ética

É possível ser honesto e não se envolver com corrupção?

A corrupção está presente em todos os lugares

Definida pelo ato ou efeito de corromper, decompor, a corrupção está mais comum ligada à figura da devassidão, depravação e perversão. Ela possui a capacidade de trazer à tona aquilo que há de mais sujo no homem. E o pior: ela está presente em todos os lugares, independentemente de classes sociais e padrões econômicos.

A corrupção destrói os relacionamentos sociais, familiares, religiosos, políticos. Destruindo o próprio homem que foi criado para a comunhão com os outros, fazendo desses as vítimas, pois, na busca de vias desonestas, o homem corrupto acaba por decompor a si mesmo, prejudicando seus relacionamentos e identidade. É semelhante ao mito de Narciso, que, apaixonado por si mesmo e sua imagem, acaba morrendo afogado no lago.

É possível ser honesto e não se envolver com corrupção?

Foto ilustrativa: Wesley Almeida/cancaonova.com

Essa prática é devastadora, causa estragos profundos nos homens e na comunidade política; macula a possibilidade dos homens serem inteiros; rompe o vínculo da comunhão e confiança, conduzindo-os à situação fétida da putrefação. E, o mais triste, priva a comunidade política de exercer sua função vital, que é servir aos homens, em vista do bem comum.

Os honestos são seres em extinção?

Por isso, atualmente, há uma descrença na verdade, muitos estão desanimados, não acreditam na honestidade como padrão de comportamento moral, porque, os honestos, inúmeras vezes, têm sido criticados por não entrarem nos “esquemas”, se autoidentificando como seres em extinção. Por outro lado, não são poucos aqueles que se orgulham do famoso “jeitinho brasileiro”, divulgam as suas façanhas e, ainda por cima, parecem que sempre se dão bem.

Não foi por acaso que o santo João Paulo II, em seu discurso aos leigos, em Campo Grande no Brasil, exortou os cristãos a não se deixarem abalar pelo temor de que a fidelidade aos princípios éticos os coloca em situação de desvantagem, num ambiente em que, não raro a lei moral, é desprezada e grande é a corrupção. O Santo Padre afirmou: “Mesmo que às vezes aquele que faz a opção pelo Evangelho pareça ficar em situação de inferioridade, é preciso ter a coragem de dar, em todo o momento, um testemunho ético nítido e inequívoco, desse modo, estareis amando a Deus e estareis servindo o Brasil”.

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Portanto, não é somente possível ser honesto, e sim necessário, pois o verdadeiro testemunho ético constrói laços incorruptíveis; e esses se tornam meios eficazes de santificação e, consequentemente, fermento de transformação da sociedade. Assim, o homem é chamado a ser inteiro e autêntico, rompendo com toda a decomposição gerada pela corrupção. Unido a Cristo — o homem honesto por essência, torna-se testemunha autêntica do Evangelho em razão de sua incorruptibilidade.

Ricardo Gaiotti
Advogado, Juiz Eclesiástico e Mestre em Direito Canônico pela Universidade de Salamanca (Espanha) e Mestre em Direito Civil pela PUC-SP.