Teresa de Ávila

Nada te perturbe,
Nada te espante,
Pois tudo passa,
Só Deus não muda,
Tudo a paciência,
Por fim alcança.
Quem a Deus tenha,
Nada lhe falta,
Só Deus basta.

(Poesia IX de Santa Teresa de Ávila)

OS ESCRITOS

Teresa escreveu mais de mil páginas de reflexões, orações e poesias. Suas extensas 450 cartas abrangem outras mil páginas.

O modo de escrever de Teresa e a personalidade dela: exuberante, extravagante e até brilhante. Escreve como vive – com encanto e entusiasmo. Espontânea e repetidamente exclama das profundezas de seu ser: “Oh!”. Somente nos solilóquios, que abrangem apenas vinte páginas, ela usa a exclamação “Oh!” Mais de noventa e três vezes. Chega a usar até três vezes numa única frase.

A Santa escreve com liberdade e espontaneidade, revelando suas profundezas com facilidade, mas discretamente. O castelo interior é um profundo tratado teológico sobre a vida mística.

O livro da vida é um diálogo com o confessor e amigo da Santa, Garcia de Toledo.

O caminho da perfeição trata dos requisitos fundamentais para a vida espiritual. Nele Teresa dialoga com as suas co-irmãs, tratando-as a um tempo como filhas e amigas, e assim mostra a grande capacidade de se relacionar com as demais diversos modos. Ela se dirige também a nós como se estivesse conosco face a face, e se mostra descontraída fazendo confidências pessoais.

Desviando-se do tema sempre de novo, ela volta e meia cai em si (e pergunta: “onde é mesmo que eu estava? Oh! Sim…)”. E volta ao tema principal, retomando o fio da meada. Eis aí algo enlouquecedor e agradável ao mesmo tempo, pois as divagações da Santa são, com freqüência, seus parágrafos mais apaixonantes e importantes. “Tantas coisas passam pela minha mente”, revela-nos ela. “Oxalá, se tivesse muitas mãos para pô-las todas por escrito no papel, assim eu não conseguiria esquecer nada!”.

Pelo fato de ela nos falar com tanta intimidade e de se entusiasmar tantas vezes, os escritos teresianas nem sempre são sistemáticos. Ela os chama de “rudes” e “pesados”, “confusos” e “desordenados”. Ela passa alternadamente da primeira pessoa do singular para a terceira, passa também do modo passado do tempo ao modo presente e usa múltiplos verbos e superlativos. Não se pode chamar de definitiva a nenhuma de suas declarações sobre tópico algum, pois ela é capaz de dar alhures uma opinião mais detalhada e até contraditória com a anterior.

Teresa escreveu suas obras mais importantes em obediência aos confessores e diretores espirituais. Freqüentes vezes escrevia já bem tarde da noite ao invés de dormir, sentada uma esteira de cortiça no chão da cela monástica, usando para escrever uma pena de ave e como escrivaninha um bloco pedra. Inúmeras vezes ela era interrompida durante meses, seja por doenças, seja por crises.

Por onde começar a ler os escritos teresianos? Comecemos pelo livro da vida. Parece não ser uma autobiografia, em sentido estrito, por enfocar sua vida interior. Esse livro revela detalhes concretos suficientes dos primeiros cinqüenta anos da Santa, ajudando-nos a ver a semelhança com a nossa própria vida.

Em seguida passemos a ler os testemunhos espirituais, em particular o de número 58, que foi escrito para a Inquisição em Sevilha dez anos depois do livro da vida.

Resume em seis páginas o que Teresa desenvolveu em trezentas no livro da vida. O testemunho 59 apresenta a terminologia mística e relata sucintamente seu estado de ânimo naquela época. O testemunho 65, escrito para o seu querido amigo Dr. Alonso Velásquez, em 1581, mostra como ela passou dos seus tormentos iniciais para uma extraordinária paz interior.

Os solilóquios apresentam exemplos concretos de oração teresiana. (em português, com título exclamações da alma a Deus) (NT).

Talvez sejam as cartas o maior legado de Teresa, pois ela as escreve sem qualquer constrangimento. Revelam aspectos de sua personalidades não encontrados em outros escritos.

Lendo as cartas temos a impressão de que o tempo parou e passamos a ouvir a voz da própria Santa sentada bem junto de nós – sorrindo ou chorando, advertindo ou provocando.

Em fundações, Teresa descreve a origem de cada um dos mosteiros fundados por ela. Não consideraremos irrelevante tal escrito, descartando-o, pois ele está cheio de sugestões sobre como tornar realidade o nosso próprio sonho pessoal.

Com freqüência a Santa de Ávila sentia constrangimento ao escrever. Ela considerava tarefa difícil devido ao caráter inefável da experiência mística que tentava relatar. Ela fala humildemente de sua luta e confusão, sabendo que uma coisa é experenciar Deus, outra entender a experiência, e bem outra ainda saber como explicá-la. Ela usa recursos diversos para ajudar a entender: metáforas, comparações e imagens vividas captadas a partir de todos os aspectos da vida humana – natureza, casamento, viagem, economia, medicina, cozinha e jardim. Com freqüência, ela escrevia depois de receber a comunhão experimentando in loco o que estava escrevendo, enquanto “sua majestade” (o nome favorito com que ela chamava Cristo) e o Espírito Santo moviam a pena da sua mão.

O castelo interior é a obra-prima de Teresa. Foi escrita doze anos depois do livro da vida, quando ela tinha sessenta e dois anos de idade. Burilada e purificada por uma vasta experiência da aventura humana, tanto temporal, como espiritual, a santa está visivelmente integrada e santa, sábia e consagrada. Vários teresianistas recomendam aos que vão ler apenas uma obra da santa, que essa seja o castelo interior. Pois trata-se de uma verdadeira síntese do ensino mais refinado dela, mas se limitarmos a ler apenas um livro, desconheceremos então toda a dor e beleza sentidas por ela ao longo do caminho rumo ao estágio mais sublime do crescimento espiritual, que ela chama de “a sétima morada”.

No livro da vida, encontramos evidência detalhada do acrisolador processo de refinamento pelo qual devemos passar a fim de que nossa vida chegue, enfim a ficar destilada num raro licor – gostosamente delicioso e divinamente inebriante.

Seu Irmão
Eduardo Rocha Quintella
Continuo Orando Por Você…

Eduardo Rocha Quintella – Fraternidade S.J. Da Cruz – O.C.D.S – BH.
Adorador Noturno da Catedral Nossa Senhora Da Boa Viagem
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Belo Horizonte M.G.