Medo

Diante da morte, como reagir e superar o medo?

A morte é um mistério que gera medo nas pessoas. Como se preparar para viver esse momento?

Muitos de nós, quando perguntados sobre medos, podemos elencar uma série deles: dirigir, falar em público, perder o emprego, ficar desamparado, não ter ninguém para compartilhar a vida dentre tantos outros.

Porém, um dos medos mais comuns que as pessoas trazem consigo é o da morte. Muitos têm medo de como será esse momento, outros, de quando isso vai acontecer. Como popularmente é dito, sabemos o dia do nascimento, mas o mistério da morte é ainda um dos medos centrais de nossa vida. Nossa cultura ainda traz resistências para lidar com a morte e suas adversidades, bem como lidar com aspectos como velório, sepultamento, como falar sobre morte para os filhos e outros aspectos.

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Foto ilustrativa: Daniel Mafra/cancaonova.com

Os rituais que envolvem a morte, especialmente no Brasil, foram se modificando pouco a pouco. Estudos sociológicos dizem que a própria civilização foi conduzindo o luto e seu ritual, afastando-o das casas, tendo dificuldade para falar sobre isso. Busca-se prolongar a vida e estender a vitalidade e a beleza. Falar sobre morte e sobre o fim da vida chega a ser algo aversivo para algumas pessoas.

Lidar com a morte

Diante da morte e dos receios que ela pode nos trazer, o que pode ser feito?

1 – Um dos elementos estudados, no enfrentamento da morte, é a fé. Nota-se que as pessoas que possuem alguma crença conseguem lidar melhor com a finitude e com o significado dessa passagem da vida para a morte.

2– Aceitar que somos finitos é compreender que nosso ciclo de vida envolve o nascimento, o desenvolvimento e a morte, bem como os processos naturais, emocionais e fisiológicos do envelhecimento.

3 – É importante viver o luto e seus rituais. Muitas vezes, nossa conduta nos leva a evitar os rituais envolvidos no processo da morte, bem como viver o luto e os sentimentos que lhe são típicos. Até algum tempo (e ainda em muitas comunidades distantes), vivia-se o velar dentro das casas. Fazia-se, naquele momento, o ritual com orações, com as lembranças, com o choro. Com o tempo, isso foi sendo afastado para os velórios municipais e a morte nos hospitais. Estudos sobre tanatologia, ciência que estuda a morte e seus processos, revelam o quão doloroso tem se tornado o processo da morte: afastam-se do momento da morte, escondem-nos das crianças e, com isso, afasta-se o significado.

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4 – Falar dos seus sentimentos: a aceitação da morte não se dá de forma imediata e não precisa ser assim. Raiva, frustração, desespero, choro, desorientação, culpa, decepção, isolamento e outros sentimentos e comportamentos são comuns para muitas pessoas que passam pela perda. Sendo assim, é importante entrar em contato com esses sentimentos para que, ao final, um novo sentido dessa passagem possa surgir para cada um de nós.

5 – A morte faz parte da vida, e dentro do sentido dela encontramos o sentido para fazer nossa vida acontecer, deixar nossas marcas, nosso legado e construir nossa história. Numa sociedade de um ritmo intenso e cheia de informações, a morte pode ser uma pista para revisarmos nosso estilo de vida, para que possamos valorizar o que temos e o que somos no mundo.

6 – Observe como você lida com as perdas em geral. Mais do que o luto pela morte, os sentimentos de perda se dão de forma presente em nossa vida, como perder um trabalho, uma amizade, uma posição social, mudar seu padrão de vida… Enfim, as dificuldades que temos para tais perdas podem ser apenas uma em meio a tantas outras e até mesmo à morte.

Você, que leu este texto até aqui, pode estar pensando: e você que escreve este texto, não pensa sobre a morte também? Claro que penso! Mas não me paraliso nela. Lido com ela várias vezes no consultório, nos questionamentos de clientes em terapia e nos meus próprios questionamentos, mas não no sentido de viver pensando em morrer, mas conduzindo bem a vida e seu sentido.

Cada um de nós, a partir dos seus recursos emocionais e sua estrutura familiar e social, têm uma forma de lidar com a perda. Pensar sobre ela não é sofrer, mas a evitar talvez traga um sofrimento muito maior.

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Elaine Ribeiro dos Santos

Elaine Ribeiro dos Santos é Psicóloga Clínica pela Universidade de São Paulo (USP). Colaboradora da Comunidade Canção Nova, reúne 20 anos de experiência profissional, atuando nas cidades de São Paulo, Lorena e Cachoeira Paulista, além do atendimento on-line para o Brasil e o Exterior. Dentre suas especializações estão Terapia Cognitivo-Comportamental, Neuropsicologia e Psicologia Organizacional. Instagram:  @elaineribeiro_psicologa