Humildade

Existe uma forma de curar a soberba e o orgulho?

Esse é um problema universal em todas as línguas, em todos os tempos. Desde o pecado original do orgulho de Adão e Eva, todos e cada um de nós nascemos dentre um mundo de natureza soberba, que é a natureza de se rebelar. Nós tendemos a pensar que nossa carne é capaz de todas as coisas e que podemos ser autônomos, temos o direito de fazer as coisas.

Aprendamos com os padres do deserto. Certa vez, um discípulo se aproximou desse velho padre do deserto e perguntou com reverência, chamando-o de pai: “Pai, que palavras de sabedoria, que herança o senhor poderia nos deixar?” O padre então, após um longo silêncio, respondeu: “Filhos, em todos os meus anos, eu tenho aprendido apenas duas coisas: uma como uma criança, e a outra eu batalhei duramente durante toda a minha vida com todas as minhas forças. O que eu aprendi como uma criança foi que verdadeiramente há um Deus! A segunda, que eu batalhei em toda a minha vida, é: eu verdadeiramente não sou Ele.”

A raiz dessa doença

A causa raiz do orgulho é a nossa herança orgulhosa herdada de nossos antepassados, dos nossos pais. Deles nós temos herdado nosso próprio desejo carnal vazio, que anseia a presença do doce hóspede da alma, que é o Espírito Santo de Deus. Pela nossa natureza pecadora, nós caímos no que nós não somos capazes de fazer e também naquilo que não é para fazermos, mas fazemos. São Paulo aos romanos (7,24) nos adverte: “Quem me libertará desta minha carne que me leva direto para a morte?”.

Existe uma forma de curar a soberba e o orgulho

Foto Ilustrativa: wasja by Getty Images / cancaonova.com

Outra causa é a falta de desejo de nos rendermos ao senhorio do Senhor Jesus Cristo. Nós nos acostumamos tanto a fazer as coisas do nosso jeito, que não vemos outro caminho — e é normal pensar assim —, e nos mantemos presos ao nosso próprio ego. Quando tomamos esse caminho, passamos a ser deus de nós mesmos. Como todo deus que se prese, tem que fazer de tudo para controlar as coisas para que tudo dê certo. Assim vêm as grandes derrotas, pois não conseguimos controlar as coisas e as pessoas, aí, ao primeiro dissabor, já experimentamos o grande fracasso do vazio espiritual e o espírito de culpa. Como pudemos errar, se planejamos tudo do melhor jeito? Somente quando nos rendemos ao senhorio do Senhor Jesus podemos ser livres.

Mais uma causa é a falta de vida de fé e oração constante e de crer piamente em Deus. Somente numa vida no Espírito podemos derrotar a nós mesmos (ego) e o pecado.

Três motivos para a humildade

1. O primeiro motivo é que nos fortalecemos como seres humanos. Vemos isso nos anjos e em Jesus como Filho do homem, totalmente submisso à vontade de seu Pai (Jo 5,19).

2. O segundo motivo para se humilhar é que isso me convence como pecador. Nós somos chamados à vida nova pelo Espírito do Cristo Vivo dentro de nós, e nós não podemos fazer nada sem Ele.

3. O terceiro motivo é que isso me confirma como santo. Devemos viver pela graça e assim nos perdermos no amor de Cristo, um amor redentor.

Estratégia de aconselhamento

Como devemos aconselhar alguém sobre a quebra da soberba e do orgulho? São 13 passos que devemos percorrer e completar:

1. Fazer um exame de consciência bem feito, nas profundezas do coração, e reconhecer que sem Jesus Cristo nada podemos fazer.

2.Ladainha da humildade:

Jesus manso e humilde de coração, cura-me
Do desejo de ser estimado, liberta-me, Ó Jesus!
Do desejo de ser amado, liberta-me, Ó Jesus!
Do desejo de ser exaltado, liberta-me, Ó Jesus!
Do desejo de ser honrado, liberta-me, Ó Jesus!
Do desejo de ser louvado, liberta-me, Ó Jesus!
Do desejo de ser preferido aos outros, liberta-me, Ó Jesus!
Do desejo de ser consultado, liberta-me, Ó Jesus!
Do desejo de ser aprovado, liberta-me, Ó Jesus!
Do medo de ser humilhado, liberta-me, Ó Jesus!
Do medo de ser desprezado, liberta-me, Ó Jesus!
Do medo de ser repreendido, liberta-me, Ó Jesus!
Do medo de ser caluniado, liberta-me, Ó Jesus!
Do medo de ser esquecido, liberta-me, Ó Jesus!
Do medo de ser ridicularizado, liberta-me, Ó Jesus!
Do medo de ser enganado, liberta-me, Ó Jesus!
Do medo de ser suspeito, liberta-me, Ó Jesus!
Que os outros podem ser mais amados do que eu
Jesus, dá-me a graça de desejar isso.
Que outros possam ser mais estimados do que eu
Jesus, dá-me a graça de desejar isso.
Que na opinião do mundo outros podem aumentar, e eu, diminuir
Jesus, dá-me a graça de desejar isso.
Que outros possam ser escolhidos, e eu, deixado de lado
Jesus, dá-me a graça de desejar isso.
Que outros possam ser aclamados, e eu, ignorado
Jesus, dá-me a graça de desejar isso.
Que outros possam ser preferidos a mim em tudo
Jesus, dá-me a graça de desejar isso.
Que outros possam se tornar mais santos do que eu; faça que eu possa me tornar tão santo quanto eu deveria
Jesus, dá-me a graça de desejar isso.
Amém!

Alegre-se pela alegria do próximo

3. Rejubilar na sua fraqueza: este exercício fará você se manter mais humilde, aberto à graça. Ajudará no caminho da verdadeira compaixão, e não da pena, tornando-lhe mais compassivo com os erros dos outros, fazendo-lhe menos julgador.

4. Alegre-se quando o outro está exaltado: essa exaltação faz com que você melhore, pois eles são seus irmãos e suas irmãs.

5. Aceite toda humilhação e provas; por todos seus pecados, você merece muito mais.

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7. Torne-se um servo humilde: tenha sempre em seu caminho o exemplo de Jesus, que disse que não veio ao mundo para ser servido, e sim para servir.

8. Interceda diariamente por aqueles ao seu redor para que cresçam em sabedoria, santidade e graça.

9. Nunca condene, ao contrário, entenda que, pela graça de Deus, vou eu, faço eu!

10. Medite em frente à cruz de Cristo.

11. Receba a Eucaristia frequentemente. Entenda que cada vez que você O recebe, você se torna osso com Seu osso, santidade com Sua santidade e humildade com Sua humildade.

12. Humilhe-se indo à confissão mais frequentemente. Sempre comece dizendo: abençoe-me, padre, por eu ter pecado. E reze: Senhor, seja misericordioso comigo, pois sou pecador.

13. Entenda que nós somos chamados a grandes coisas, seguindo Maria, que disse: “O Senhor fez em mim maravilhas, santo é o seu nome!” Nós somos chamados a pensar e a amar como Jesus faz pelo poder do seu Espírito.

Palavras a serem proclamadas no momento dessa oração de poder:

• “Quem quiser ser o maior que seja o último, que seja o que serve” (Mt 23,11).
• “Aprenda comigo, que sou manso e humilde de coração”(Mt 11,29).
• “Quem se exaltar será humilhado, e quem se humilhar será exaltado” (Mt 23,12).
• “Os 24 anciãos davam glória, honra e ação de graças ao que estava sentado no trono e que vive para sempre. E cada vez que os seres vivos faziam isto, os 24 anciãos se prostravam diante daquele que estava sentado no trono, para adorar o que vive para todo o sempre. Depunham suas coroas diante do trono de Deus e diziam: ‘Tu és digno, Senhor nosso Deus, de receber a glória, a honra e o poder, porque criaste todas as coisas. Por tua vontade é que elas existem e foram criadas.’” (Ap 4,8-11).
• “Haja entre vós o mesmo sentir e pensar que no Cristo Jesus. Ele, existindo em forma divina, não considerou como presa agarrar o ser igual a Deus, mas despojou-se, assumindo a forma de escravo e tornando-se semelhante ao ser humano. E encontrado em aspecto humano, humilhou-se, fazendo-se obediente até a morte, e morte de cruz” (Fl 2,5-11).
• “Eu, porém, estou entre vocês com aquele que serve” (Lc 22,27).

Oração

Senhor, ajuda-me a compreender que a humildade em relação ao meu irmão é a única prova verdadeira de que eu sou humilde perante vós. Tornar-me um servo fiel ao Senhor é a única verdadeira prova de que a humildade preenche todo o meu coração. Desse modo, na tua presença, meu coração não será mais vazio, mas preenchido pelo teu Espírito Santo, que vivifica. Ajuda-me, como Santa Teresa de Calcutá e tantos outros santos, e que a insignificância de cada dia no serviço ao Senhor e aos outros me teste e me capacite para alcançar a vida eterna.

Que minha humildade possa me acompanhar diariamente. E permita-me te oferecer toda a glória, toda a honra, pois somente por tua graça conseguimos vencer a nós mesmos, pois sem ela nada podemos fazer. Amém!

Trecho extraído do livro “Tratado da cura interior”, de José Augusto Nasser dos Santos