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Adolescência e emoções: o que nossos jovens estão vivendo?

A adolescência é uma fase do desenvolvimento marcada por uma série de transformações físicas, emocionais, sociais, laborais, escolhas profissionais, identificação com interesses e afinidades, enfim, fase de muitas descobertas e experiências. Enquanto psicólogos, notamos que essa etapa do desenvolvimento tem sido cada vez mais rodeada de questões emocionais, estampadas em depressão, estresse, ansiedade, ou seja, quadros emocionais.

Dados da Associação Americana da Psicologia indicam que a adolescência mostra-se cada vez mais conturbada, com sinais evidentes de irritabilidade, fadiga e com sofrimentos que, anteriormente, eram típicos dos adultos e, hoje, afetam, em especial, as mulheres adolescentes. Embora esses dados sejam americanos, nota-se que, esses casos têm afetados às jovens num âmbito mundial.

Existem aspectos que podem levar garotas a aumentarem seus níveis de estresse e ansiedade. As redes sociais acabam por exercer uma pressão pelo corpo perfeito, pelo status social, pela necessidade em comprar e aparecer, cada vez mais, essas questões estão desgastando os jovens em sua relação com eles mesmos e com o mundo. Temos dados reais de que: mulheres cada vez mais jovens (e até menores de idade) buscam cirurgiões plásticos para correção de imperfeições que, muitas vezes, não existem, no entanto, elas são impulsionadas pela imagem do corpo perfeito, muitas vezes, traçado pelo Photoshop.

Adolescência e emoções: o que nossos jovens estão vivendo?

Foto ilustrativa: Obradovic by Getty Images

Na fase da adolescência tudo é muito exigente

Muitas vezes, há um questionamento sobre o que serão no mundo e, por vezes, questionam uma regra só por questionar, como por exemplo, a necessidade de ir para a escola. Não sabem bem que carreira profissional a seguir, embora saibam que as profissões passarão por uma mudança significativa nos próximos anos, muitos permanecem inertes, muitas vezes, mantendo-se sombreados nos pais, sem um destino certo.

Essas incertezas e pressões acabam gerando um estado de medo, que é a fonte da ansiedade. O medo, que os protegem de situações de perigo, passa a ser disparado a todo momento, e isso, ao longo dos meses, causa o adoecimento desses jovens.

As garotas vivem um processo de preocupação com a popularidade, com a aparência, com a autoestima, com a aceitação pelos garotos e pela disputa com outras garotas. O desprezo entre jovens pode também ser causador de transtornos emocionais, ou seja, existem muitos fatores que contribuem efetivamente com expectativas imensamente frustradas e com uma frustração que o jovem não sabe lidar ou tem medo de enfrentar, o que desemboca nas doenças emocionais.

As redes sociais

Muitas vezes, esse jovem que, naturalmente, já tem a marca do imediatismo e do prazer para o agora, típico da sua fase de vida, passa a consumir muita quantidade de informação, porém, sem qualidade. O tempo para reflexão, para o viver o agora, nem sempre existe. Ele está numa festa pensando no prazer, mas já pensando na próxima festa. As relações são mais exigentes, porém, muitas vezes, rasas e pouco reflexivas.

As redes sociais podem contribuir para isso? Sim, podem! Especialmente o Instagram, em que o imediatismo, os vídeos ou fotos, que parecem sempre mostrar uma realidade perfeita, tomam a vida dos jovens e a percepção deles sobre o mundo, pois ele pode, muitas vezes, se pautar por uma imagem que nem sempre corresponde à realidade. As curtidas, likes, visualizações e comentários invadem as mentes dos jovens: posta, aguarda curtidas, espera comentários positivos, fica decepcionada(o) com comentários negativos ou com aquela curtida de alguém que espera, mas parece que não vem.

O impacto da tecnologia

Existe um comportamento denominado FOMO, em inglês, Fear of Missing Out, que indica o “medo de ficar por fora do que está acontecendo”, esse é um dos principais fatores que os estimula a permanecer “hiperconectados”. Se observamos bem, é isso mesmo que acontece. O jovem sai e necessita postar a foto da festa, da roupa, do elevador, da comida… Espera comentários ou expressa comentários, muitas vezes, agressivos. Os limites de respeito e educação também são quebrados entre os jovens.

Quando se fala do impacto da tecnologia no quadro ansioso não temos apenas os efeitos diurnos desse processo, mas também os efeitos no sono. A exposição noturna às luzes de tablets, celulares e notebooks provocam a inibição da melatonina, hormônio produzido durante o sono e à noite,  assim, reduz a qualidade da noite de sono. Estudos mostram que: jovens que fazem uso de dispositivos eletrônicos por mais de 4 horas por dia, esses demoram, em média, 30 minutos a mais para dormir. Desse modo, podemos entender o porquê desse jovem dormir menos, tornar-se mais ansioso, mais irritado, menos paciente, com problemas de concentração e atenção e, consecutivamente, com queixas relacionadas à memória.

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A ansiedade também possui uma herança genética, portanto, é importante que isso não seja deixado de lado, além de observar os padrões familiares de um jovem que encontra-se ansioso e estressado.

Diante desse quadro, o que fazer?

Efetivamente, não teremos o desaparecimento da tecnologia, porém, nós, adultos, para lidarmos conosco e com nossos filhos, precisamos, cada vez mais, saber lidar e limitar esses aspectos que tanto nos adoecem. Não vamos ganhar sempre, não teremos tudo nem todos deixarão um legado triunfal na face da terra e, mesmo assim, precisamos lidar com isso com naturalidade.

Por fim, a ansiedade nunca é natural de uma única fonte: ela é multifatorial e precisa, muitas vezes, de tratamento psicológico e medicamentoso, além da necessidade de uma mudança de vida e de acolhimento por parte da família. Ainda precisamos educar nossos hábitos para um mundo de mudanças rápidas, que precisa concentrar-se no agora e lidar melhor com sua saúde física, emocional e seus relacionamentos interpessoais.

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Elaine Ribeiro dos Santos

Elaine Ribeiro dos Santos é Psicóloga Clínica pela Universidade de São Paulo (USP). Colaboradora da Comunidade Canção Nova, reúne 20 anos de experiência profissional, atuando nas cidades de São Paulo, Lorena e Cachoeira Paulista, além do atendimento on-line para o Brasil e o Exterior. Dentre suas especializações estão Terapia Cognitivo-Comportamental, Neuropsicologia e Psicologia Organizacional. Instagram:  @elaineribeiro_psicologa