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Não fomos criados para a solidão

O seu coração sabe disso, porque, certamente, já experimentou o amargo sabor da solidão. É no encontro com o outro que o eu se afirma e se constrói existencialmente. O outro é o espelho onde o eu se solidifica, preenche-se, encontra-se e fortalece-se para ser o que é. O processo contrário também é verdadeiro, pois nem sempre as pessoas se encontram a partir dessa responsabilidade que deveria perpassar as relações humanas.

Você, mesmo se tiver pouca idade, pode viver um dos momentos mais belos da vida. Você pode experimentar o ponto alto dos relacionamentos humanos, porque a juventude nos possibilita ensaiar o futuro no exercício do presente. Já me explico. Tudo o que você vive, hoje, será muito importante e determinante para a sua forma de ser amanhã.

Neste momento da vida, você tem a possibilidade de estabelecer vínculos muito diversificados. Família, amigos, grupos de objetivos diversos, namorados e namoradas. Principalmente esses últimos, que não são poucos. Namora-se muito nos dias de hoje, porque as relações humanas estão, cada vez mais, instáveis e, por isso, menos duradouras. Parece que o amor eterno está em crise.

Não fomos criados para a solidão

Foto ilustrativa: Wesley Almeida/cancaonova.com

Da solidão ao amor possessivo

Quando paramos para pensar um pouco, chegamos à conclusão de que o problema está, justamente, na forma como estabelecemos nossos relacionamentos. O grande problema é que, geralmente, investimos todas as nossas cartas naquela pessoa nova que chegou. Ela passa a centralizar a nossa vida, consumindo nosso tempo, nossos afetos, pensamentos e energias. Tudo passa a convergir para ela e, com isso, vamos reduzindo o nosso círculo de relações. O outro vai tomando tanto nossa atenção, que, aos poucos, até mesmo a família vai sendo esquecida. Porém, quando nos esquecemos de cultivar esses vínculos, que, até então, faziam parte de nós, vamos criando lacunas afetivas dentro do nosso coração.

É nesse momento que a confusão acontece, pois todas as necessidades começam a ser preenchidas pela pessoa enamorada. Com o passar do tempo, ela começa a carregar um fardo muito pesado, pois passou a exercer a função de pai, mãe, irmão e amigo, quando, na verdade, ela é apenas um namorado ou namorada.

Cada forma de amor no seu lugar!

Essa relação começará a ser muito pesada para ambos. Será fortemente marcada pela dependência, pelas cobranças e pelo ciúme. Ambos passam a viver uma insegurança muito grande, pois nunca sabem ao certo o papel que exercem na vida um do outro. O amor deixa de ser amor e passa a ser sentimento de posse, como se o outro fosse uma propriedade adquirida, pronta para atender todos nossos desejos.

Quando o coração humano identifica esse sentimento de posse, ele tende a se esconder de si mesmo e, consequentemente, dos outros. Teme que alguém venha quebrar o encanto, mostrando que não existe nenhuma história de amor, e que ambos viraram sapos. E, o pior, acorrentados.

A mudança, no entanto,  é sempre possível. Só é preciso que sejamos honestos. Se, por acaso, você se identificou com essa possessiva e conturbada forma de amar, vale a pena buscar uma ajuda. Comece a canalizar melhor os seus afetos. Não os direcione a uma única pessoa. Tenha amigos, cultive-os. Redescubra sua casa, seus pais, seus irmãos, mesmo que existam problemas entre vocês.

Deixe aflorar os afetos que ficaram adormecidos dentro de você. Não coloque sobre a pessoa que você diz amar a responsabilidade de ser o centro do seu mundo, nem se sinta deixado de lado o dia em que ela disser que não vai ver você, porque precisa ficar com a família. É que existem momentos que o colo da mãe é muito mais necessário do que o seu.

É duro de ouvir isso? Pois é! Muito mais duro é não compreender.

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Padre Fábio de Melo

Padre Fábio de Melo, sacerdote da Diocese de Taubaté, mestre em teologia, cantor, compositor, escritor e apresentador do programa “Direção Espiritual” na TV Canção Nova. Autor de livros publicados pela Editora Canção Nova.