Não temos gente demais...

No debate das idéias e nas suas conseqüentes práticas, a questão “geração de novos seres humanos” aparece, quase sempre, como polêmica, complexa, polarizada e, não poucas vezes, carente de clareza e envolta em subterfúgios. Termos iguais são usados para designar posturas bem diferentes e até opostas. Muitos que usavam o termo “controle de natalidade” e tinham verdadeiramente uma postura controladora nos conceitos e nas práticas, com o crescimento das críticas, simplesmente trocaram a terminologia. Dizem que são fervorosos adeptos do “planejamento familiar”, porém continuam com os mesmos conceitos e com a mesma prática do controle.

A Igreja exerce forte influência nesta questão, sem dúvida. É nossa impressão que esta influência foi maior no passado recente.
Fruto do nosso trabalho nesta área, concluímos que a mesma Igreja cometeu um sério erro de “marketing”. Ao perguntarmos a um grupo de noivos e casais sobre qual seria a posição da Igreja a respeito do planejamento familiar e qual a sua doutrina, ouvimos simplesmente e tão-somente: “Ela é contra a pílula”. Ela conseguiu passar a idéia de que é contra – só isso. Não conseguiu passar às pessoas a favor de que ela é e por que é contra ao uso do anticonceptivo. Não por falta de uma excelente e extensa elaboração teórica. No seio do povo, lá onde vive o homem simples da rua e a mulher simples das casas e das praças não chegou a mensagem, o conteúdo de vida, o objetivo maior a ser alcançado diante do ato gerador da vida.

Quando se promove um debate sobre planejamento familiar, são apresentados todos os métodos e, entre eles, alguns chamados métodos naturais. Fica a impressão de que tudo é mais ou menos a mesma coisa, servindo a um objetivo comum: limitar filhos. Como geralmente não há espaço para desenvolver o tema “planejamento natural”, aparecem os métodos, alguma discussão sobre eles, prós e contras e, no jogo da competição, geralmente os naturais saem perdendo.

Contracepção são técnicas que objetivam evitar novos nascimentos. Essas técnicas vão desde os métodos que procuram evitar uma nova gravidez, até aqueles que eliminam uma vida já concebida, instalada ou não na cavidade uterina.

A eficácia da contracepção diz respeito única e exclusivamente ao seu objetivo, não importando uma avaliação quanto às mudanças qualitativas que possam ocorrer na vida da mulher, na qualidade do seu casamento e na qualidade das relações familiares. Muito menos são objetivos as mudanças qualitativas que possam ocorrer na vida da sociedade, fundamentalmente, o progresso na qualidade de vida das pessoas, o que implica em profundas mudanças estruturais.

Em uma palavra: à contracepção importará quantas crianças foram impedidas de nascer e não quanta conscientização foi capaz de suscitar; quanta justiça foi capaz de fazer realidade. Mesmo o argumento de que com a contracepção a mulher ficaria liberada do “pavor” de uma nova gestação e, assim, predisposta a um relacionamento sexual mais livre, vem sendo contestado por alguns trabalhos científicos multidisciplinares. No caso dos contraceptivos hormonais, um inicial efeito liberalizante é anulado e, muitas vezes, suplantado por outros tantos efeitos indesejados que, inclusive, tornam a relação até pior. São muitos os trabalhos que vêm estudando um efeito de irritabilidade permanente que se instala na mulher consumidora habitual de pílulas.

Considere-se ainda o fato de que a família reduzida de hoje não é por isso e simplesmente, melhor que a família ampliada de outrora. Essa é a família possível, não melhor. Automaticamente a família reduzida não superou as carências afetivas que impedem o encontro das pessoas e a sua realização. Nem estabeleceu o diálogo da sexualidade. Na família ampliada de outrora, a própria circulação dos dons e riquezas ajudava a estabelecer um clima de solidariedade que a sustentava.

Hoje está no ar, sente-se, cheira-se, vive-se um clima “anticriança”, que acaba desembocando num clima de antivida. Este clima está contagiando a todos e muitas razões se apresentam para justificá-lo.

Um mundo novo não será fruto de uma esterilização do amor e de uma guerra contra as crianças, mas será a expressão de uma nova humanidade.

Neste sentido, não temos gente demais. Mas humanidade de menos. Quando vemos nações ricas queimando montanhas de alimentos como meio da guerra suja do poder do capital para garantir preços, a sua oferta humanitária em meios contraceptivos soa como um escárnio.

Os métodos naturais de reconhecimento da fertilidade constituem-se em fundamentais instrumentos da concretização do planejamento natural da família. Oferecendo uma alternativa cientificamente bem fundamentada, eles ajudam a resgatar a busca do conhecer-se e a valorizar as forças oferecidas pela própria natureza. Os métodos naturais consideram os principais indicadores da fecundidade, a saber: o muco cervical, a temperatura basal, o colo uterino. Estes indicadores fundamentam os dois principais métodos conhecidos no nosso meio: o Método da Ovulação, ou de Billings, e o Método Sinto-Térmico.

Como todo projeto de vida, planejamento natural da família é um desafio posto para todos. Quem tiver sensibilidade se sentirá tocado. Quem foi tocado, transforma-se, dia-a-dia, num profeta de um novo homem, de uma nova mulher, de uma nova relação entre homens. Uma nova terra para os filhos do Homem, testemunhas da fecundidade do AMOR.

(Texto de responsabilidade de Agostinho Bertoldi e Elisabete T. S. Bertoldi – membros do CENPLAFAM Curitiba/PR)