7 de setembro

O que a Independência do Brasil diz ao coração do cristão?

Naquele contexto de um Brasil Colônia, a atitude do Imperador Dom Pedro I expressou o que ia no coração de todos os brasileiros: o desejo de ser uma nação soberana.

É de se perguntar se a proclamação simbólica da independência realizou, de fato, esse sonho de soberania, levando em consideração que as elites rurais permaneceram com seus privilégios políticos e focadas na exportação da matéria-prima nacional, a escravidão foi mantida, e também foram mantidos os latifúndios e o modelo de governo monárquico. Estranhamente, o Brasil indenizou Portugal pela sua independência, pagando 2 milhões de libras esterlinas, começando, ali, a dívida externa brasileira com a Grã-Bretanha, que emprestou o dinheiro. Será que foi independência ou morte?

Esses fatos que recordamos, todos os anos, na data cívica de sete de setembro, tem algum significado ao coração do cristão? Encontramos a resposta no Compêndio de Doutrina Social da Igreja da Católica, nos números 421-427, os quais tratam do “Estado e as Comunidades Religiosas”. O assunto é muito atual, pois, na defesa de um Estado Laico, alguns imaginam que se deveria limitar a liberdade religiosa que permite aos cristãos, por exemplo, engajar-se no mundo da política. Segundo a Doutrina Social da Igreja (DSI), essa liberdade religiosa é um direito fundamental.

Então, qual seria a relação saudável entre a Igreja Católica e a comunidade política? A DSI indica dois princípios. O primeiro é, justamente, o da “autonomia e independência”. A Igreja e o Estado são estruturas visíveis, mas independentes. Enquanto a Igreja está organizada para atender os fins espirituais dos fiéis, o Estado tem como finalidade cuidar e prover o bem comum temporal.

Créditos: TheYok by Getty Images/cancaonova.com

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Independência ou morte

O segundo princípio é o da “colaboração”. Igreja e Estado são independentes, mas não separados. A sadia colaboração entre eles será benéfica para o povo.

Atenção: quando a DSI fala que a missão específica da Igreja é o bem espiritual das pessoas, não exclui as outras dimensões da vida, pois sua missão abraça toda a realidade humana. Nesse sentido, vale a pena transcrever o número 426 do Compêndio da Doutrina Social da Igreja, que é muito claro: “A Igreja, portanto, pede: liberdade de expressão, de ensino, de evangelização; liberdade de manifestar o culto em público; liberdade de organizar-se e ter regulamentos internos próprios; liberdade de escolha, de educação, de nomeação e transferência dos próprios ministros; liberdade de construir edifícios religiosos; liberdade de adquirir e de possuir bens adequados à própria atividade; liberdade de associar-se para fins não só religiosos, mas também educativos, culturais, sanitários e caritativos”.

Quem sabe possamos corrigir o grito do Ipiranga. Não se trata de “independência ou morte”, mas “independência e colaboração”. É assim que construiremos uma nação, na qual reine a justiça social. E enquanto ainda existir focos de dependência e exclusão, somos chamados a promover a solidariedade com todos os que estão na periferia da história, como sempre nos lembra o Papa Francisco: “Não podemos dormir tranquilos enquanto crianças passam fome”.


Padre Joãozinho, SCJ

Padre da Congregação do Sagrado Coração de Jesus (Dehonianos), doutor em Teologia, diretor da Faculdade Dehoniana em Taubaté (SP), músíco e autor de vários livros. Autor de livros publicados pela Editora Canção Nova.

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