Natureza

O tema meio ambiente pede reflexão

As causas das agressões ao meio ambiente estão diretamente relacionadas aos pilares culturais, políticos e econômicos

A Semana Mundial do Meio Ambiente passou, mas o bom tratamento dispensado à natureza deve ser constante, deve contar com o zelo nosso de cada dia, todos os dias. Celebrar a vida é direito de todos e, neste caso, cabe atenção aos pequenos atos de dedicação das pessoas que se permitem cuidar do ambiente nos lugares da região onde moram. Parecem florescer onde estão, onde a vida precisa ser vívida e vivida. Mas é preciso mais.
Em um mundo conturbado em nossos dias o tema meio ambiente pede reflexão, nos chama à conscientização acerca das graves violações promovidas pelo homem que explora mal os bens desta terra merecendo rígida fiscalização e maior empenho dos Estados. Mas estes, por sua vez, administram mal os recursos advindos de seus cidadãos e de grandes corporações.

As causas das agressões ao meio ambiente estão diretamente relacionadas aos pilares culturais, políticos e econômicos, que demandam agregação de valores para um desenvolvimento ético, responsável e sustentável. O que se faz atualmente para resguardar a natureza é muito pouco. Por mais que governos e grandes empresas propaguem seus esforços na preservação do meio ambiente ainda mostram-se longe de colocar o tema como prioridade, talvez, pela diversidade de interesses. Os cidadãos, por seu lado, deveriam defender com grande vigor e coragem propostas de valorização e defesa da natureza.

Não há como negar a negligência do homem no domínio dos instrumentos tecnológicos nos últimos anos e na desordenada intervenção no meio ambiente. Excluindo-se os de força maior, o maior predador da natureza causou acidentes ambientais sem precedentes que poderiam ser evitados.
Recentemente nos deparamos com a triste e lamentável ocorrência de um fato que poderá vir a ser o mais grave de todos os tempos. No Golfo do México, na plataforma de petróleo da empresa British Petroleum, uma explosão deixou 11 funcionários desaparecidos e uma mancha de óleo que se espalha rapidamente pela costa dos Estados Unidos, não se sabendo, ao certo, a real extensão deste trágico acidente de conseqüências ainda não calculadas.

A partir deste gravíssimo episódio poderíamos elencar alguns acidentes anteriores entre os piores das últimas três décadas como o da Espanha, em 2002. Na ocasião, um navio das Bahamas afundou a 250 quilômetros da região da Galícia afetando aproximadamente 15 mil pássaros. A Petrobras, em janeiro de 2000, foi responsável pelo derramamento de mais de um milhão de litros de óleo na Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, provocando graves prejuízos de ordem social e econômica na localidade, bem como o vazamento de quatro milhões de litros de óleo cru de uma refinaria em Araucária, no Paraná, em julho do mesmo ano.

Há ainda o caso Exxon Valdez, no Alasca, em 1989. O vazamento de 260 mil barris de petróleo arrasou milhares de vidas marinhas. Na Rússia, a explosão de um reator da usina nuclear de Chernobyl, em 1986, deixou muitos mortos, trabalhadores feridos e crianças doentes do câncer, vítimas da radiação. E no Brasil, novamente, um acidente na Vila Socó, em Cubatão, SP, em 1984, matou 93, segundo dados oficiais; porém, extraoficialmente mais de 500 pessoas teriam ido a óbito na Baixada Santista.
Com alguns casos expostos, entre tantos outros não citados aqui, podermos apelar, uma vez mais, para que Estados, corporações e cidadãos não sejam nem fiquem indiferentes aos danos ao meio ambiente. As ações dos governos precisam ser mais eficazes com fiscalizações severas, com aplicação de recursos em saneamento básico, no controle do uso do solo, na manutenção dos recursos essenciais de modo sustentável, no conhecimento e na educação ambiental, sem deixar de alertar que a degradação do meio ambiente é um fator de risco à qualidade de vida podendo gerar mais pobreza e, conseqüentemente, miséria.

Boa vontade e a elaboração de políticas públicas justas, com gestões éticas integradoras é o desejo de uma imensa maioria. Por este motivo, há que se preservar o meio ambiente das interferências nefastas do homem chamando-o para um manejo sustentável, “urgente necessidade moral de uma nova solidariedade”, se quisermos deixar uma terra ‘recuperada’ e vida mais digna para nossos filhos e netos.
Em uma de suas mensagens sobre o tema, o Papa Bento XVI chamou a atenção para a atual degradação ambiental. Disse que esses acontecimentos “são fruto de questões relacionadas ao conceito existente de desenvolvimento e da relação do homem com seu semelhante e com a natureza.” Para o Pontífice, decidir pela realização de uma revisão profunda do modelo de desenvolvimento e refletir sobre o sentido da economia e dos seus objetivos poderão corrigir “disfunções e deturpações”. No que se refere à crise ecológica, o Santo Padre é enfático: ela é resultado da falta de projetos políticos e da busca de “míopes interesses econômicos”.

A aquisição de conhecimentos e sua reta aplicação nos projetos de conservação, obviamente, contribuirão para melhorar a vida das pessoas com a ampliação da cidadania e a diminuição dos desperdícios. Lembre-se: os recursos naturais são exauríveis, podendo se esgotar um dia se não soubermos utilizá-los de modo racional.
O cardeal Renato Raffaele Martino afirmara durante um debate na ONU sobre mudança climática, que “o conhecimento é o único recurso autenticamente inextinguível que garante um ambiente e um desenvolvimento sustentáveis; somente o conhecimento, acompanhado de um sentido ético do nosso relacionamento com o meio ambiente, pode ajudar a orientar os nossos esforços, tanto no presente como em relação às gerações vindouras.”
Bento XVI, na Encíclica Caritas in Veritate, assegura que “o desenvolvimento humano integral está intimamente ligado com os deveres que nascem da relação do homem com o ambiente natural, considerado como uma dádiva de Deus para todos, cuja utilização comporta uma responsabilidade comum para com a humanidade inteira, especialmente os pobres e as gerações futuras.”
Educar, investir no ser humano com respeito, paciência e sabedoria, pode ser o caminho viável, cabendo aos governos e sociedade a responsabilidade e o compromisso com a vida e o efetivo exercício cidadão.

Reinaldo César
Jornalista da TV Canção Nova