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Em tempos de coronavírus, quando as máscaras irão cair?

Antes do #Fiqueemcasa, eu escrevi um texto falando sobre o coronavírus e, sinceramente, não esperava que esta pequena, ou melhor, microscópica criatura, iria abalar tanto o nosso dia a dia, no entanto, como disse no texto anterior, há uma realidade pior, a qual estamos (ainda) cegos, pode conferir neste texto aqui.

Há anos um sinal de cortesia era oferecer um copo d’água ou uma xícara de café, mas com nossa vida invadida pelo celular, agora, oferecemos a senha do Wi-Fi; com o coronavírus, oferecemos álcool em gel com aloe vera para não ressecar as mãos.

O coronavírus nos trouxe um novo acessório

Nossa “microirmã”, a Covid-19 (antes de me apedrejar, lembre-se de que Francisco de Assis chamava a morte de irmã), trouxe um novo acessório para o nosso dia a dia: a máscara. Lembro-me de que, na minha infância, um filme chamado “O máscara” (vou pesquisar se o indicarei no Minuto Popcorn), o personagem principal encontra acidentalmente uma máscara que lhe conferia poderes e revelava algo escondido dentro dele: uma personalidade que fazia aquilo que ele normalmente não faria. A máscara de pano do nosso cotidiano tem o poder de nos precaver do contágio dessa doença, essa também tem o poder de tirar a nossa paciência, pois não estamos habituados a ela. No meu caso, amarrota a barba.

Em tempos de coronavírus, quando as máscaras irão cair?

Foto ilustrativa: Andrii Medvediuk by Getty Images

Na Grécia antiga, as máscaras tinham uma função nas peças de teatro, onde os atores interpretavam mais de um personagem e usavam máscaras para identificar quem estavam interpretando naquele exato momento, o teatro não era apenas um entretenimento, era uma disputa e acontecia nas festas de culto aos deuses. Algumas peças sobreviveram até hoje e podem ser encontradas para se ler. É justamente dessas peças usando de máscaras em atuações que foi forjado o termo hipocrisia, os atores mascarados eram os hipócritas.

O termo hipócrita depois evoluiu para aquele tipo de pessoa que, no palco da vida, vive um personagem que não condiz com seu interior, aquele que tem um certo fingimento no seus atos. Quando um hipócrita é desmascarado, dificilmente consegue resgatar sua reputação. Porém, quem hoje vive sem máscaras? Como garantir atos sem fingimento? Será que alguém lhe induziu a usar uma máscara esse tempo todo? Muitos se mascaram por defesa.

Sem cera

Por sua vez, o termo sincero, que contrapõe o hipócrita, tem sua história na arte de esculpir. Pois, quando o escultor cometia um erro numa pedra, logo teria de executar uma correção, então, usava cera para disfarçar seu erro, uma obra sem erros, uma obra verdadeira, portanto, era ‘sin cera’, ou seja, sem cera.

Você poderia me contestar dizendo: mas os super-heróis usam máscara! – Aquele que te salvou estava vestido apenas com Seu próprio sangue e Suas dores, estava despido de vestes e de Si.

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Existe um herói bíblico, o Rei Davi, tão eleito por Deus que o Pai escolheu que Cristo nascesse de sua casa. Michelangelo, o artista renascentista, e não a tartaruga ninja, foi contratado para fazer a escultura dele, que retrataria Davi antes da disputa com Golias com a funda em seus ombros. O trabalho de Michelangelo na obra durou 2 anos, a escultura tem mais de 5 metros, foi feita em uma pedra única de mármore, sem erros, portanto, sem cera. Outra obra sem cera do mesmo artista, de um outro herói bíblico, é a de Moisés, o mesmo que Cristo encontrou na sua Transfiguração. Conta-se sobre essa que: Michelangelo ficou tão estupefato com a perfeição e beleza que bateu na escultura com o martelo e disse: “Por que não falas?”.

A bíblia está repleta de relatos sinceros e humildes de homens e mulheres que conseguiram comover o coração de Deus pela sua sinceridade de coração e fé. Jesus tinha alergia à hipocrisia dos fariseus e severamente os corrigiu diversas vezes.

Quando seremos libertos da hipocrisia?

Nos dias de hoje, que se preza tanto a aparência, a hipocrisia tem adoecido a muitos que vivem uma vida mascarada e sequer se dão conta, vivem em meio à multidão de outros mascarados, apenas replicando atuações que não são suas, são marionetes de satanás que “gritam não há cordas em mim!”; esquecendo-se que são peças originais de um Artista que as plasmou do barro com amor e lhes soprou vida. Esse mesmo Artista Soberano quando viu sua obra ser deformada pelo pecado, Ele não parou nisso, pois enviou seu Filho não para reformar, e sim para fazer novas criaturas com a dignidade não de servos, e sim de filhos. É Ele quem desata em nós as corda dos instintos e do pecado, com a colaboração de sua Imaculada Mãe. É pela Verdade que somos da Verdade.

Não é suficiente apenas esperar o dia que não precisaremos mais usar uma máscaras de pano, clamo pelo dia que os filhos de Deus viverão e se comportarão como tais. Para tal, precisamos retirar de nossa vida toda a hipocrisia e buscar sermos sinceros diante dos homens e, sobretudo, diante de Jesus Cristo, a Verdade encarnada. Posso contar com suas orações? Não vejo a hora de tirarmos essa máscara (como escravos do pecado) e passarmos a ser, de fato, o que nós somos.


Guilherme Christóvão

Guilherme Christóvão é membro da Comunidade Canção Nova desde 2010. Casado com a missionária Lediane Christóvão, ele é bacharelando na graduação em Administração pela Faculdade Canção Nova. Sempre que pertinente, Guilherme escreve uma reflexão sobre cotidiano, atualidade e cultura pop para o Portal Canção Nova, demonstrando o quanto tudo na vida aponta para a necessidade de uma vida nova em Cristo.

Instagram: @guilhermecancaonova