A velhice tem sentido

Idosos, não tenham medo da velhice

“Que os homens idosos sejam sóbrios, dignos, ponderados, cheios de uma fé sadia, de amor, de perseverança. Igualmente as mulheres idosas devem se comportar como convém às pessoas santas: nem maldizentes nem dadas a excessos de vinho. Incitem ao bem, ensinem as jovens a amarem seus maridos e filhos, a serem modestas, castas, dedicadas aos afazeres domésticos, boas, submissas a seus maridos, a fim de não ser blasfemada a palavra de Deus.” (Tito 2,1-5).

A velhice, como todas as etapas do ciclo de vida humana, é plena de significado, de realizações e desafios. Compreende, de certa forma, três tarefas: olhar para trás, viver o presente e olhar para a frente.

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Foto Ilustrativa: Rawpixel by Getty Images

Olhar para trás é a ação que leva o idoso a fazer um balanço da sua vida: suas experiências, conquistas, aprendizados, alegrias, perdas e dores que construíram sua história pessoal. Esse olhar deve, inicialmente, procurar os êxitos, as ações bem sucedidas, as experiências felizes, o que foi suportado com coragem, as contribuições próprias que foram prestadas à humanidade e, principalmente, o amor recebido e o amor doado. Essa colheita dos frutos da própria existência é algo que sempre pode ser contemplado com os olhos do espírito. São os dons que banharam em ouro a vida do homem. Esse olhar para trás, por fim, leva o idoso a saber para que foi bom ele ter vivido.

O olhar dos idosos sobre a vida

O filósofo Immanuel Kant expressa esse olhar de forma muito bela: Dias luminosos… não chores por terem passado, antes sorrias por haverem existido. Mas o olhar retrospectivo também traz outras coisas à lembrança: os dias cinzentos, a angústia, os medos, fracassos, a vida que não foi vivida, o tempo não aproveitado ou erradamente aproveitado, pois são lembranças que pesam na alma da pessoa idosa, e resta-lhe pouco tempo para acrescentar à vida alguma coisa que possua sentido.

Uma recomendação às pessoas idosas é que busquem a reconciliação no seu olhar para trás. Perdoar é uma das grandes oportunidades de sentido na velhice, e realizá-lo equivale a reconciliar-se consigo mesmo, com os outros e com a própria história. O perdão pode recuperar toda uma vida sem sentido e, no instante final, dar a ela a plenitude existencial.

Viva o presente

A segunda tarefa que chamamos de “viver o presente”, é a oportunidade de que agora se pode e se deve fazer aquilo para o qual se é chamado. Cada ser humano tem um chamado para alguma coisa, mas esta “alguma coisa” não lhe pode ser imposta. Ele mesmo deve encontrá-la com a sabedoria do seu coração, ele mesmo precisa afirmá-la como o seu sim à vida. O homem cresce por suas tarefas, mas também diminui com a perda delas, por isso, é necessário que, em cada fase da vida, se desempenhe tarefas adequadas à própria situação e às próprias forças. Na velhice, esta é uma vantagem, pois o esquema rígido de atividades a serem cumpridas, de normas e pressões, desafoga-se, permitindo que as tarefas sejam realizadas muito mais por prazer do que por exigência econômica e social.

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Não esqueçamos isto: o idoso já realizou sua parte de contributo à sociedade. Ele não pode mais ser convocado como uma mão de obra barata para outros serviços, apenas podemos lhe pedir ajuda onde ela se faz necessária. O que ele fizer, que o faça espontaneamente. Essa perspectiva corresponde ao caráter da “vida como tarefa”, pois a todo homem é dada uma tarefa, mesmo que seja apenas a de suportar sua situação com bom humor e paciência. Essa tarefa é o sentido do momento presente.

Não tenha medo do recomeçar

A terceira tarefa é olhar para a frente, pois também o idoso tem um futuro diante de si, mesmo que esse futuro esteja resumido a dias, meses ou anos. Muitas pessoas idosas não começam nada de novo, porque pensam que não vale mesmo a pena. O medo de começar algo e vir a deixar incompleto é uma justificativa, mas assim deveria ser para todos nós: crianças, jovens e adultos, pois quem de nós pode assegurar a própria existência? Nunca sabemos até que ponto iremos chegar quando iniciamos uma coisa nova e, mesmo que o futuro não venha a realizar-se, o fato de olhar para ele e de planejá-lo já é, em si, uma experiência bonita, uma vivência que vale a pena ser vivida.

Por fim, quem vive consciente da responsabilidade de dar a cada momento um sentido para sua vida, pode olhar tranquilo para a velhice e para a morte. O olhar para a frente traz consigo também o olhar para a morte, e nesse caminhar para a pátria verdadeira do ser humano: o céu, uma vida plena de significado e um confiante olhar para Deus, renova a esperança de um dia ouvir: “Vinde, benditos de meu Pai!”. Na vanguarda desse caminho estão os idosos.

Juliana Lemos
Comunidade Aliança Shalom

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