Sair da festa

A característica que, essencialmente, torna o ser humano diferente dos outros animais é o desenvolvimento da consciência reflexiva. Devido à consciência reflexiva, o ser humano tornou-se capaz de pensar sobre sua própria existência, de perguntar-se sobre o sentido da vida e questionar o contexto de sua realidade social, religiosa, econômica, política, etc.

Ao escrever esse artigo ainda era início das oitavas da Copa do Mundo-2006, quando a nação fervilha, o verde-amarelo toma conta dos corações da criança ao ancião, somos “um só coração”. É preciso, nesse momento, questionar o contexto de nossa realidade: perdendo ou ganhando, continuaremos uma nação onde “um só coração” baterá? Voltando à nossa realidade tocaremos em vários problemas que precisam ser refletidos: os cidadãos porque temos uma certidão de nascimento, um RG ou porque desfrutamos de uma vida onde temos acesso à habitação, saúde, alimentação, educação?

2006 não é apenas para nós, brasileiros, o ano da Copa, mas de Eleições Gerais. O exercício da cidadania não é apenas votar, mas saber votar. O que podemos pensar a respeito de tudo isso? Estabelece-se uma contradição entre uma realidade ufanista, “somos um só coração” e um discurso ouvido que camufla a desigualdade, máscara a divisão e não desvenda a injustiça social. Em outras palavras, impede a tomada de consciência dos conflitos e contradições da sociedade, criando, assim, uma predisposição ao conformismo e passividade.

Que vença o Brasil! Não apenas no futebol. Que o cidadão tome consciência de sua participação política: quer nos momentos de intensa alegria de sermos os melhores no futebol, mas sobretudo que sejamos campeões no exercício de cidadania participativa.

A consciência de si mesmo ou auto-consciência confere ao ser humano a capacidade de julgar suas próprias ações, e de escolher, dentre as circunstâncias possíveis, seu próprio caminho na vida. À possibilidade que o homem tem de escolher e construir sua história damos o nome de liberdade. Nós brasileiros, precisamos retomar pela nossa liberdade a auto-consciência que não somos apenas em tempo de Copa do Mundo “um só coração”, mas uma nação, disposta a ser campeã, no exercício de nossa cidadania.