Brasil

Esporte e coesão nacional

A copa une o país, fazendo esquecer as diferenças

O Brasil está por entrar em campo. Toda a nação sente o arrepio, que perpassa o povo brasileiro de norte a sul, de leste a oeste. A copa do mundo une o país, fazendo esquecer momentaneamente todas as diferenças. O último censo nem fez a pergunta, por desnecessária: todos os habitantes são ao mesmo tempo torcedores da seleção.

Vivemos, portanto, um momento intenso de identificação nacional, em torno do esporte. Este momento se torna propício, para projetarmos esta experiência para o cotidiano, e confrontá-la com os verdadeiros desafios que se apresentam à nossa frente.

Salta aos olhos a importância da nação, como força convocatória para o enfrentamento dos problemas que nos são comuns. Sem a motivação que decorre da vocação de sermos uma nação, nos dispersamos na identificação de nossos objetivos, e nos dividimos nas opções dos planos e das estratégias. Daí a importância de cultivarmos, conscientemente, o que fortalece nossa identidade nacional, e também o cuidado que precisamos ter para não perdermos esta identidade, deixando que ela se dilua pela aceitação fácil e indiscriminada de estrangeirismos , que não têm nada a ver com nossas tradições, como os “challange day” ou outras frescuras que querem nos impingir.

O futebol se tornou nossa principal afirmação nacional, no contexto mundial. Tanto que nos achamos no direito de dizer, sem medo de sermos contestados, que “o Brasil é o país do futebol”. Se formos de novo campeões, ratificamos nossa convicção, caso contrário precisaremos defendê-la com novos argumentos até a próxima copa.

Aí já encontramos uma lição que o futebol pode nos dar. Precisamos de motivos para nossa afirmação nacional. E os temos, com razoável abundância. Tanto que, ao olharmos as condições naturais que privilegiam o Brasil, chegamos ao exagero de dizer que “Deus é brasileiro”. Na verdade, esta expressão traduz o reconhecimento de que não podemos nos queixar da natureza, se as coisas vão mal no Brasil é por culpa nossa, exclusivamente.

O esporte nos dá, também, a lição do trabalho de conjunto. Os jogadores são escalados para ocuparem todas as posições estratégicas. Só assim se tem condições de enfrentar a equipe adversária. De nada adiantaria, por exemplo, um jogador exímio, que faz acrobacias espetaculares, mas que não contribui para o objetivo da equipe. Quando pensamos num governo, também não basta um chefe capaz de proezas que suscitam admiração. Todas as posições precisam ser ocupadas por pessoas competentes e responsáveis. Só assim os interesses da nação serão atendidos.

A copa do mundo vai ocupar por inteiro o mês de junho, até o seu desfecho final. Para a realidade brasileira, parece mesmo um tempo de pausa. A sensação vivida nestes dias, de que a hora de entrar em campo está chegando, vai se tornar mais real e verdadeira, para nós, depois que terminar a copa. A diferença maior talvez esteja no fato de que agora delegamos as responsabilidades para os jogadores. Mas para o jogo da verdade, para o enfrentamento de nossos desafios nacionais, somos nós mesmos que precisamos entrar em campo. A pergunta que precisa ser feita é a respeito de nossa disposição de participar, e de nossa competência para fazer o que nos toca. O fato é que o resultado vai depender de cada um de nós. Ao contrário do esporte, em que ainda poderemos colocar a culpa nos jogadores ou no técnico. No jogo da nação, a responsabilidade é dos cidadãos.

Dom Luiz Demétrio Valentini