Missão

Sou provocado ou chamado à vocação do celibato?

É no estado de vida do matrimônio ou do celibato pelo Reino dos Céus que se encontra o meio concreto de vivermos a nossa vocação

O eco do celibato no mundo. “Respondeu ele: ‘Nem todos são capazes de compreender o sentido desta palavra, mas somente aqueles a quem foi dado. Porque há eunucos que o são desde o ventre de suas mães, há eunucos tornados tais pelas mãos dos homens e há eunucos que a si mesmos se fizeram eunucos por amor do Reino dos céus. Quem puder compreender, compreenda'” (Mt 19,11-12).

Não há como entendermos uma questão sobrenatural apenas sob uma ótica natural, por isso, aí entra a . “Caminhar como se víssemos o invisível” (Hb 11,27). Por vezes, podemos nos questionar sobre o que levaria uma pessoa, homem ou mulher, a abrir mão de se casar, construir uma família, ter filhos e alguém ao seu lado para compartilhar sua vida. Seria uma opção devido a algum tipo de problema pessoal, fuga ou uma visão mais apurada? Seria uma escolha que lança luz sobre o problema da perda de sentido na vida de muitos?

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Foto ilustrativa: Chalabala by Getty Images

O celibato pelo Reino dos Céus trata-se de um chamado feito a alguns, mas que fala de uma realidade que envolve a todos, até os casados. A vida de um celibatário deixa ecos que ressoam no mundo e no interior de cada homem e mulher.

O termo “eunuco” não tem um bom sentido, mas em Cristo ele foi ressignificado. Jesus inaugurou o estado do celibato, assumindo Ele mesmo tal condição. São João Paulo II, em suas catequeses sobre a Teologia do Corpo, claramente fala sobre o celibato e sua importância, como uma das formas de o homem viver plenamente sua vocação, pois, todos somos chamados a amar, e é no estado de vida do matrimônio ou do celibato pelo Reino dos Céus que se encontra o meio concreto de vivermos a nossa vocação.

Interessante entender que, um sacerdote, antes mesmo de ser chamado ao seu ministério, é chamado ao celibato; como também existem aqueles que são chamados ao celibato, porém não ao ministério sacerdotal, como é o meu caso. Também existem as mulheres que são chamadas a viver seu celibato, seja em uma congregação, por meio dos votos, em uma instituição religiosa ou uma nova comunidade.

Amadeo Cincini, sacerdote, psicólogo e umas das referências na Igreja sobre estudo da vida consagrada, em seu livro intitulado ‘Virgindade e Celibato hoje – Para uma sexualidade pascal’ (para mim um dos melhores no assunto), afirma que a sexualidade é a matéria-prima do celibato, portanto, este não é uma negação da sexualidade humana, mas a eleva. Do prisma meramente humano e daquele com uma visão da sexualidade reduzida, poderíamos dizer que, uma vez que não existe o ato sexual em si, a sexualidade estaria sendo negada, mas, como Cristo e a Igreja nos ensinam a ver o ser humano em sua integridade, o ser sexuado não envolve apenas isso, e sim todo o modo de ser, viver, pensar, agir e reagir do ser humano.

Assista:

 

É belo perceber que os estados de vida se complementam, o matrimônio ensina muito ao celibato e o celibato ensina muito ao matrimônio. Um lança luzes sobre o outro. Por um lado, o celibatário recorda aos esposos que a finalidade de cada um é a vida eterna, o casamento eterno com Deus. Juntos, o casal deve caminhar rumo ao seu objetivo, sem colocar um no outro a razão da felicidade, pois isso seria destruidor para ambos. O celibatário, o sacerdote por sua vez, à luz do matrimônio, deve recordar-se de que está despojado de si mesmo em função do outro, como um esposo deve ser.

A missão

Afinal de contas, qual é a missão do celibatário pelo Reino dos Céus? De maneira alguma com o intuito de esgotar, mas com o objetivo de clarear, respondo que a vida celibatária aponta nossas origens e o nosso destino último: viemos de Deus, somos chamados a viver em Deus e voltaremos a Ele, onde, face a face, n’Ele seremos plenificados em Seu amor.

Se eu pudesse traduzir a imagem de um celibatário, seria de alguém apontando continuamente, e de todas as formas, para o alto, porque, no mundo, o celibato vem lembrar a todos os homens e mulheres que nossa vida não se limita apenas a esta realidade aqui, mas que fomos feitos para o eterno. Lá, seremos plenamente felizes e realizados na comunhão com Deus e na comunhão dos santos, pois os sacramentos são para este tempo. Na eternidade, seremos tudo no Tudo, tudo em Deus.

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Percebo que a vida e a escolha celibatária inquieta provocam e até incomodam muitas vezes, porque, lá no fundo, mesmo que inconsciente, a vida do celibatário está dizendo a todos e a cada um dos homens: “É isso que viveremos na eternidade, é essa união íntima, profunda e total para a qual você é chamado e anseia viver”, porque, como muito bem nos diz Santo Agostinho, “Inquieto está o nosso coração enquanto não repousar em ti”.

Já conversei com muitos jovens, e todas as vezes que falo sobre a vivência do meu celibato é impressionante como muitos se sentem provocados e outros chamados, quem sabe! É bom ter a coragem e a liberdade de questionar-se, se, pelo celibato, estou sendo provocado ou chamado? Ouça o eco que ressoa em você!

Tiago Marcon, missionário da Comunidade Canção Nova