A vida de oração

Praticamente todas as religiões se fundamentam e insistem sobre a oração. Dentro de muitas delas, surgiram e se desenvolveram movimentos onde a oração ocupa um lugar privilegiado. A própria Igreja Católica sempre apresentou a oração, juntamente com a penitência e o amor fraterno, como o alicerce e o caminho da vida cristã, da espiritualidade e da santidade.

Não é segredo para ninguém, porém, que muita gente tem dificuldade em entender e vivenciar a oração. Se existem pessoas que passam o dia inteiro em oração, outras parecem não ter consciência do que significa rezar. E quando não existe oração, tudo acaba sem sentido: o dia fica vazio, as forças diminuem, a fé desaparece, o amor esfria e a vida se torna insuportável.

As dificuldades podem ser as mais diversas e diferentes. O corre-corre do dia-a-dia, as distrações, os apegos aos ídolos, as preocupações, o cansaço, o estresse: tudo parece atrapalhar ou impedir a oração. Outras vezes, talvez a culpa não seja nossa: o que ocorre é que ainda não descobrimos a essência e a alma da oração. Pode acontecer que nunca aprendemos realmente o que significa rezar. Na verdade, não é fácil rezar. Orar é uma conquista contínua.

Em primeiro lugar, precisamos distinguir entre “vida de oração” e “fazer orações”. Só se consegue rezar quando existe uma vida de oração. Nem sempre a oração se identifica pura e simplesmente com o terço, a missa, a procissão, a leitura da Bíblia, a comunhão e as orações da manhã e da noite. Alguém pode ter feito tudo isso e não ter rezado nunca. Outros podem fazer tudo isso e ter rezado sempre.

O que é, então, a oração? Antes de mais nada, a oração existe quando tenho – ou procuro ter – um relacionamento íntimo e pessoal com Deus. Isso acontece quando acredito que Ele me ama sempre, que Ele é maior do que o meu sofrimento e o meu pecado, que Ele me quer ver feliz e que está comprometido com a realidade que me atinge e me cerca. Esse relacionamento confiante e filial me faz ir além de minhas preocupações, de meus interesses, de minhas fraquezas e de meus projetos. Numa palavra, a minha vida se transforma em oração quando faço a descoberta de São João: “Nós conhecemos o amor de Deus e nele acreditamos”, e de São Paulo: “Tudo concorre para o bem dos que amam a Deus”.

Quando passamos a ter como ideal de vida o amor, então as nossas orações – e a nossa vida – se tornam oração.

Concretamente, isso se verifica quando me esforço para deixar que, mais do que o meu “eu” (o meu orgulho, a minha vaidade, o meu egoísmo), seja Jesus a viver em mim, como fazia São Paulo: “Não sou mais eu que vivo: é Cristo que vive em mim”. Como agiria Jesus em meu lugar? Que atitude Ele tomaria agora? Como trataria essa pessoa?

Assim, a oração fará verdadeiros milagres. O primeiro deles será transformar a nossa vida…

Dom Redovino Rizzardo
Bispo coadjutor de Dourados – MS