Os perigos do marxismo ateu

O “Livro Negro do Comunismo – Crimes, terror e repressão” (Stéphane Courtois, Nicolas Werth, Jean-Louis Panné, Andrzej Paczkowski, Karel Bartosek, Jean-Louis Margolin, Bertrand Brasil, Rio de Janeiro, 1999, 917 págs.) faz um balanço do amargo fruto que este diabólico regime gerou para a humanidade. Oitenta anos depois da Revolução Bolchevique na Rússia (1917) e sete depois de a União Soviética ter acabado (1997), a trajetória trágica do comunismo pode ser contabilizada, pelo número de vítimas. É a história da trágica aplicação na vida real de uma ideologia carregada de falsas promessas de igualdade e justiça que custou entre 80 e 100 milhões de vidas, com a esmagadora maioria de vítimas nos dois gigantes do marxismo-leninismo, a União Soviética e a China, além do Viet-Nan, Cuba, Cambodja, etc.

Na China, 65 milhões foram mortos pelo regime comunista, a maioria dizimada pela fome desencadeada a partir do “Grande Salto para a Frente”, o desastroso projeto de auto-suficiência implantado por Mao Tsé-Tung em meados dos anos 50. Foi a pior fome da História, acompanhada de ondas de canibalismo e de campanhas de terror contra camponeses.

Na URSS, de 1917 a 1953, ano da morte de Stalin, os expurgos, a fome, as deportações em massa e o trabalho forçado no Gulag mataram 20 milhões de pessoas. Só a grande fome de 1921-1922, desatada em grande parte pelo confisco de alimentos dos camponeses, matou mais de 5 milhões de vidas.

Na Coréia do Norte, comunista ainda hoje, a execução de “inimigos do povo” contabiliza pelo menos 100.000 mortos. Em termos proporcionais, contudo, o maior genocida comunista é o Khmer Vermelho do Camboja: em três anos e meio (1975-1979), com sua política inclemente de transferência forçada dos moradores das cidades para o campo, matou de fome e exaustão quase 25% da população.”

Os crimes do stalinismo, e a política de terror empregada por outros regimes comunistas, ficaram bem conhecidos desde o XX Congresso do Partido Comunista Soviético, em 1956, denunciados por Nikita Krushev.

Mas, é lamentável que depois de tantos sofrimentos a que foram submetidos os paises do Leste Europeu: Tchecoslováquia, Bulgária, Romênia, Hungria, Polônia, Alemanha Oriental, etc.. ainda se cogite de ter o marxismo ateu, materialista, sanguinário, totalitário… como uma ideologia para governar as nações, como acontece hoje em Cuba, Nicarágua, Venezuela, Bolívia, Equador… Isto é feito enganando-se o povo com a utopia do “paraíso marxista e comunista.

Todos os Papas da Igreja condenaram o comunismo desde que esta perversa ideologia surgiu na face da terra. Já em 1846 Pio IX a condenou solenemente no Silabo e na Encíclica “Qui pluribus’. Mais tarde, Leão XIII, na sua Encíclica “Quo Apostolici muneris” (28 de dezembro de 1878) repetiu essa condenação. Pio XI condenou severamente as perseguições dos comunistas contra os cristãos e contra a Igreja tanto na Rússia (1917) quanto na revolução mexicana de 1926 e na da Espanha em 1936.

Na célebre Encíclica de Pio XI, ”Divini Redemptoris”, de 19 de março de 1937, contra o comunismo ateu, o Papa condenou-o com todas as letras. Vejamos alguns pontos dessa condenação: “Além disso, o comunismo despoja o homem da sua liberdade na qual consiste a norma da sua vida espiritual; e ao mesmo tempo priva a pessoa humana da sua dignidade, e de todo o freio na ordem moral, com que possa resistir aos assaltos do instinto cego. E, como a pessoa humana, segundo os devaneios comunistas, não é mais do que, para assim dizermos, uma roda de toda a engrenagem, segue-se que os direitos naturais, que dela procedem, são negados ao homem indivíduo, para serem atribuídos à coletividade. Quanto às relações entre os cidadãos, uma vez que sustentam o princípio da igualdade absoluta, rejeitam toda a hierarquia e autoridade, que proceda de Deus, até mesmo a dos pais; porquanto, como asseveram, tudo quanto existe de autoridade e subordinação, tudo isso, como de primeira e única fonte, deriva da sociedade. Nem aos indivíduos se concede direito algum de propriedade sobre bens naturais ou sobre meios de produção; porquanto, dando como dão origem a outros bens, a sua posse introduz necessariamente o domínio de um sobre os outros. E é precisamente por esse motivo que afirmam que qualquer direito de propriedade privada, por ser a fonte principal da escravidão econômica, tem que ser radicalmente destruído.” (n. 10)

“Além disto, como esta doutrina rejeita e repudia todo o caráter sagrado da vida humana, segue-se por natural conseqüência que para ela o matrimônio e a família é apenas uma instituição civil e artificial, fruto de um determinado sistema econômico: por conseguinte, assim como repudia os contratos matrimoniais formados por vínculos de natureza jurídico-moral, que não dependam da vontade dos indivíduos ou da coletividade, assim rejeita a sua indissolúvel perpetuidade. Em particular, para o comunismo não existe laço algum da mulher com a família e com o lar. De fato, proclamando o princípio da emancipação completa da mulher, de tal modo a retira da vida doméstica e do cuidado dos filhos que a atira para a agitação da vida pública e da produção coletiva, na mesma medida que o homem. Mais ainda: os cuidados do lar e dos filhos devolve-os à coletividade. Rouba-se enfim aos pais o direito que lhes compete de educar os filhos, o qual se considera como direito exclusivo da comunidade, e por conseguinte só em nome e por delegação dela se pode exercer.” (n. 11)

Em seguida o Papa mostra os estragos do comunismo no México e na Rússia onde fez muitos mártires na primeira metade do século XX: “Porque, onde quer que os comunistas conseguiram radicar-se e dominar, – e aqui pensamos com particular afeto paterno nos povos da Rússia e do México, – aí, como eles próprios abertamente o proclamaram, por todos os meios se esforçaram por destruir radicalmente os fundamentos da religião e da civilização cristãs, e extinguir completamente a sua memória no coração dos homens, especialmente da juventude. Bispos e sacerdotes foram desterrados, condenados a trabalhos forçados, fusilados, ou trucidados de modo desumano; simples leigos, tornados suspeitos por terem defendido a religião, foram vexados, tratados como inimigos, e arrastados aos tribunais e às prisões.”(n. 19).

Os mesmos horrores foram praticados na Espanha, como diz o Papa:“Até em países, onde – como sucede na Nossa amadíssima Espanha – não conseguiu ainda a peste e o flagelo comunista produzir todas as calamidades dos seus erros, desencadeou contudo, infelizmente, uma violência furibunda e irrompeu em funestíssimos atentados. Não é esta ou aquela igreja destruída, este ou aquele convento arruinado: mas, onde quer que lhes foi possível, todos os templos, todos os claustros religiosos, e ainda quaisquer vestígios da religião cristã, posto que fossem monumentos insignes de arte e de ciência, tudo foi destruído até os fundamentos! E não se limitou o furor comunista a trucidar bispos e muitos milhares de sacerdotes, religiosos e religiosas, alvejando dum modo particular aqueles e aquelas que se ocupavam dos operários e dos pobres; mas fez um número muito maior de vítimas em leigos de todas as classes, que ainda agora vão sendo imolados em carnificinas coletivas, unicamente por professarem a fé cristã, ou ao menos por serem contrários ao ateísmo comunista. E esta horripilante mortandade é perpetrada com tal ódio e tais requintes de crueldade e selvageria, que não se julgariam possíveis em nosso século. Ninguém de são critério, quer seja simples particular, quer homem de Estado, cônscio da sua responsabilidade, ninguém absolutamente, repetimos, pode deixar de estremecer de sumo horror, se refletir que tudo quanto hoje está sucedendo na Espanha, pode amanhã repetir-se também em outras nações civilizadas.” (n.20)

E o Papa conclui de maneira muito forte:“É este o espetáculo que atualmente com suma dor contemplamos: pela primeira vez na história estamos assistindo a uma insurreição, cuidadosamente preparada e calculadamente dirigida contra “tudo o que se chama Deus” (cfr. 2 Tes 1,4). Efetivamente, o comunismo por sua natureza opõe-se a qualquer religião, e a razão por que a considera como o “ópio do povo”, é porque os seus dogmas e preceitos, pregando a vida eterna depois desta vida mortal, apartam os homens da realização daquele futuro paraíso, que são obrigados a conseguir na terra.” (n.22)

Este ensinamento do Papa Pio XI que viveu de perto os horrores do comunismo na Espanha, México e Rússia, pode nos mostrar toda a sua malignidade. Por isso, os cristãos, e de modo especial os católicos não podem se omitir diante do avanço da cultura marxista que cresce sobretudo nos meios formadores de opinião: universidades e mídia.


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Felipe Aquino

Professor Felipe Aquino é viuvo, pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova. Página do professor: www.cleofas.com.br e Twitter: @pfelipeaquino