Verdadeira alegria no carnaval

O Carnaval continua sendo a maior festa popular do Brasil. São milhões que se preparam durante meses, gastando em fantasias e em carros alegóricos. A alegria do povo é geral, saindo às ruas, invadindo os sambódromos e as praias. A televisão invade os lares de todas as classes sociais, com cenas carnavalescas nas cidades de Olinda, Salvador, São Paulo e Rio de Janeiro. Não há comparação entre os folguedos carnavalescos dos cariocas e dos paulistas, com todo o seu exibicionismo, nudismo, excesso de violência e de consumo de bebidas. Junto com os brasileiros divertem-se estrangeiros atraídos por certos programas que incluem de tudo.

O pior do Carnaval é, parece-me, além dos conhecidos excessos, os numerosos finais de semana passados no ambiente suarento das escolas de samba e em salões para granfinos, em que são gastos o possível e o inconveniente, com o álcool e as drogas comercializadas à farta, além das brincadeiras de mau gosto. É verdade que milhares de pessoas acabam optando por outros tipos de divertimento. Em muitas médias e grandes cidades realizam-se retiros espirituais, nos quais predominam os jovens. Cânticos, danças, brincadeiras sadias, a escuta da Palavra de Deus, a reflexão e a oração, os fortalecem e reforça em todos o verdadeiro sentido da vida.

Ano após ano tudo se repete, procurando o país seguir em frente com o desgoverno que tem em todas as esferas do poder público. Fazendo parte da nossa tradição, o Carnaval mudou muito, infelizmente para pior. Há milhões de brasileiros que vivem fantasiados como se a vida fosse uma palhaçada e não a oportunidade de um empenho maior na construção de uma sociedade mais democrática e digna, mais trabalhadora e marcada pela solidariedade e pelo respeito.

Ao Carnaval sucedem a Quaresma e a Campanha da Fraternidade (CF). Logo mais, Igreja estará se empenhando na integração das pessoas com deficiências em suas comunidades, famílias e sociedade. “Fraternidade e pessoas com deficência” é o tema da CF 2006, tão importante quanto as mais de quarenta já realizadas até hoje, tendo alcançado um êxito inegável até mesmo em Igrejas não católicas, em escolas e no governo.

Os foliões e carnavalescos seguem em frente em seus descaminhos. Mas, há belas iniciativas que se transformam em gestos de solidariedade, partilha e amor. Depois de 1964, ano da primeira CF, a Igreja e o Brasil são outros. Das CF’s surgiram exemplares Pastorais para acolher a criança e os menores abandonados, os soro-positivos e as mulheres marginalizadas, os surdos-mudos e os idosos. Também foram apareceram Pastorais para promover o direito à moradia e os numerosos Grupos de Fé e Política.

Tenho esperança de que haverá limites para os gastos com fantasias e bebidas, as cenas de nudismo e a violência. Temos de aprender a viver momentos de diversão condizentes à nossa dignidade de filhos e filhas de Deus. Carnaval também é tempo de moderação. Para os excessos incontidos, resta o dever da penitência, prolongada durante a quaresma, tempo litúrgico destinado à reconciliação com Deus e todos contra os quais possamos ter nos excedido nos dias momescos. A paz interior com Deus nos ajudará na superação de todas as atitudes que se opõem aos dez mandamentos e às bem-aventuranças. Depende de cada um de nós e da graça divina, que não nos abandona mesmo nos momentos mais difíceis de nossa vida.

Possamos recordar-nos com freqüência da palavra divina de Cristo: “Quando eu for erguido entre o céu e a terra, atrairei todas as coisas a mim” (Jo 12,32). A contemplação dos seus sofrimentos e de sua sintonia com a vontade de Deus Pai, nos ensine a retomar para sempre os caminhos de fidelidade e coerência com os compromissos assumidos em nosso batismo. O cristão não pode comportar-se como os pagãos.