mãe de Deus

A esperança inabalável de Maria

‘Salve Rainha. Mãe de misericórdia. Vida, doçura, esperança nossa, salve!’. Maria ‘sobressai entre os humildes e os pobres do Senhor; e, confiantes, esperam e recebem d’Ele a salvação com Ela. A Filha de Sião por excelência, após a longa espera da promessa, completam-se os tempos e se instaura a nova Economia’ (LG 55).

Assim apresenta o Concílio Maria, em quem se concentram todas as esperanças de Israel. Todos os anseios e suspiros dos profetas ressoam no coração d’Ela, atingindo uma intensidade até então desconhecida, que lhes apressa a realização.

Ninguém mais do que Ela esperou confiante a salvação e, justamente n’Ela, as divinas promessas começam a cumprir-se. O ‘Magnificat‘ — o canto brotado do Seu coração no encontro com a prima Isabel —, exprime muito bem essa atitude interior da Virgem totalmente entregue à esperança em Deus, esperança, enfim, realizada: ‘Minha alma engrandece o Senhor (…) porque olhou para a humildade de Sua serva’ (Lc 1, 46.48). Consideradas no quadro da sua vida, exprimem essas palavras o constante movimento do coração de Maria que, da plena consciência da Sua indigência, atira-se em Deus com a mais intensa esperança.

A esperança inabalável de Maria

Foto ilustrativa: CHBD by Getty Images

Maria, a humilde Mãe de Deus

Nenhuma criatura mais do que Ela tem a ‘ciência’ concreta e prática do próprio nada: sabe que tudo o que é e tudo o que tem não é seu, e sim de Deus; é puro fruto da sua liberalidade; e sabe que se Deus não A sustentasse a todo instante, recairia no puro nada. Ao tornar-se Mãe de Deus, a singular missão e os grandes privilégios recebidos do Altíssimo de modo algum diminuem Sua humildade: longe de assustá-La e desanimá-La, servem-lhe de ponto de apoio para lançar-se em Deus com mais rápido movimento de esperança.

Justamente porque, como pobre de espírito, nenhuma confiança tem nos próprios recursos, coloca em Deus toda a sua confiança. E Deus que ‘cumulou de bens os famintos e despediu os ricos de mãos vazias’ (ibidem, 53). Saciou-lhe a ‘fome’, atendeu as suas esperanças não só cumulando-A de seus dons, mas dando-Se a Ela do modo mais pleno e cumprindo n’Ela as esperanças de Seu povo.

Nossa Senhora pôs-se inteira e foi inabalável na Sua esperança, mesmo nos momentos mais difíceis e obscuros. Quando José, tendo percebido n’Ela os sinais da maternidade cuja origem ignorava, pensava ‘deixá-La secretamente’ (Mt 1, 19), Maria, tendo a intuição do angustioso estado de espírito de Seu puríssimo esposo e do risco a que Ela própria estava exposta, não quis manifestar o que lhe havia revelado o Anjo. Cheia de esperança no socorro divino, preferiu calar e abandonar Sua sorte nas mãos de Deus.

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Esperança heroica

‘No silêncio e na esperança estará a vossa força’ (Is 30, 15), disse o Espírito Santo, e assim foi para Maria. Cala-Se sem procurar justificar-Se junto de José, permanece tranquila e serena num momento mais do que nunca delicado e difícil, porque está cheia de confiança em Deus. Toda a Sua vida, aliás, foi contínuo exercício de esperança heroica. Quando, nos trinta anos transcorridos em Nazaré, Jesus, primeiro menino, depois rapaz, em seguida homem como todos os outros, nenhum sinal externo dava-lhe de que seria o Salvador do mundo, não cessava Maria de crer e esperar na realização da divina promessa.

Quando começaram as perseguições contra o Filho preso, processado, crucificado, e tudo parecia enfim terminado, a esperança de Maria continuava intacta, antes, aumentava sempre mais e lhe dava força para permanecer firme ‘junto à cruz de Jesus’.

Quão pobre é nossa esperança comparada à de Nossa Senhora! Por não saber confiar totalmente em Deus, sentimos sempre a necessidade de recorrer a tantos expedientes para conseguir alguma segurança, algum apoio humano! Mas porque tudo isto é instável, continuamos sempre agitados, inquietos, abatidos pelas tempestades. A escuridão aterroriza-nos, as provações fazem-nos vacilar e, às vezes, até duvidar do auxílio divino. Nossa Senhora indica-nos o único caminho da serenidade, da segurança e da paz interior, mesmo em meio das mais difíceis situações: a total confiança em Deus! ‘Em vós, ó Senhor, esperei e não serei confundido para sempre’ (Te Deum).

Eduardo Rocha Quintella

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