado em Deus.

José é abordado pelo Anjo do Senhor, enquanto está dormindo e sonhando (Mt 1,20b). Em José, temos a postura do ser humano em processo de escuta dos apelos de Deus. Dormir é quando o indivíduo cessa todas as atividades e fica como morto. Não podendo rebater e justificar-se, dispõe-se inteiramente para acolher o apelo de Deus. A agitação e o ativismo são impedimentos para quem quer estar disponível nas mãos de Deus. Por isso, quem quer seguir o Senhor deve colocar-se com docilidade e liberdade à escuta d’Ele.

Após a receptividade (sono-sonho), segue a atividade humilde e eficaz de José. Nenhuma outra ação se insere entre a ordem divina e a sua execução, pois se passa da escuta da Palavra à sua imediata realização. Assim, ele se torna prefiguração dos “justos” do Novo Testamento, que escutam a Palavra de Deus e põem-na em prática. Homem do silêncio, da obediência silenciosa, como afirma o Papa Francisco. O Anjo do Senhor chama José de “Filho de Davi” (Mt 1, 20b). José está inserido no âmbito do povo eleito, retratando o primeiro israelita a se tornar discípulo do Messias Jesus. Ele abre o caminho para as futuras gerações que haveriam de acolher a Palavra e praticá-la. Daí, nasce o verdadeiro Israel, formado por quem abraçou o Reino anunciado por Jesus.

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José era movido pela vontade de Deus

José recebe a missão de, no futuro, “dar nome” ao menino (Mt 1,25b). Dar nome, na Bíblia, tem uma conotação particular de assenhoramento, apropriação de algo. No caso de José, não poderá se tornar senhor de Jesus, cujo Senhor é o Pai. Este, por meio do Anjo, determina o nome a ser dado por José ao filho que haverá de nascer. Com o gesto de dar-lhe o nome sugerido pelo Anjo, José assumia um papel social em relação a Jesus, e, assim, cumpria a missão reservada para ele como discípulo do Reino.

José abraça a proposta divina sem medo. “José, despertando do sono, fez como lhe ordenou o anjo do Senhor e recebeu sua mulher” (Mt 1,24). É a ação das pessoas movidas pelo vontade de Deus, quando chegam a reconhecê-Lo. José age por livre decisão, o que mostra a transcendência divina que respeita a liberdade humana. E José o chamou com o nome de Jesus” (=Deus – Javé – salva!), o ápice do cumprimento da ordem divina, e José foi o primeiro a ter acesso a essa revelação. Ele entende a vontade de Deus e age como discípulo autêntico, praticando-a sem hesitar.

José é o discípulo de Jesus Cristo, modelo para toda a comunidade mateana. Ainda hoje, continua sendo exemplo para toda a Igreja. Não basta somente apreciá-lo, é preciso seguir seus passos. A postura de escuta e a prática da vontade de Deus mostram a verdadeira devoção que se deve ter a São José, para que, como ele, nos tornemos discípulos de Cristo. Para quem se interessar num maior aprofundamento bíblico, deixo a sugestão do artigo “O discipulado cristão segundo Mateus – A figura de José (Mt 1,18-25)”, de Jaldemir Vitório SJ. Artigo que foi a base deste texto.

São José, valei-nos!

Formação Canção Nova