O Getsémani da saudade

Quem de nós nunca sentiu saudades? Seja de alguém que está longe ou está perto, seja de alguém que faleceu ou que, por outras circunstâncias, nunca mais vimos. Contudo, a saudade nada mais é do que um sinal de que amamos e nos deixamos amar, ser marcados pelo melhor do outro. O amor dói. E uma das dores mais agudas que o amor pode proporcionar é a saudade, que, em muitas ocasiões, é um calvário para a alma.


Música “Saudade”, Diácono Nelsinho Corrêa
(do CD Quem me segurou foi Deus)



Penso na dor da saudade que a Virgem Maria e os apóstolos sentiram após a Sexta-feira da Paixão. O quanto eles sonhavam poder ver o Mestre de novo, sendo que, naquela situação, isso seria humanamente impossível. O quanto os pequenos gestos se tornaram importantes e únicos; desde um toque, um abraço, uma palavra ou apenas um sorriso… Como eles desejavam apenas mais um olhar d’Aquele que marcou suas vidas para sempre. Penso no arrependimento de alguns que imaginavam que pudessem ter feito algo mais para demonstrar o seu carinho e afeição pelo Senhor.

Todavia, para a alegria de todos, a força do amor que tudo crê, tudo espera e tudo suporta venceu a morte e chegou à aurora, o dia tão esperado: o domingo de Páscoa. O dia do encontro.

Sentir saudade faz parte do cotidiano de quem se lançou no desafio do amor e se expôs a seus riscos. Mais vale sofrer por amor do que por nunca ter amado. É maravilhoso perceber que cativamos e nos deixamos cativar. Mas não é necessário esperar um momento de separação para perceber isso e fazer o que a criatividade nos proporciona para demonstrar todo nosso bem querer ao ser amado.

Não esperemos sentir saudade para valorizar um sorriso, um olhar, um abraço, um carinho… Não deixemos que o remorso de não termos feito o que estava ao nosso alcance tome o espaço da saudade de alguém que verdadeiramente amou. E mesmo vivendo o Getsémani da saudade, não percamos a esperança do grande dia de Páscoa, o dia do encontro, mesmo que esta pessoa já esteja descansando na eternidade; porque o amor vence a morte. Jesus não ficou no madeiro, Seu corpo não está no sepulcro. Ele ressuscitou! Aleluia!

Não tenha medo de amar por sentir saudade ou vice-versa. A esperança e a alegria do reencontro compensam a dor da espera. Deus reserva grandes surpresas para aqueles que se amam e não tem nenhum receio de sentir saudade por amar. Afinal, como diz a canção do Diácono Nelsinho Corrêa: “Só se tem saudade do que é bom…”.

Um abraço fraterno com carinho