A verdade plena sobre a mulher

6. Faço votos pois, caríssimas irmãs, que se reflita com particular atenção sobre o tema do «gênio da mulher», não só para nele reconhecer os traços de um preciso desígnio de Deus, que há de ser acolhido e honrado, mas também para lhe dar mais espaço no conjunto da vida social, bem como da vida eclesial.

A Igreja vê, em Maria, a máxima expressão do «gênio feminino» e encontra n Ela uma fonte incessante de inspiração. Maria definiu-Se « serva do Senhor » (cf. Lc 1, 38). É por obediência à Palavra de Deus que Ela acolheu a sua vocação privilegiada, mas nada fácil, de esposa e mãe da família de Nazaré. Pondo-Se ao serviço de Deus, Ela colocou-Se também ao serviço dos homens: um serviço de amor. Este mesmo serviço permitiu-Lhe realizar na sua vida a experiência de um misterioso, mas autêntico « reinar ». Não é por acaso que é invocada como « Rainha do céu e da terra ». Assim a invoca toda a comunidade dos crentes; invocam-na como « Rainha » muitas nações e povos. O seu « reinar » é servir! O seu servir é « reinar »!

Assim deveria ser entendida a autoridade, tanto na família, como na sociedade e na Igreja. O « reinar » é revelação da vocação fundamental do ser humano, enquanto criado à « imagem » d Aquele que é Senhor do céu e da terra, e chamado a ser em Cristo seu filho adotivo. O homem é a única criatura sobre a terra «a ser querida por Deus por si mesma», como ensina o Concílio Vaticano II, o qual, de modo significativo, acrescenta que o homem «não se pode encontrar plenamente a não ser no sincero dom de si mesmo» (Gaudium et spes, 24).

Nisto consiste o materno « reinar » de Maria. Tendo-Se feito, com todo o seu ser, dom para o seu Filho, Ela veio a tornar-Se também dom para os filhos e filhas de todo o gênero humano, gerando uma profundíssima confiança em quem a Ela recorre para ser guiado pelos caminhos difíceis da vida até ao próprio destino definitivo e transcendente. Cada um chega através das etapas da própria vocação a esta meta final, uma meta que orienta o empenho na história tanto do homem como da mulher.

Neste horizonte de « serviço » — que, se prestado com liberdade, reciprocidade e amor, exprime a verdadeira « realeza » do ser humano — é possível acolher também, sem consequências desfavoráveis para a mulher, uma certa diversidade de papéis, na medida em que tal diversidade não é fruto de arbitrária imposição, mas brota da peculiaridade do ser masculino e feminino. É um tema que tem a sua específica aplicação, mesmo no seio da Igreja. Se Cristo — por escolha livre e soberana, bem testemunhada no Evangelho e na constante tradição eclesial — confiou somente aos homens a tarefa de ser « ícone » da sua imagem de « pastor » e « esposo » da Igreja através do exercício do sacerdócio ministerial, isto em nada diminui o papel da mulher, como afinal sucede com os outros membros da Igreja não investidos do sagrado ministério, já que todos são igualmente dotados da dignidade própria do « sacerdócio comum », radicado no Batismo. Tais distinções de papéis, com efeito, não devem ser interpretadas à luz dos cânones em uso nas sociedades humanas, mas com os critérios específicos da economia sacramental, ou seja, daquela economia de « sinais » livremente escolhidos por Deus para Se fazer presente no meio dos homens.

De resto, precisamente na linha desta economia de sinais, mesmo se fora do âmbito sacramental, não é de pouca importância a «feminilidade» vivida segundo o sublime modelo de Maria. Há, de fato, na «feminilidade» da mulher crente, e especialmente da mulher « consagrada », uma espécie de «profecia» imanente (cf. Mulieris dignitatem, 29), um simbolismo fortemente evocador, dir-se-ia uma sugestiva « iconicidade », que se realiza plenamente em Maria e exprime bem o ser mesmo da Igreja, enquanto comunidade consagrada com a dimensão de absoluto de um coração « virgem », para ser « esposa » de Cristo e « mãe » dos crentes. Nesta perspectiva de complementaridade « icónica » dos papéis masculino e feminino, ficam mais em evidência duas dimensões imprescindíveis da Igreja: o princípio « mariano », e o princípio « apostólico-petrino » (cf. ibid., 27).

Neste amplo espaço de serviço, a história da Igreja nestes dois milénios, apesar de tantos condicionalismos, conheceu realmente o « gênio da mulher », tendo visto surgir no seu seio mulheres de primária grandeza, que deixaram amplos e benéficos vestígios de si no tempo. Penso na longa série de mártires, de santas, de místicas insignes. Penso, de modo especial, em Santa Catarina de Sena e em Santa Teresa de Ávila, a quem o Papa Paulo VI, de venerável memória, conferiu o título de Doutora da Igreja. E como não lembrar também tantas mulheres que, impelidas pela fé, deram vida a iniciativas de extraordinário relevo social, especialmente ao serviço dos mais pobres? O futuro da Igreja, no terceiro milênio, não deixará certamente de registar novas e esplêndidas manifestações do «gênio feminino».

Vede, portanto, caríssimas irmãs, quantos motivos tem a Igreja para desejar que, na próxima Conferência, promovida em Pequim pelas Nações Unidas, se ponha em evidência a verdade plena sobre a mulher. Seja colocado realmente em devido relevo o « génio da mulher », tendo em conta não somente as mulheres grandes e famosas, do passado ou nossas contemporâneas, mas também as mulheres simples, que exprimem o seu talento feminino com o serviço aos outros na normalidade do quotidiano. De fato, é no doar-se aos outros na vida de cada dia, que a mulher encontra a profunda vocação da própria vida, ela que talvez mais que o próprio homem vê o homem, porque o vê com o coração. Vê-o independentemente dos vários sistemas ideológicos e políticos. Vê-o na sua grandeza e nos seus limites, procurando ir ao seu encontro e ser-lhe de auxílio. Deste modo, realiza-se na história da humanidade o fundamental desígnio do Criador e aparece à luz incessantemente, na variedade das vocações, a beleza — não só física, mas sobretudo espiritual — que Deus prodigalizou desde o início à criatura humana e especialmente à mulher.

Ao mesmo tempo que, na minha oração, confio ao Senhor o bom êxito do importante encontro de Pequim, convido as comunidades eclesiais a fazer do ano em curso ocasião para uma profunda ação de graças ao Criador e ao Redentor do mundo precisamente pelo dom de um bem tão grande como é o da feminilidade: esta, nas suas múltiplas expressões, pertence ao patrimônio constitutivo da humanidade e da mesma Igreja.

Que Maria, Rainha do amor, vele pelas mulheres e pela sua missão ao serviço da humanidade, da paz, da difusão do Reino de Deus!
Com a minha Bênção Apostólica.