Zelo com os pequenos

Dicas para construir a boa saúde mental das crianças

A vida moderna nos abriu um leque de possibilidades. A rapidez oferecida, por exemplo, pelas novas tecnologias e pelos aparelhos que temos em casa leva-nos ao comodismo, fazendo com que busquemos sempre a lei do menor esforço e a satisfação a curto prazo.

Os pais, no desejo de acertar e dar o seu melhor, não se dão conta de que estão por demais preocupados em oferecer segurança financeira aos filhos e maior comodidade a qualquer preço. No entanto, prover somente condições materiais para que a criança se desenvolva e encontre o seu lugar no mundo pode constituir um grande erro e trazer consequências inimagináveis. Antes, é preciso favorecer o ambiente, para que a criança cresça num clima propício à sua saúde mental, evitando neuroses e psicoses na vida adulta.

Trabalhar as emoções, os sentimentos e reparar traumas em indivíduos adultos é penoso, exige acompanhamento profissional e muita disciplina. A espiritualidade pode entrar como uma grande parceira. Existe, entretanto, um caminho mais eficaz. O psicólogo Eric Erikson diz que são poucas as coisas que não podem ser remediadas mais tarde, mas muitas são as que podem ser prevenidas.

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Foto ilustrativa: Wesley Almeida/cancaonova.com

 

Há caminhos que podem ajudar a construir a boa saúde mental das crianças

Num recente estudo feito por quase mil profissionais da área de saúde mental, a falta de amor e de educação emocional por parte dos pais foi citada como a principal causa de problemas emocionais posteriores. Por outro lado, o abraço carinhoso da avó, a aprovação por um gesto de bondade, o sorriso e o afago antes de dormir, a festinha de aniversário com os colegas, as celebrações em família são como o combustível para a construção de uma vida equilibrada e uma mente sã.

O afeto expressado em gestos, o toque físico e o cuidado em suas necessidades essenciais são o que há de mais nobre para favorecer a saúde mental das crianças. Ao contrário do que se pensa, a confiança básica se estabelece não tanto em função da quantidade de amor e atenção que ela recebe, mas em função da qualidade desse amor.

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Não basta amar, é preciso sentir-se amado

Dom Bosco é o grande mestre nesse quesito. O santo da juventude dizia que não bastava amar os jovens, eles precisavam sentir que eram amados. Seu método de ensino conciliava razão, religião e amorevolezza (na tradução do italiano, algo como carinho, ternura e bondade). Depois de 200 anos, o amor declarado, o acolhimento e o afeto seguem como fontes inesgotáveis de saúde mental e ponto de partida para um bom aprendizado.

Se a lógica com os jovens é assim, com a criança ainda mais. Se ela de fato recebe o amor e o cuidado de que precisa, vai decidir que o mundo é bom e merece receber confiança. Estabelece-se aí uma relação tranquila com o universo exterior e com si mesma. Do contrário, ela vai se recolher, afastando-se dos relacionamentos. Instala-se o processo de (auto) desconfiança.

O descaso dos responsáveis ou ainda um abandono súbito pode desencadear na criança uma tristeza profunda ou até mesmo um sentimento de desamparo que pode persistir para o resto da vida. Médicos, psicólogos, assistentes sociais reconhecem as consequências que decorrem da privação de amor.

Absorção do que acontece no ambiente externo

É importante ressaltar que, ainda que tenha sido profundamente amada, acolhida e respeitada em suas particularidades, a criança, por ser como uma “esponja” do ambiente, por estar ainda na fase de observação para o vir a ser e fazer escolhas, assimila tensões, estresse e outros desconfortos típicos da vida adulta. Se não assimila, pode, ela mesma, desenvolver sentimentos negativos de frustração e repressão, com base nos relacionamentos que vive em casa ou no ambiente escolar.

Dada a importância do equilíbrio dos afetos, das emoções e sentimentos, como favorecer portanto, conscientemente, esse ambiente positivo e altruísta, que respeita a criança e suas fases de desenvolvimento? Como, ao mesmo tempo, prepará-la e amadurecê-la para o mundo competitivo e imprevisível que está por vir?

Sigo na linha do velho ditado popular: “antes prevenir do que remediar”. Além do amor e de um clima de aconchego e compreensão, a grande aliada nesse processo é uma rotina dinâmica, que favoreça a expressão livre da criança naquilo que ela é – independente da etapa educativa em que esteja.

Reprimir brincadeiras pode ser nocivo

Segundo Klein, a atividade lúdica é o principal mecanismo de expressão infantil e a fonte de suas sublimações. Reprimir brincadeiras ou mesmo não as fomentar pode ser extremamente nocivo ao desenvolvimento da criança e refletir negativamente no desenvolvimento de sua criatividade. É por meio de jogos, atividades lúdicas, da vazão à fantasia, que ela se integra, encontra-se no mundo, expressa-se e aprende sobre relacionamentos.

A Palavra de Deus nos dá uma lição quando diz: “Existe um tempo para cada coisa debaixo do céu”. Se podemos dizer assim, o tempo da criança é o de ser amada e brincar. Temos de impor limites, orientar sobre o que é certo e errado, o que é cristão e não cristão. Mas tudo isso sem amor vira imposição, regras sem alma, e leva à insatisfação e rebeldia.

Brinque com seu filho, gaste tempo com ele, insista em estar junto, seja em casa, no parquinho, na Igreja ou no shopping. Daqui a alguns anos, você vai colher os frutos de tudo isso. Ele precisa mais do que pode oferecer; ele precisa de você.

Thaysi Santos
Membro da Comunidade Canção Nova
Jornalista, editora-chefe do Canção Nova Notícias
Pós-graduada em Counseling
thaysi@cancaonova.com