Como sair delas?

O que fazer com as crises no Brasil?

A sociedade brasileira sofre com um elenco de crises

No reverso das crises estão lições importantes que precisam ser aprendidas e praticadas. A sociedade brasileira sofre com um elenco de crises. Entre elas, está a hídrica, provocada por falta de chuvas e por inadequado tratamento do meio ambiente; a crise econômica, por consequência de se seguir apenas os princípios das leis do mercado; a crise ética, com o conhecimento público de esquemas bilionários de corrupção e desrespeitos ao erário; a crise do compromisso comunitário, apontada pelo Papa Francisco na sua Exortação Apostólica Alegria do Evangelho; a crise moral, ancorada nos relativismos, no individualismo e em um entendimento estreito de liberdade, autonomia e bem-estar. Sem exagerar, convive-se com um verdadeiro caldeirão de crises.

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Apesar do peso e do enorme desafio, no horizonte está a oportunidade singular de aprendizagem e de adoção de práticas que permitam alcançar dinâmicas mais saudáveis, capazes de recuperar o tecido social. Lições precisam ser aprendidas, retomadas e praticadas na tarefa ingente de conduzir a vida privada e cidadã; construir, diariamente, a sociedade. Não são, necessariamente, lições de alta complexidade, pois partem de princípios éticos e morais muito simples, mas com incidência transformadora. São capazes de reverter os processos e vivências que deterioram instituições, culturas, e retardam, ou mesmo inviabilizam, a construção de uma sociedade igualitária.

Impressiona, entre outras dimensões, o crescimento da violência, com estatísticas que causam horror. Não se trata apenas da criminalidade que ocorre nas ruas, mas também a praticada no recôndito dos lares e inclui as perpetradas contra o bem comum, com prejuízos, especialmente, para os mais pobres. É uma urgência partilhar esse quadro desafiador composto pelas crises para que se forme um juízo a respeito dos processos que estão prejudicando a convivência social. As mudanças necessárias não são pontuais. Torna-se imprescindível buscar novas dinâmicas capazes de conduzir a sociedade rumo às práticas éticas e morais que são caminho para a necessária virada civilizatória contemporânea. Assim, será possível refletir e transformar cada instituição, grupos políticos, instâncias culturais e também confissões religiosas.

Um primeiro passo importante é que cada pessoa reconheça o quadro de crises que afeta a sociedade brasileira. Assim será possível criar um grande movimento de despertar ético capaz de fecundar a consciência moral de todos. Neste sentido, não se pode poupar esforços, nem mesmo pelo temor de parecer alarmismo. A situação é muito grave e assim precisa ser percebida. Eventuais progressos e conquistas alcançadas não podem servir para camuflá-la. Antes de se adotar as providências de incidência transformadora – as reformas que a sociedade brasileira precisa – é preciso que cada cidadão compreenda e assuma a sua parte.

A busca pela conduta honesta de todos não é apenas um aspecto a integrar a estratégia de um governo, mas dever de cada pessoa no cumprimento de suas tarefas. Precisa fundamentar as ações no contexto das famílias, das escolas, das confissões religiosas, dos segmentos todos, e na vivência da política. Superar as graves crises pode ser algo simples, um caminho natural, desde que todos partilhem um gosto, convicção e compromisso: ser honesto em tudo o que se fala, faz e constrói, no exercício de tarefas profissionais e cidadãs. Nesta direção, há também a necessidade de superar a medíocre prática de tentar se apresentar como “bom” ou “o melhor” a partir da estratégia de se destruir os outros.

É o momento de derrubar as ameaças à vida social com uma grande onda formada pela alegria e o santo orgulho de ser honesto, um remédio para curar a doença da corrupção, dos relativismos, das disputas mesquinhas, da busca egoísta pela realização de interesses próprios com prejuízos para a coletividade.

É hora de, humildemente, avaliar o quadro de crises para se alcançar lições, muitas, tantas delas, sem segredo de assimilação e prática. Lições que estão no reverso destas crises.

 


Dom Walmor Oliveira de Azevedo

O Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, é doutor em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Gregoriana. Atual membro da Congregação para a Doutrina da Fé e da Congregação para as Igrejas Orientais. No Brasil, é bispo referencial para os fiéis católicos de Rito Oriental. http://www.arquidiocesebh.org.br